Carta Aberta da CNBB - Águas e Terras para a Vida e não para a Morte




Nós, representantes da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, e organismos da Igreja Católica do Regional Noroeste da CNBB, vimos por meio desta apresentar nossas preocupações e apreensões frente ao processo de ocupação da Amazônia Ocidental pelo grande capital e a implantação do PAC e da IIRSSA nesta Região.
As súplicas da tantas águas, terras e povos dos estados do Acre, Rondônia e sul do Amazonas, mesmo caladas pelo poder econômico, pela força bruta e manipulação da mídia, ressoam sem cessar. Estão presentes na lida dos pequenos agricultores e das populações tradicionais que estão sendo expulsas da terra pela política de expansão do agronegócio e dos grandes projetos de infra-estrutura. Estão presentes nas periferias das cidades, desassistidas de seus direitos fundamentais.
O que mais dói é constatarmos que todos esses megaprojetos pensados para a Região, não são demandas das populações locais e, sim, do grande capital; que esses projetos não servem a maioria da população e tampouco ao desenvolvimento local/regional. Pelo contrário, aumentarão as pressões sobre os recursos naturais, a concentração do poder político e econômico, a especulação fundiária, a migração, o conflito e a violência no campo e na cidade.
Justamente agora, quando o mundo todo discute alternativas para a crise energética e para o aquecimento global, estamos fazendo opções arriscadas, sobretudo quando se trata da construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira, Tabajara no rio Machado e da prospecção de petróleo e gás no Estado do Acre. Sabemos que existem alternativas muito mais viáveis que podem alcançar a meta energética com muito mais segurança e um custo muito menor.
Reafirmamos nossa luta, como Igreja comprometida com a vida do povo, por uma reforma agrária ampla, que respeitem as diversas culturas e ambientes; pela regularização das terras indígenas, quilombolas, ribeirinhos e demais populações tradicionais; por um novo modelo energético, descentralizado e de fontes alternativas; pela redução do preço das tarifas de energia elétrica e pelo cancelamento dos projetos de barragens na Amazônia.A terra é dom de Deus (Lv 25, 23). Toda a vida provém da terra. Terra, água, plantas e animais formam um só corpo vivo. Somos terra e somos água. Não somos mercadoria.
Carta assinada pelos participantes do Seminário das Pastorais Sociais do Regional Noroeste “Caminho de construção democrática de uma nova Amazônia”.
Treça feira, 23 de outubro de 2007

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