Capela partilhada por várias religiões para dar apoio aos doentes em Portugal - Por Rita Carvalho
Grupo de trabalho inter-religioso voltará a reunir-se com o Ministério da Saúde para apresentar projecto de lugar de oração partilhado. Líderes espirituais elogiam diálogo. No Hospital de São João, no Porto, no dia após o internamento, os doentes são visitados por voluntários que lhes propõem assistência religiosa. Seja qual for o credo. Católico, islâmico, hindu, judaico, budista, baha'i ou de outras confissões cristãs. O espaço de culto ainda é a capela católica, mas em breve haverá um lugar multirreligioso com referências a várias tradições religiosas, que poderá ser utilizado por todos.
O projecto deste novo espaço será apresentado dentro de duas semanas ao secretário de Estado da Saúde, pelo grupo inter-religioso para a assistência espiritual e religiosa no Serviço Nacional de Saúde. Um grupo de trabalho inédito, que senta pela primeira vez à mesa várias religiões, e é constituído pelo coordenador católico das capelanias hospitalares, o padre José Nuno Silva, o xeque Munir, da comunidade islâmica, e o pastor Jorge Humberto, da Aliança Evangélica. "O lugar de culto não será um espaço neutro, pois o objectivo não é neutralizar mas permitir que o máximo de pessoas se sintam bem nele", explicou ao DN José Nuno Silva, que é também capelão do São João. "Este projecto pode ser inspirador para outros lugares de culto a criar."
A abertura das capelanias dos hospitais a outras confissões decorre da Lei da Assistência Religiosa, aprovada há três meses, que começa a implantar-se no terreno. A criação do grupo de trabalho foi o primeiro passo para a definição de regras e troca de experiências entre religiões e Governo. No São João, há muitos anos que padres e ministros de outras religiões se cruzam nos corredores do hospital. "Houve sempre abertura do hospital. E eu, ao ver o que vejo diariamente como capelão, tenho de ser o primeiro a exigir iguais possibilidades para todos os doentes", afirma o capelão José Nuno Silva, que muitas vezes chamou os ministros de outros cultos para virem assistir os seus doentes.
Metodistas, baptistas, anglicanos, ortodoxos, mas também budistas e muçulmanos já vieram ao São João acompanhar espiritualmente os seus crentes, num apoio personalizado que pretende ajudar a suportar o sofrimento. "É fundamental o apoio religioso. Os doentes querem ser visitados e acompanhados", diz o bispo metodista Siferedo Teixeira. Para o representante da Comissão das Confissões Cristãs (Copic), "a saúde é um assunto que toca a realidade de todos e pode ajudar as pessoas de outras religiões e confissões a conhecerem-se e interessarem-se pelos outros".
José Ruah, da Comunidade Israelita de Lisboa, diz que nunca foi negado o acesso nem dificultada a assistência aos doentes da sua comunidade nos hospitais. E que tal tem sido possível com a "anuência e compreensão dos estabelecimentos de saúde". Sobre o caminho de diálogo percorrido pelas várias religiões, José Ruah, diz que tem havido um incremento. "Isso permite que nos conheçamos melhor e, consequentemente, que as diferenças sejam mais bem aceites." O capelão católico vai mais longe: "O diálogo inter-religioso faz-se na prática. E o que se está a fazer na saúde é precursor. É um caminho de interculturalidade."
Fonte: http://dn.sapo.pt
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