Sylvio Back mergulha no universo de Graciliano - Por André Dib

Neste ano (2010), Graciliano Ramos será tema de duas novas produções do cineasta Sylvio Back. A primeira é um documentário sobre sua vida, com recursos já captados e pré-produção prevista para começar em março. Buíque, no agreste pernambucano, faz parte do roteiro, que passa por cidades onde o autor de: São Bernardo e Vidas secas morou, como Palmeira dos Índios, Viçosa, Quebrangulo, Maceió e Rio de Janeiro.

Graciliano morou em Buíque quando criança e aos 18 anos voltou à cidade para tratar da saúde. A fazenda em que morou está preservada de acordo com algumas características da época e deve servir de cenário para a produção. Pernambuco entra na pauta não somente pela ligação histórica com o personagem mas porque terá na capital uma potencial base de trabalho.
Por telefone, do Rio de Janeiro, Back diz que o novo filme será um ensaio para o próximo, que adapta o romance Angústia, escrito por Graciliano em 1936, quando estava na prisão. Apesar de trabalhar no território da ficção, muitas memórias da infância em Buíque estão no livro. "É o único romance dele que ainda não filmado. É uma história de ciúme, um Crime e castigo nordestino".
Durante a pesquisa, que durou oito meses, o diretor se aprofundou e viu que ali tinha um documentário. A produção inclui "toques" de ficção e será dividida em sequências com títulos dos romances, diretamente ligados às etapas da vida do escritor alagoano, como o assumidamente autobiográfico Infância. "Vou contar a vida dele com todos os elementos audiovisuais possíveis".

Ex-jornalista e crítico de cinema, Sylvio Back é filho de imigrantes húngaros e alemães que imigraram para Santa Catarina. Sua formação intelectual está fortemente ligada à literatura - não é por acaso que ele cita o romance de Fiodor Dostoievsky, também admirado por Graciliano Ramos. "Me interessei pela vida pessoal de Graciliano, pelo itinerário dele, por sua angústia com a escrita, com a linguagem. Ele chegava a escrever a mesma frase centenas de vezes".
Afeito a temáticas históricas, políticas e literárias, Sylvio Back realizou 37 filmes (11 longas-metragens) em 46 anos de carreira, iniciada em Curitiba, no Paraná. Os principais são A guerra dos pelados (1970), Revolução de 30 (1980) e Lost Sweig (2002), este último sobre o escritor judeu Stefan Zweig. Restaurado recentemente, Lance maior (1968) traz Regina Duarte e Reginaldo Faria no elenco e é o primeiro longa do cinema paranaense.
Seu último trabalho, O contestado - restos mortais, acaba de ser finalizado. O filme marca o retorno ao tema, ficcionado no longa A guerra dos pelados (1970), com atuações de Jofre Soares, Stênio Garcia e Otávio Augusto. "Sylvio Back conseguiu fazer um filme ágil, dinâmico na sua linguagem, na sua estilística", escreveu o crítico Celso Marconi, à época.
Back retoma o Contestado com um documentário de 160 minutos de duração em que registra 30 médiuns da fronteira entre o Paraná e Santa Catarina, região onde ocorreram os combates entre a população cabocla e militares republicanos entre 1912 e 1916. Combatentes narram detalhes do conflito através da atividade mediúnica.
A Guerra do Contestado foi desencadeada com a morte de um pernambucano, o comandante das tropas Coronel João Gualberto e do monge José Maria, figura messiânica equivalente a Antonio Conselheiro (o Contestado é tido como o "Canudos do Sul"). O cineasta justifica a nova produção, 40 anos depois: "O Contestado foi um dos movimentos pela posse da terra mais importantes do século passado, mas continua submerso, quase desterrado da historiografia oficial".
 

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