Projeto resgata história das igrejas de Castelo Região Sul RJ - Por Rosângela Venturi

Igreja da localidade de Mundo Novo, erguida na década de 1930 em Castelo

Uma pesquisa minuciosa pretende recuperar a história das 74 igrejas católicas de Castelo, Sul do Estado do RJ, município cuja população é formada, em sua maioria, por descendentes de imigrantes italianos. O projeto vai resultar numa mostra itinerante de fotos e documentos, e também num livro.

"Além de resgatar a memória das comunidades, a proposta é incentivar a preservação dos templos, alguns já descaracterizados, e fomentar o turismo rural", destaca a secretária municipal de Cultura e Turismo, Lúcia Ambrosim.
A pesquisa começou em maio e deve terminar até março de 2010. A equipe técnica do projeto é formada pelos historiadores Marcos Balbino, Maria Marinete Fazolo Genovez e Hugo Casagrande Andrade. Marcos explica que antes da publicação do livro, será montada uma exposição para que as informações sejam compartilhadas com as comunidades envolvidas. "Acreditamos que a partir do conhecimento e da valorização de sua própria história ocorra o fortalecimento da identidade local", frisa. Os pesquisadores têm como fonte principal o relato oral de moradores antigos aliado a fotos e documentos.

Curiosidade
Conforme os historiadores, havia sempre uma mobilização muito grande das comunidades para a construção de seus templos religiosos, o que desencadeava até brigas entre as famílias. Uma curiosidade diz respeito à construção da primeira igreja de Limoeiro. As famílias de colonos italianos chegaram à localidade em l888. "Devido à ausência de uma capela e de um cemitério, os colonos ameaçaram abandonar a região, pois era inadmissível para um povo dotado de extrema religiosidade continuar em um local onde não podiam participar de missas e nem mesmo enterrar seus mortos. Para resolver o impasse, um fazendeiro construiu o cemitério e uma pequena capela de madeira, adotando como primeiro padroeiro São Sebastião", relata Balbino.

Povoamento
O processo migratória se consolidou na região das "Serras do Castello" no final do século XIX. Daí se originaram diversas comunidades que hoje compõem a configuração política e administrativa do município, explica Marcos. "Em função da origem dos imigrantes e da própria história de colonização da região, as comunidades organizaram-se em torno dos templos religiosos, transformando-os em espaços de sociabilidade e perpetuação de seus valores culturais", diz. Isso explica a existência de tantas igrejas em Castelo.

Igrejas eram o centro da comunidade

De acordo com os historiadores, a religião teve papel fundamental na adaptação dos colonos ao novo mundo. "A construção das capelas, campanários e sinos, constituíram a essência de toda a vida e de todo o universo do imigrante italiano em sua nova pátria", frisa Balbino. Conforme acrescenta, a religião é que permitia aos imigrantes encontrar significado na experiência pela qual estavam passando, apesar de todas as dificuldades encontradas. "Para o imigrante italiano a religiosidade era algo muito particular, especialmente para uma população camponesa e em sua maioria analfabeta, que, ainda sem as balizas de referência para pautarem seus esquemas de pensamento e de ação, necessitavam da religião para se apoiarem enquanto passavam de sua cultura de origem para uma nova realidade", assinala. Ao resgatar essas histórias, a intenção é trabalhar também a auto-estima das comunidades e tornar a própria memória um atrativo à visitação, explica Lúcia Ambrosim, secretária de Cultura e Turismo. "O projeto vai ajudar a implementar o turismo religioso, uma de nossas vocações", frisa.
Saiba Mais

As pesquisas começaram em maio. As chuvas do começo do ano prejudicaram o cronograma. Até o momento cinco comunidades foram visitadas. A previsão é concluir o levantamento até março de 2010. O material será transformado numa mostra itinerante e, posteriormente, registrado em livro. 75% dos cerca de 32 mil moradores de Castelo têm ascendência italiana, com religião predominantemente católica. Os imigrantes italianos chegaram à região no final do século XIX. Até a vinda dos imigrantes italianos praticamente não existiam templos religiosos no interior do município. No geral, as igrejas do interio têm como predominância uma base arquitetônica românica, advinda do estilo predominante na Itália. São características do estilo românico: a construção de paredes maciças, pilares muito grossos que sustentavam arcos redondos e teto abobadado, janelas pequenas, interior pouco iluminado, predominância das linhas horizontais. A parte ornamental, como os detalhes, pinturas e acabamentos, segue o mesmo formato, incluindo características clássicas que também são comuns em toda a Itália. O resultado de cada construção variou de acordo com a possibilidade financeira de cada comunidade, assim como a disponibilidade de artistas e artesãos presentes.

Fontes: http://gazetaonline.globo.com;/ Secretaria de Cultura e Turismo, IBGE

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