Lucas Figueiredo lança Olho por olho – Por Carlos Herculano Lopes
Há algum tempo, Lucas Figueiredo, um dos jornalistas mais premiados do país, tomou uma decisão corajosa: deixar o exercício diário da profissão para se dedicar inteiramente aos seus livros. Encorajado pelo sucesso alcançado por seus livros de reportagem – Morcegos negros (2000), Ministério do silêncio (2005) e O operador (2006) –, ele mergulhou em outro projeto ambicioso: escrever Olho por olho: os livros secretos da ditadura. Numa linguagem clara e objetiva, ele conta como se deu um embate silencioso entre os opositores da ditadura e aqueles que a apoiavam, em torno de dois livros sobre o período. Depois da publicação de Brasil: nunca mais, em 1985, no qual foram contadas as atrocidades cometidas pela ditadura militar que governou o país durante 21 anos, setores extremistas das Forças Armadas, sob a liderança do então ministro do Exército general Leônidas Pires Gonçalves, se viram na obrigação de dar o troco e produziram um calhamaço de mais de 1 mil páginas, Orvil (livro ao contrário), com o qual também pretendiam não só dar sua versão sobre aqueles acontecimentos sombrios, como tentar “desmascarar” a esquerda. Para isso, deram ao projeto o nome de Livro negro do terrorismo no Brasil. Só que o trabalho, que envolveu setores da inteligência do Exército, só ficou pronto em 2007 e não chegou a ser publicado, rendendo apenas 15 cópias, que se tornaram um segredo militar. Em um golpe de sorte, por meio de uma fonte militar, Lucas Figueiredo teve acesso a uma delas, quando estava terminando de escrever Ministério do silêncio, no qual conta a história do serviço secreto brasileiro. Resolveu então relatar em seu novo trabalho a história dos dois livros, Brasil: nunca mais, do qual um dos principais mentores foi o então cardeal de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns; e do Orvil. Entre as surpresas que Lucas Figueiredo encontrou, depois de revirar o calhamaço produzido pelo Exército, foi a confissão inédita, feita pelos próprios militares, da morte de 24 presos políticos, “desconhecidas até mesmo pelos opositores da ditadura”. A revelação do conteúdo e do processo de elaboração do chamado Livro negro do terrorismo no Brasil rendeu série de reportagens publicadas no Estado de Minas, que deu a Lucas Figueiredo o prêmio Esso de Reportagem de 2007. Como jornalista investigativo, Lucas acredita que o que veio à luz até hoje sobre os chamados anos de chumbo ainda é pouco e que muito deve ser revelado com a abertura dos arquivos. “A grande questão, que continua em segredo, é saber o que realmente houve com cerca de 135 outros presos políticos, incluindo os da guerrilha do Araguaia”, afirma Lucas Figueiredo.
Olho por olho: os livros secretos da ditadura
Lançamento do livro de Lucas Figueiredo, terça-feira, 04/08/09, a partir das 19h30, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Projeto Sempre um papo. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br.
Comentários