Imigrantes fazem crescer religiões - por Patricia Jesus
Movimentos religiosos minoritários em Portugal estão a expandir-se à conta de estrangeiros que escolhem o país para viver, como é o caso da Igreja Ortodoxa ou dos muçulmanos. Mas o DN explica também como movimentos evangélicos conquistam novos crentes, assentes numa mensagem religiosa mais competitiva, que enfatiza as suas virtudes e soluções.
A primeira vez que Teresa Durão entrou num templo da Igreja Universal (IURD) chorou tanto que os sapatos ficaram molhados. "Nessa noite caí na cama e adormeci. Acho que isso não me acontecia desde a infância." Passou a frequentar as reuniões e o negativismo que a tinha arrastado para uma depressão profunda foi desaparecendo. Em 2003 foi baptizada. A IURD é uma das igrejas que mais cresceram nos últimos anos, mas no geral, as minorias religiosas estão a crescer em Portugal.
"Não me atrevo a fazer uma avaliação quantitativa mas sabemos que estão a crescer", diz a socióloga da religião Helena Vilaça. Os dados que existem são os dos censos de 2001, que segundo os especialistas são pouco fiáveis e provavelmente estão abaixo da realidade.
Um inquérito internacional feito em 2006 revelou já números um pouco acima para todas as igrejas, mesmo a católica. "Esse crescimento continua, no entanto, a ser um processo lento e cada vez mais disperso por vários grupos", acrescenta. Além das igrejas protestantes tradicionais, que estão no País há décadas, surgiram novas comunidades com origem no Brasil, muito populares. Do Brasil e de África vieram também cultos espíritas, e do Leste um reforço do número de ortodoxos, por exemplo.
Há duas explicações para o crescimento das minorias: há grupos que se expandiram devido à imigração, como a Igreja Ortodoxa ou a comunidade islâmica. Há outros em que, embora as migrações - sobretudo do Brasil e de África - tenham um papel importante, há muitos portugueses a converterem-se, como é o caso dos evangélicos. "Há alguns exemplos, como a Igreja Evangélica Maranata, que chegou a Portugal trazida por brasileiros, e que hoje os fiéis são maioritariamente portugueses", lembra Helena Vilaça.
A especialista explica que estes movimentos, que enfatizam a importância dos dons do Espírito Santo, geralmente "publicitam melhor os seus produtos, se é que podemos falar assim". Ou seja, são mais competitivos. "Há um discurso vencedor, com ênfase nas soluções" e isso resulta, sobretudo em tempos de crise, acrescenta.
Pedro, que frequenta a IURD desde os anos 90, admite que muitas pessoas chegam à procura de soluções e depois ficam pela parte espiritual. A organização é um exemplo de sucesso: chegou a Portugal há 20 anos e nos maiores eventos consegue juntar mais de 40 mil pessoas. Mas no campo protestante, ou evangélico, reina a diversidade, lembra Fernando Soares Loja, vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa e representante da Aliança Evangélica. As igrejas mais tradicionais, por exemplo, estão a crescer a um ritmo mais lento.
O sociólogo das religiões Moisés Espírito Santo nota que as minorias cristãs têm tendência a renovar-se ou a crescer desde que não sejam perseguidas, como acontecia antes do 25 de Abril. Mas mesmo depois da revolução, recorda outro tipo de perseguição. "A classificação de um culto como seita é um atentado à liberdade religiosa porque marginaliza", argumenta, lembrando que o termo foi muito usado nos anos 90.
Para o sociólogo, os cultos cristãos crescem à custa da "desagregação do meio católico". "Cerca de 80% dos portugueses identificam-se como católicos, mas é uma designação cultural. Segundo números da própria Igreja só 20% são praticantes. É quase um grupo minoritário. E um campo enorme de conversão a outras religiões, que oferecem uma solidariedade muito atractiva nos meios católicos", conclui.
Foi assim com Teresa Durão, que vinha de uma família católica. "A entrega a Jesus, a experiência de viver a minha fé, encontrei-a na IURD", explica. No entanto, o seu "renascimento espiritual" não foi bem aceite por família e amigos. "A posição mais comum foi pensarem que tinha enlouquecido e que me ia passar. Mas com as mudanças que fiz na minha vida veio o respeito", acrescenta.
Helena Vilaça explica que a diversidade é também uma consequência da modernidade. Por um lado, favorece o individualismo, cada um sente-se livre para fazer a sua opção sem o constrangimento de permanecer na religião dos pais ou maioritária. Por outro, favorece a solidão, e surge a procura da comunidade, neste caso religiosa.
Fonte: http://dn.sapo.pt
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