Hillary e Obama Discutem Temas Religiosos
Os pré-candidatos democratas à Casa Branca, Hillary Clinton e Barack Obama, discutiram temas relacionados a suas crenças religiosas e como elas influenciam suas propostas políticas em diversos fóruns.
Tanto Hillary quanto Obama responderam a questões sobre fé e religião tanto na sua vida particular quanto no seu discurso político e em um possível mandato presidencial. O Fórum da Fé na Vida Pública no Messiah College, perto de Harrisburg, Pensilvânia, foi transmitido pela TV norte-americana e atraiu a atenção dos eleitores do Estado a apenas oito dias das primárias democratas locais, em 22 de abril. No evento, os pré-candidatos responderam a questões sobre a presença de Deus em suas vidas e quão freqüentemente eles lêem a Bíblia, além de temas polêmicos como aborto, abstinência e os direitos humanos dentro do contexto da religião. Hillary foi questionada sobre se a vida começa na concepção alegação muito defendida pelos críticos do aborto como prova de que qualquer interrupção na gravidez é determinar o fim de uma vida. “Eu acredito que o potencial da vida começa na concepção. Para mim, também não é somente sobre uma vida em potencial. É sobre as outras vidas envolvidas... Eu concluí, depois de uma grande preocupação e busca em minha própria consciência e coração ao longo de muitos anos, que indivíduos precisam ser responsabilizados por tomar esta profunda decisão”, afirmou Hillary. Para a senadora, deixar a decisão sobre o aborto para o governo seria uma “intrusão” insustentável no “tipo de sociedade aberta” pregada nos Estados Unidos. Hillary acrescentou ainda que o aborto deveria continuar sendo legalizado e seguro, mas disse que também deveria continuar “raro”.
A mesma pergunta foi feita a Obama, que entrou no fórum após a saída de Hillary. Também cauteloso, o senador disse que não sabia a resposta. “Isso é algo sobre o qual eu acho que não cheguei a uma resolução firme. Eu acho que é muito difícil saber o que isso significa, quando a vida começa. É quando as células se separam? É quando a alma surge?”, esquivou-se. “O que eu sei, como disse antes, é que há algo extraordinariamente poderoso sobre a vida em potencial e isso tem um peso moral que nós temos de considerar quando debatemos o assunto”, completou Obama.
Descoberta da religião
Hillary diz-se metodista. No fórum, ela afirmou que sentiu o presente de Deus em sua vida e que ela toma decisões sobre temas morais difíceis como o aborto ou o tratamento a supostos terroristas depois rezar, contemplar e estudar. “Eu não pretendo nem acreditar que eu saiba as respostas para muitas destas questões. Eu não sei”, afirmou Hillary. Uma das questões mais difíceis enfrentadas pela senadora foi por que Deus permite que pessoas inocentes sofram. Hillary disse que isto foi tema de muito debate por gerações e acrescentou: “Eu não sei. Mal posso esperar para perguntar a ele”. Hillary também teve de responder se acreditava que Deus queria que ela fosse presidente dos Estados Unidos. Cautelosa, ela preferiu dizer que não presume nada em relação a Deus e que acredita que Abraham Lincoln (presidente dos Estados Unidos entre 1861 e 1865, defendeu a unidade do país em plena Guerra da Secessão entre o norte e sul) fez bem em não agir como se Deus estivesse do seu lado. “Eu poderia responder de forma persuasiva, mas desonesta e dizer, bem, nós vamos descobrir. Na verdade, nossa missão deveria estar no lado de Deus”, respondeu a senadora. Obama, membro da Igreja Batista da Trindade Unida em Chicago, enfrentou mais uma vez a polêmica dos comentários controversos de seu ex-pastor Jeremiah Wright, autor de sermões nos quais criticava os Estados Unidos.
Assim como fez em seu discurso sobre a questão racial, Obama afirmou que as palavras do pastor não condizem com sua campanha presidencial e reiterou a sua condenação aos comentários de Wright. Contudo, Obama manteve-se fiel defensor da sua igreja: “Pastores são imperfeitos. Certamente, os membros [da igreja] são imperfeitos. Eu, como alguém que está sentado no banco como um pecador, sou imperfeito. E, você sabe, isso não denigre o que a igreja deveria ser, que é um meio de louvar Deus e proclamar as boas notícias”.
Republicano
O provável candidato republicano John McCain recusou o convite para ir ao fórum. Mais cauteloso em afirmar questões de religião em sua campanha, sua ausência foi motivo de estranhamento entre os eleitores republicanos. Nas eleições presidenciais de 2004, os protestantes evangélicos religião de um a cada quatro norte-americanos adultos representaram um grande grupo de apoio ao atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, também republicano. Mesmo assim, McCain conta com apoio entre o grupo. O ativista evangélico David Gushee, professor de teologia na Universidade Mercer, em Atlanta, elogia o senador porque ele tem combinado uma firme oposição ao aborto com apreensão para as alterações climáticas e a condenação da tortura. “Isso é o que é tão fascinante sobre a sua ausência. Ele é o único que aparentemente está menos confortável falando sobre questões de fé e de como a sua fé poderia influenciar na percepção de sua figura pública e isso [fórum] daria a chance de fazê-lo”, disse Gushee.
Obama disse que frustração leva trabalhadores à religião e ao preconceito. Hillary acusa-o de desrespeitar os crentes.
O debate deste domingo entre os dois candidatos democratas às eleições norte-americanas centrou-se numa palavra: bitter. Triste, amargo, amargurado são alguns dos sinónimos deste adjectivo que Obama atribuiu às classes trabalhadoras numa acção de campanha há alguns dias atrás. Hillary não esqueceu o assunto e trouxe-o de novo para o debate, transmitido ao vivo pela CNN, apelidando de “elitistas, inadequadas e condescendentes” as declarações do adversário. Obama tinha atribuído a essa amargura o facto de as pessoas se agarrarem a questões como religião, armas e preconceitos para com os que são diferentes. Hillary disse no debate que Obama não respeita as pessoas que buscam conforto na religião. “O Partido Democrata foi visto como um movimento que não entende e não respeita os valores e o modo de viver de muitos cidadãos americanos”, afirmou, e foi mais longe, garantindo que sempre sentiu “a presença de Deus” na sua vida. A religião exerce um papel crucial na vida política americana, e uma esmagadora maioria de eleitores admite que nunca votaria num candidato ateu. Obama admitiu ter pronunciado declarações infelizes, “como acontece frequentemente numa campanha presidencial”. Porém, insistiu, “a religião constitui um oásis quando as outras coisas não vão bem”. Ainda assim, o democrata garantiu que não teve a intenção de criticar os crentes, mas reafirmou que as pessoas atingidas pela crise sentem “amargura”, pois têm a sensação de que o governo não lhes dá ouvidos. O democrata disse ainda ser um “cristão devoto” e recordou que começou o seu percurso ao trabalhar directamente com as igrejas de Chicago. “Nenhum democrata em nenhuma campanha dos últimos anos fez mais para tentar chegar às igrejas e falar de religião como eu”, disse ainda Obama.
Fonte: http://diario.iol.pt; http://www1.folha.uol.com.br
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