Reação ao avanço evangélico
Há consenso entre os pesquisadores de que a movimentação político-eleitoral dos católicos é uma reação à crescente presença dos evangélicos no parlamento. Tanto para o cientista político Michel Zaidan, professor da pós-graduação de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), quanto para a historiadora Sylvana Brandão, professora de UFPE, não há nada de novo nessa atitude. "É um contraponto aos evangélicos. Em particular para concorrer com as igrejas neopentecostais, que privilegiam o louvor e o exorcismo", considera Zaidan.
O cientista político ressalta que os gestos dos grupos leigos católicos, em especial, não devem ser encarados como uma ação da Igreja Católica. "Isso é coisa de leigos. Não é da instituição", analisou. De acordo com ele, a Igreja não tem atualmente projeto político ao contrário do passado, quando em acordo com o estado instituiu o padroado. O padroado permitia ao imperador nomear e exonerar padres, enquanto esses recebiam salários. "A Igreja Católica, que já foi um partido político informal, abandonou a pretensão de adotar um projeto político", reforçou.
Para Zaidan, nas últimas décadas o caminho escolhido pelo grupo hegemônico da instituição foi o de influenciar a sociedade culturalmente. Mesmo assim, não se pode esquecer que existe a simpatia de padres e bispos a movimentos como Fé e Compromisso. Afinal, um parlamentar confessadamente católico pode abrir portas em contatos com o poder público, seja Executivo ou Legislativo. Foi assim que funcionou com o vereador Josenildo Sinésio (PT) no governo petista do prefeito do Recife, João Paulo (2001-2008). Sinésio intermediou as conversas entre a prefeitura, a arquidiocese local e movimentos religiosos. Por tabela, a tarefa político-religiosa do vereador se estendeu até as relações com o governo estadual.
Especializada em história da religião, Sylvana Brandão avalia que o estado não pode prescindir da religião. "As igrejas sabem disso", enfatizou. Por outro lado, entende, vivemos num estado dito laico, mas que preserva características de atrelamento às religiões. Exemplos são os financiamentos de cultos e shows religiosos pelo poder público e a previsão, na Constituição Federal, do ensino religioso. Daí, complementa, a Igreja Católica não abrir mão de que seus fiéis declarem sua fé. E os políticos se encaixam perfeitamente nesse cenário, em que, além dos católicos, há eleitores do tipo self-service (que se nutre de ensinamentos de diferentes religiões) e evangélicos votando por fidelidade a seus pastores e igrejas.
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br
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