Ressocialização: Detentos se formam em Curso de Teologia

Manoel Firmino, Filomeno Batista Neto e Cornelius Okwudili são estudantes do curso de graduação em Teologia, na Faculdade Católica de Fortaleza. Desde 2006, eles vêm estudando e se preparam para receber o diploma ainda neste primeiro semestre de 2010, quando formam-se teólogos. Os alunos em questão são detentos em liberdade assistida no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPO II). A experiência, exemplo em todo o Brasil, mostra que o processo de ressocialização dos apenados pode ir bem mais além, desde que se tenha oportunidade e vontade política para isso.

A iniciativa partiu do então Instituto de Ciências da Religião – ICRE (agora Faculdade Católica de Fortaleza) e da Pastoral Carcerária de Fortaleza. Uma demanda de um dos detentos deu origem a uma saga burocrática entre as organizações, direção do presídio e a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Depois de muitos trâmites e reuniões, foi permitido que os alunos tivessem aulas, nos dois primeiros anos do curso, dentro do presídio. O restante dos semestres vem sendo cumprido na própria faculdade, em regime de liberdade assistida.
O projeto: "Uma Alternativa para a reintegração social" é coordenado pela professora Márcia Bastos Pereira, quem acompanhou de perto todas as dificuldades que o sistema prisional oferece frente à iniciativas mais inovadoras e dinâmicas de ressocialização. Ela conta, por exemplo, que mesmo com a autorização da direção da casa, muitos deles chegavam atrasados nas aulas, pois não havia agentes para acompanhá-los. "São pequenos problemas que poderiam ser resolvidos se tivesse uma maior integração dos serviços dentro do presídio", avalia.

Como estudantes, era necessário que os egressos tivessem uma hora, pelo menos, dedicada aos estudos das disciplinas da Faculdade. Mais uma batalha. Foram necessárias várias reuniões para que os alunos tivessem esse direito. Por esse período, cerca de 15 professores se deslocavam semanalmente para ir ao IPPO II ministrarem suas aulas.
Hoje, passados mais de três anos, a professora Márcia avalia os resultados do projeto e o impacto dele sobre os estudantes da casa penal. Segundo ela, é evidente que a proposta deu certo como alternativa de ressocialização. Dos seis detentos que prestaram vestibular, quatro irão concluir o curso. Manoel, Firmino e Cornelius concluem o curso até junho deste ano. E França da Silva, porque perdeu algumas disciplinas, só poderá colar grau no final do ano.
"A gente vê como eles criam uma nova vida. Estão estudando, trabalhando, cultivando outros valores. Há um crescimento muito grande. Estamos muito felizes com o resultado, pois vemos que eles estão motivados para o conhecimento, motivados para a mudança de vida", afirma.
Segundo a professora, o rendimento dos alunos do IPPO II é dos melhores. Participativos e atuantes, eles escrevem seus trabalhos e chegam a participar de eventos acadêmicos. Alguns deles devem seguir para o mestrado. O envolvimento é tanto que eles mesmos já vêm trabalhando no que chamam de "Teologia da Ressocialização".
Projeto pode não ter continuidade

 
Atualmente, o Projeto é financiado pela Conferência Episcopal Italiana. Mas precisa urgentemente de uma contrapartida do Estado. O padre Luis Sartorel, à época diretor do Icre e, atualmente, diretor administrativo da Faculdade Católica de Fortaleza, conta que há dois anos a continuidade do projeto vem sendo discutida com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará, mas que até o momento não há nenhuma resposta.
O fato coloca em risco a continuidade do projeto num momento de boa repercussão entre os presos. Um levantamento mostra que 20 detentos gostariam de ingressar no projeto. "Poderíamos ingressá-los no curso de Teologia ou de Filosofia também, ou até em outros cursos de extensão que temos", acrescentou Sartorel.
De acordo com Sartorel, tem-se insistido muito com o Estado no sentido de conseguir um apoio mais direto e eficiente. Mas o esforço parece não surtir efeito. "Há dois anos estamos com esse projeto junto à Secretaria e não se sabe por que não vai para a frente. Não temos ainda uma resposta por parte do Governo sobre o financiamento de cursos desse tipo. Infelizmente vemos uma boa iniciativa que pode se esgotar numa continuidade zero", disse.
Os cursos, lembra, são devidamente reconhecidos pelo Ministério da Educação. Enquanto a resposta da Secretaria de Segurança não chega, o momento é de muita expectativa para que Firmino, Filomeno e Cornelius tenham, em mãos, seus diplomas, além de novas oportunidades e acolhidas.

Fonte: http://noticias.cancaonova.com

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