Por outra noção de renascimento - Por Lorenzo Mammí
O Outono da Idade Média é um livro de escrita tão fluente e evocativa, que é fácil esquecer sua pregnância polêmica. Em parte, a responsabilidade é do próprio Huizinga. Formado em filologia indo-europeia, pertencente a uma geração moldada pelas poéticas simbolistas, chegou à história medieval por vias transversas, mais por gosto e oportunidade do que por formação sistemática. Um tom intuitivo e rapsódico permeia o livro. Não obstante, ou talvez justamente por isso, a obra prima de Huizinga é um texto de referência fundamental, não apenas para entender o período que aborda, mas também como testemunha do clima cultural em que foi escrita. Saiu em 1919, intervindo numa questão candente da historiografia da época: a noção de Renascimento. A esse respeito, Jacob Burckhardt (A Cultura do Renascimento na Itália, 1860) estabelecera um paradigma que começava a ser questionado: para ele, a sociedade italiana dos séculos 14 e 15 produzira os primeiros "homens modernos", caracterizado ...