Geografia da Religião – perspectivas e abordagens - REVER
Com o apoio da livraria CORTEZ, foi lançado o novo número da Revista Eletrônica de Estudos da Religião
REVER.
Esta revista faz parte do curso de Pós Graduação em Ciências da Religião da Pontificia Universidade Católica de São Paulo e é coordenada pelo Prof. Dr. Frank Usarski.
A sessão temática desse número foi organizada por Sylvio Fausto Gil Filho, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná.
A Revista de Estudos da Religião – REVER, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, abriu uma oportunidade de diálogo com a pesquisa em Geografia da Religião através de núcleos de pesquisa que fomentam a produção científica na área. Mais especificamente, do Núcleo de Estudos em Espaço e Representações (NEER), o Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER) e o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC). De certo modo, a Geografia da Religião experimenta um renascimento no contexto do debate entre os geógrafos brasileiros no início deste século XXI, em grande parte devido à “virada cultural” e à “virada linguística” no movimento da Nova Geografia Cultural no Brasil.
Atualmente, algumas tendências são discerníveis na Geografia da Religião: parte dos geógrafos a considera como tema da Geografia Cultural e se concentra nas abordagens geradas no interior da própria disciplina; outros pendem mais para uma autonomia como subdisciplina da Geografia Humana com métodos e abordagens próprias, em um diálogo maior com outras disciplinas que pesquisam o fenômeno religioso.
A sessão temática desse número demonstra as possibilidades teóricas e de operacionalização da pesquisa em Geografia da Religião nesse contexto. As espacialidades e territorialidades do fenômeno religioso revelam a ruptura qualitativa da religião, a prática institucional e o sentido em um sistema simbólico onde circula o poder. O resgate de problemáticas em Geografia da Religião e seu redimensionamento teórico-metodológico enquanto representações consubstanciadas no cotidiano revelam, também, o processo de desconstrução recente das referências tradicionais na ciência geográfica como um todo. Assumimos a tese de que o fenômeno da religião se realiza como espaço estruturado e estruturante em sucessivas espacialidades e territorialidades, captando a pluralidade empírica e a unidade de sua gênese simbólica.
O texto “Em Contato com o Espaço do Além - Proposta para uma Geografia do Espiritismo”, propõe uma geografia do Espiritismo cuja base rediscute as espacialidades em Foucault. O artigo “Descortinando a Lógica Diocesana no Espaço Fluminense” recorre ao estudo da estruturação das territorialidades da Igreja Católica Romana e as redes funcionais geradas pelas unidades administrativas da instituição em uma abordagem no interior da própria disciplina. No âmbito da relação religião-política tem destaque o estudo intitulado “Política e Religião na Nova Geografia Cultural - O Caso da Criação do Estado do Tocantins” onde o autor discute a associação entre política e religião na criação do Tocantins e sua lógica através do conceito de espaço de representação. O artigo “Geografia da Religião A partir das Formas Simbólicas em Ernst Cassirer - Um Estudo da Igreja Internacional da Graça de Deus no Brasil” apresenta uma abordagem original em Geografia da Religião a partir do conceito de “espaço de ação” e suas espacializações com base na teoria das formas simbólicas em Ernst Cassirer.
O ressurgimento da Geografia da Religião deriva, em parte, da estrutura de aplicação sistemática de um mesmo princípio de classificação da organização do mundo social em campos opostos nos quais impera a lógica da inclusão e exclusão, de associação e dissociação, de integração e distinção. Nesse sentido, a pesquisa acadêmica na área passa a ter um caráter político, pois promove uma ruptura no consenso da própria disciplina já consolidado. Desse modo, a preeminência da explicação relativa a problemática religiosa no mundo funciona como questionamento constante do papel da Geografia da Religião e de sua legitimidade como subdisciplina.
Texto de Sylvio Fausto Gil Filho
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