Emmanuelle Mignon, a "madre superiora" por trás de Sarkozy - Por Philippe Ridet


As suas instruções são claras. Nada de perfil, nada de entrevista, nada de fotos: "Isso vai de encontro à minha concepção mais elementar de Estado... Eu já recusei todos os pedidos que me fizeram". Num momento em que não faltam conselheiros do Elysée (sede da presidência) que dimensionam a sua influência em função do número de artigos publicados a seu respeito, a diretora de gabinete de Nicolas Sarkozy enumera as ofertas que ela andou recusando: "Eu disse não ao 'Le Figaro', eu disse não ao 'Le Point', eu disse não ao 'L'Express'...". Um pouco mais tarde, ela se mostra mais maleável: "Eu concordo em ajudar vocês, em relação a detalhes que precisam ser esclarecidos".

Esta discrição forçaria o respeito, não tivesse Emmanuelle Mignon, 40 anos, se exibido sob a luz dos holofotes e chamado a atenção por sua própria iniciativa, assinando diversos dos discursos controvertidos de Nicolas Sarkozy a respeito da religião: na basílica São João de Latrão em Roma, em Riad (Arábia Saudita) e perante o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif). Trata-se de uma "trilogia" explosiva que conduziu muitos laicos a temerem que Deus em pessoa tivesse se instalado num dos escritórios do Elysée. O seu caso torna-se ainda mais grave quando ela declara em entrevista à revista semanal "VSD" que a cientologia não merece a denominação de seita. Uma declaração que ela desmente, aliás, no mesmo dia da sua publicação, mas que tanto se parece com aquela proposta que ela havia apresentado, há cinco anos, sugerindo privatizar a educação nacional. "O que mais me traz prejuízos é a minha franqueza. Tenho dificuldades para fazer perífrases... E, de vez em quando, eu provoco as pessoas", confessa. Os homens políticos, os verdadeiros, a julgam com o orgulho dos profissionais: "A atividade de se expressar é uma profissão", dispara Jean-Pierre Raffarin, ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac. Apesar da sua reputação de liberal, a mulher que nós descobrimos é uma carola. Optamos então por vasculhar o seu passado. E se esta mulher diplomada da Essec (Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais) e também formada pela ENA (Escola Nacional de Administração), tendo obtido o primeiro lugar da promoção René Char, não passasse de uma adepta fervorosa das pias de água benta? Afinal, ela não é mesmo um puro produto do ensino privado? Ela não foi mesmo chefe escoteira? Ela não deu início a estudos para obter uma licença de teologia? Muitos dos seus amigos de infância não pertencem a ordens religiosas? Os seus pais, que eram simpatizantes do general de Gaulle, não participaram de uma manifestação em 30 de maio de 1968 na Avenida dos Champs-Elysées? Com isso, não faltam elementos de acusação que pesam contra ela.

O rosário que ela utiliza são as chaves USB das quais ele nunca se desfaz, e que ela leva amarradas a uma corrente em volta do pescoço. Quando Emmanuelle Mignon se desloca, ela carrega consigo o seu trabalho e a sua reputação de trabalhadora incansável. Sempre pronta para redigir uma nota, para fornecer um elenco de argumentos, para reler um dossiê. Nicolas Sarkozy vangloria a clareza da sua mente: "Ela é límpida". Assim como o Monsieur Teste celebrizado pelo escritor Paul Valéry, a burrice não é o seu ponto forte. Falsamente modesta, ela relativiza. "Eu fui uma estudante mediana. Acabei me revelando quando estudava nas escolas Sciences Po e ENA". Ainda assim, quando ela fala de alguém durante as reuniões no Elysée, isso não a impede de começar invariavelmente as suas frases com a expressão "aquele cretino de...". A tal ponto que alguns acabaram se convencendo de que esta era uma manifestação de carinho.

Contudo, foi mesmo em função da sua reputação de "melhor cérebro da República" que ela desembarcou um dia de 2002, vinda do Conselho de Estado, para assumir suas funções no ministério do Interior, então uma retaguarda da futura campanha de Nicolas Sarkozy. O primeiro encontro entre os dois foi amplamente relatado. Ela enxerga então no candidato "um profissional fora do comum", e um homem "de grande rigor". Eles formarão uma dupla perfeita. "Ela é emblemática do universo de Sarkozy", analisa a conselheira e antiga jornalista Catherine Pégard. "Ela também gosta de quebrar os códigos".

No ministério do Interior, Emmanuelle Mignon apaixona-se pelo problema da dupla pena (pela qual um estrangeiro em situação legal que cometer um crime pode ser condenado a cumprir uma pena de prisão e, depois, ser expulso do país). Ela recebe famílias de condenados, ou os seus representantes. E ajuda a resolver certas paradas. Será por caridade cristã? "Não", diz a conselheira. "Simplesmente não era necessário dar mostras de rigidez. A lei, quando quer, pode ser rígida demais". Apesar da sua aparência fora de moda, ela se integra ao grupo dos conselheiros do ministro do Interior, que apresentam um visual de jovens modernos e antenados. Eles se divertem com os seus penteados: um dia ela surge com um "micro coque" de uma outra era, no outro com um corte "em bico de pato", e num outro ainda, com os cabelos totalmente bagunçados. Ela aprecia a sua alegria e sua inteligência, mas não compartilha seus códigos. Enquanto eles ficam bebendo mojitos no Buddah Bar, ela foge para se dedicar a passeios na montanha: "Eu gosto da auto-superação e da solidão".

Ao se tornar diretora de estudos da UMP (o partido governista, de direita), no final de 2004, ela demite metade da equipe anterior, dedica-se ao projeto do candidato, organiza os colóquios do partido, articula uma vasta rede de intelectuais. Durante a campanha presidencial, na Rua d'Enghien, na sede do partido, a luz do seu escritório é sempre a última a ser apagada. De manhã, quando eles ligam os seus computadores, os conselheiros descobrem os seus e-mails, enviados por volta das 4h ou 5h da madrugada.

A vitória na eleição a deixou amarga. "A bela equipe do ministério do Interior não resistiu à brutalidade da campanha", diz. "A política incentiva os enfrentamentos de egos". Ela paga pelas suas escolhas. Ela sonhava tornar-se ministra ou conselheira econômica, no mínimo. Aqui está ela, muito aquém das suas esperanças, nomeada diretora de gabinete. "Ela merecia coisa melhor", se queixa um amigo. Fanfarrona, no dia da posse de Nicolas Sarkozy no Elysée, ela comenta: "Se for para me dedicar a cuidar das borrachas e dos lápis, eu não ficarei". Ela desfruta uma pequena vingança: como responsável do orçamento do Elysée, ela faz inúmeros cortes nas despesas - mas não deixa de outorgar um aumento substancial ao chefe do Estado. Ela dá ordens para ligar o sistema de calefação do palácio o mais tarde possível, naquele inverno: "Eu o acenderei da mesma forma que na minha casa. O mais tarde possível".

Ela sente algum rancor? Ela é severa nos primeiros momentos do sarkozysmo. "O 'big bang' era possível a respeito do pacote fiscal. A gente quebrou a cara, nós não fomos tão longe quanto deveríamos", avalia Emmanuelle em conversa com alguns jornalistas em outubro. Diante deles, ela fustiga "a visão de prefeito" de um Claude Guéant (atual secretário geral do Elysée) e os "aiatolás da despesa pública". As paredes do Elysée ressoam por conta dos seus conflitos com o secretário geral, ou ainda com o principal redator dos discursos do presidente, Henri Guaino. Muitos se queixam da sua "rigidez", da sua "rispidez". Ela concorda: "A suavidade não é a minha principal qualidade".

Mas ela tem uma outra qualidade, não menos importante: a fidelidade a toda prova para com Nicolas Sarkozy. Em troca, e porque ele detesta conflitos, o chefe do Estado amplia o raio das suas competências. Além de cuidar "das borrachas e dos lápis", ela passa a assumir responsabilidades relativas aos setores do audiovisual e das instituições, e também na questão dos cultos. A carga torna-se pesada. Desde então, ela se tornou mais amena. No Elysée, os conselheiros passaram a elogiar suas competências, "para acrescentar óleo nas engrenagens". De fato, ela se tornou secretária geral adjunta, dizem no palácio.

Aqui está ela, portanto, promovida ao status de estrela. Ela também teve direito a um batismo proporcionado pela mídia, o qual se revelou tão polêmico quanto para a maior parte dos outros conselheiros. Catalogada como "madre superiora" do presidente, ela se vê obrigada a agarrar pelos chifres o touro dos meios de comunicação. Contra a sua vontade, e em detrimento das suas reais funções: "Quando era pequena, eu já era assim. Eu começava sempre dizendo 'não', e então acabava dizendo 'está bem'.

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