Cresce número de professores brasileiros no exterior - Por Larissa Leiros Baroni


Maria Alice Gomes de Andrade Lima trocou, por seis meses, a sala de aula da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), onde é professora associada, pela Universidad de Valladolid, na Espanha. Lá, como docente-visitante, teve que se adaptar às regras da instituição, o que exigiu mudanças na metodologia e cronograma de aula aos quais estava acostumada. Mas por outro lado, todo o sacrifício para adaptação parece ter valido a pena. A professora afirma que a experiência na Europa alavancou o currículo dela. "Dizer que fui professora na Europa faz grande diferença. Sempre que me inscrevo para determinados editais, a experiência tem peso no processo de avaliação", diz Maria Alice.

O intercâmbio, no entanto, não fazia parte do planejamento de carreira da professora da UFPE. "A princípio, a opção era seguir em direção ao pós-doutorado. Mas o acordo de dupla titulação entre as universidades e o convite do reitor para participar da seleção do programa me fizeram mudar de rumo", conta ela. Além de dar aula para a graduação e a pós-graduação, a professora também ficou responsável pela organização de um evento cultural sobre o Brasil. O caminho seguido por Maria Alice é cada vez mais comum entre os docentes brasileiros. Em 2000, 2.018 professores brasileiros recorreram a bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para lecionar fora do País. Já em 2008, o número de docentes que embarcaram para o exterior com benefícios do governo chegou a 3.320, crescimento de 64,51%.

Para a presidente do FAUBAI (Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais), Suzana Queiroz de Melo Monteiro, a oportunidade deveria fazer parte da formação de qualquer professor, independente da área em que atua. "É uma forma de o próprio docente rever sua atuação em sala de aula e conhecer as técnicas e metodologias utilizadas no exterior", afirma Suzana. Os impactos da experiência não se refletem apenas no desenvolvimento do professor. "Também pode estreitar o relacionamento entre instituições brasileiras e estrangeiras a partir da abertura de portas para futuros projetos conjuntos", diz ela.

A assessora de Relações Internacionais da UCS (Universidade Caxias do Sul), Luciane Stallivieri, partilha da opinião de Suzana e afirma que os ganhos sociais e econômicos do intercâmbio atingem quatro categorias: pessoal, educacional, institucional e nacional. "Ao mesmo tempo em que o professor tem a oportunidade de desenvolver sua rede de contatos, pode adquirir novos conhecimentos e informações que agreguem qualidade a seu programa de ensino, além de contribuir para a visibilidade da instituição em que atua", declara ela.

Na opinião de Luciane, a mobilidade docente tem de andar mais rápido. "Lógico que conhecimento técnico e didática são fundamentais, mas a experiência interfere direta e indiretamente na qualidade da aula. Para a formação de cidadãos multiculturais, os professores não podem se restringir a informações locais", explica ela. "O professor precisa enxergar essa necessidade, buscar essa exposição e trazer a experiência global para dentro da sala de aula", acrescenta Luciane.

Oportunidades

Além dos tradicionais programas de professor visitante, os docentes brasileiros também podem optar pelos cursos de doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado no exterior. Há opções para as mais variadas áreas, bem como para profissionais dos mais diversos níveis educacionais. Apesar disso, a presidente do FAUBAI garante que a maioria das oportunidades está direcionada aos professores com título de mestre e doutor. "Quanto maior a qualificação, melhor as possibilidades de aprovação nos processos seletivos, que geralmente são bastante concorridos", diz Suzana.

Quando se trata da oportunidade de lecionar em universidades estrangeiras, as exigências são maiores. De acordo com Luciane, além do domínio do idioma do país estrangeiro, são cobrados dos candidatos trajetória sólida e produtiva na pesquisa - com produção e publicação de estudos - e domínio de comunicação intercultural. "Os professores têm de entender a dinâmica da outra cultura para garantir o sucesso da experiência", afirma a assessora da USC.

A duração da temporada no exterior também é variável. Enquanto algumas iniciativas prevêem visitas de um mês, outras estabelecem estadias de até um ano. "Isso depende exclusivamente do projeto que o professor brasileiro vai desenvolver. Se são só palestras ou conferências, a permanência é menor. No entanto, se vai desenvolver projeto de pesquisa ou mesmo dar aula, o programa tem duração mais longa", afirma Luciane.

Aos professores interessados em buscar oportunidades de intercâmbio, a assessora da UCS recomenda duas vias de acesso. A primeira é a consulta de oportunidades dentro da própria instituição em que atua. "A Universidade Caxias do Sul, por exemplo, mantêm mais de 250 acordos bilaterais com entidades estrangeiras, com clausulas que prevêem a mobilidade de docentes", exemplifica ela. Para Luciane, no entanto, as alternativas ainda são muito restritas. "Apesar de a internacionalização dos centros de ensino do País ter acelerado nos últimos anos, são poucas as instituições que têm estrutura para esse tipo de mobilidade", lamenta ela.

Caso a universidade brasileira não mantenha nenhum programa, a saída é partir para agências de fomento. No Brasil, além da Capes, é possível recorrer também ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e às FAPs (Fundações de Amparo a Pesquisa). Tais entidades oferecem diversos programas de bolsas, que também incluem alternativas para docentes passarem temporadas fora do Brasil - seja por meio da participação de eventos internacionais, da realização de pesquisas ou até da preparação de aulas, palestras e seminários.

Há ainda as agências de fomento internacionais. "Por exemplo, se o país de interesse é a Alemanha, o ideal é consultar o DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). Oportunidades na França podem ser encontradas no CampusFrance. Já os programas de bolsas no Reino Unido podem ser encontrados no British Council", cita Luciane, que afirma que todas essas entidades possuem escritórios representativos no Brasil. Suzana cita ainda a Comissão Européia como fonte de pesquisa para os professores que queiram ir para a Europa.

Se a opção for pelos Estados Unidos, é possível recorrer à Comissão Fulbright. Segundo o diretor da agência no Brasil, Luiz Valcov Loureiro, há diversas modalidades de bolsas para docentes brasileiros interessado em lecionar em universidades norte-americanas. "Além de dois programas especiais, voltados para profissionais das áreas de Antropologia, Sociologia e Direitos Sociais, docentes brasileiros das mais variadas áreas podem atuar nos colleges americanos e jovens professores de inglês podem ensinar português nas escolas americanas", diz ele.

Os benefícios oferecidos aos participantes, de acordo com Loureiro, podem variar de US$ 1.500 a US$ 5.000 mensais. "Muitos dos programas incluem passagens aéreas de ida e volta e acomodação", explica Loureiro, que acredita que o valor da bolsa é mais do que suficiente para cobrir todos os gastos que o professor terá em solo americano. Para ele, o objetivo é desenvolver indivíduos e usufruir das ciências e competências brasileiras nos Estados Unidos. "Professores têm de estudar sempre porque senão morrem intelectualmente. E o intercâmbio abre perspectivas, amplia entendimentos e conhecimentos", defende ele.

Estar atento às noticias do meio acadêmico, bem como manter relacionamentos com profissionais de diversos países, também pode render bons frutos. É o que sugere a presidente do FAUBAI. "Há muitas universidades estrangeiras que, assim como as brasileiras, realizam processos seletivos isolados para a contratação de professores visitantes", diz Suzana. Além disso, segundo ela, ter um contato com a instituição internacional pode facilitar a aproximação.

Foi o que aconteceu com a professora do Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Christiane de Arruda Rodrigues. Em congresso internacional realizado no Brasil, ela conheceu um professor da Universidade do Texas e se propôs a fazer intercâmbio de quatro meses na instituição estadunidense. "Já estava em busca de auxílio para realizar intercâmbio, experiência que ainda não tinha vivido, mas dependia da aprovação do centro de ensino dos Estados Unidos para conseguir a bolsa da Comissão Fulbright", conta Christiane.

Além de atuar no laboratório da Universidade do Texas, em Arlington, Christiane teve a oportunidade de contribuir com a orientação de estudantes de pós-doutorado, doutorado e mestrado das mais variadas nacionalidades. A professora também realizou seminários e palestras sobre o sistema educacional e a cultura brasileira. "A vivência agregou muito para a minha carreira. Pude verificar a metodologia e a sistemática de laboratórios de pesquisa de ponta e assistir aulas da pós-graduação, sem contar as informações e os conhecimentos adquiridos durantes as palestras assistidas", lembra a professora da Unifesp.

Planejamento da viagem

Para colher frutos do intercâmbio, Luciane enfatiza a necessidade de planejamento. "A programação deve ser realizada antes, durante e depois do embarque", resume ela. Segundo Luciane, o primeiro passo se refere ao conhecimento prévio do país e da universidade de destino. "Buscar tais informações pode evitar que um possível choque cultural atrapalhe o rendimento do programa e frustre o intercambista", explica ela.

Em seguida, a assessora da UCS recomenda que os professores planejem a multiplicação de seus conhecimentos no exterior. "O ideal é sair do Brasil já com um projeto de atividades bem elaborado, seja para realizar pesquisas, seja para ministrar palestras, seminários ou aulas", aconselha Luciane. Na opinião dela, essa fase é fundamental para que o professor não perca tempo para se organizar ou se adequar à nova cultura.

Os benefícios do intercâmbio não acabam, no entanto, com o retorno ao Brasil. Luciane destaca a necessidade e o compromisso do professor em expandir sua experiência para seus alunos e para a instituição de origem. "É preciso estruturar uma agenda de devolução, com organização de pequenos seminários sobre tal experiência para multiplicar os resultados", afirma ela. É o que Christiane tem feito desde que retornou dos Estados Unidos, em fevereiro de 2009. "Tento compartilhar a experiência com meus alunos, alerto-os da importância de seguir parte dos estudos no exterior", conta ela.

Fonte: http://www.universia.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

Por que o Ocidente despreza o Islã