Metodistas Criam Voto Ético - Por Robson Morais
De olho nas eleições de 2010, bispos e líderes do Colégio Episcopal da Igreja Metodista enviaram, na última segunda-feira, dia 9, a seus membros de todo o Brasil uma carta pastoral sobre como escolher candidatos na eleição do dia 03 de outubro. A cartilha do voto ético aborda a cidadania e sugere mecanismos para o que chama de política cidadã. “A Igreja Metodista reconhece que é sua tarefa docente capacitar os membros de suas congregações para o exercício de uma cidadania plena” defende a entidade. Muitos acontecimentos chamam a atenção e devem ser considerados nas escolhas dos candidatos. O texto foi escrito em julho deste ano e leva a assinatura do presidente do Colégio, bispo João Carlos Lopes.
Dvidido em tópicos e itens de relevância, o pronunciamento não cita, em nenhuma de suas sete páginas, candidatos nem defende as propostas de cada um. Aconselha, porém, para que seus membros percebam o cenário em que se encontra a política nacional e os casos de corrupção, vindo á tona com denúncias e projetos como o Ficha Limpa. O não votar em branco, mas sim escolher com sabedoria também é tema do documento, que especifica a proibição de propaganda política de qualquer forma durante os cultos. Confira na íntegra o pronunciamento enviado a membros de todo o Brasil pelo Colégio Episcopal da Igreja Metodista:
Dos bispos e bispa da Igreja Metodista, ministros de Jesus Cristo a serviço da Igreja, aos irmãos e irmãs metodistas de todo o Brasil. Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai, de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, e do Espírito Santo, nosso fortalecedor e instrutor! Amém! No dia 03 de outubro (em primeiro turno) e no dia 24 de outubro (em segundo turno), iremos escolher as lideranças nacionais e estaduais, além de deputados estaduais, federais e senadores. Diante disso, o Colégio Episcopal da Igreja Metodista sente-se no dever de dar a seus membros as orientações pastorais que julga necessárias neste período eleitoral.
Orientações pastorais do Colégio Episcopal
Esta pastoral é dirigida à liderança pastoral e liderança leiga que desenvolvem ações pastorais relacionadas com a formação doutrinária dos membros das igrejas metodistas. Sob a direção e ação do Espírito Santo, lembramos-lhes que: “A Igreja Metodista reconhece que é sua tarefa docente capacitar os membros de suas congregações para o exercício de uma cidadania plena” (Credo Social, seção IV, item 1, p. 9). E ainda que: “O propósito primordial desta missão é servir ao Brasil por meio da participação ativa do povo metodista na formação de uma sociedade consciente de suas responsabilidades" (Credo Social, seção IV, item 2, p. 9). Neste sentido:
Acreditamos na democracia como um valor universal, e é relacionada com o amor ao próximo, a igualdade, a solidariedade, a participação e a tolerância proclamados e testemunhados pelo Evangelho de Jesus Cristo.
Acreditamos que a democracia moderna encontra sua grande inspiração nas melhores tradições da Reforma Protestante do Século XVI.
Afirmamos e conclamamos a participação plena, ativa e consciente de todo o povo no processo democrático, considerando que as próximas eleições são uma oportunidade para o estabelecimento da confiança popular nos mecanismos democráticos e nos meios de controle social das ações dos governos – mecanismos políticos que garantem transferência e substituição dos partidos no governo por meio do voto popular consciente, livre e soberano (Carta Pastoral “As eleições de 1994”).
O cenário político das eleições de 2010
Desde o início da história do Brasil, a classe dominante apenas deseja explorar as riquezas existentes nesta terra e não construir uma nova nação, firmada nos ideais de liberdade e justiça. Contudo, não foram poucas as lutas sociais em prol da cidadania e da democracia, levadas adiante pelos brasileiros nestes cinco séculos. De fato, o momento a que chegamos hoje é resultado deste esforço e trabalho.
Atualmente, “muitos acontecimentos chamam a nossa atenção e devem ser considerados nas escolhas dos/as candidatos/as (...) A credibilidade do presidente da república atinge altos níveis. Essa credibilidade é resultado da conjuntura internacional e da política econômica. É também consequência de uma política de elevação da renda das classes populares e da criação de mercados internos que atendem a setores antes excluídos que geram esperança de vida para muitos, ainda que esses mercados sejam frágeis, regionalizados e limitados” (Pastoral “Eleições Municipais, 2008”).
Apesar das importantes investigações contra criminosos de alto escalão, por parte da Polícia Federal, persiste uma “série de acontecimentos relacionados à corrupção, abuso do poder econômico, e avanço da lógica voraz do capital, que têm sido constantes no país”. E as más notícias, cotidianamente recebidas via meios de comunicação, geram apatia social e certa indiferença no eleitorado, interferindo na construção de um projeto democrático e cidadão pautado na ética e na paixão pela vida.
E agora, surge a lei da “ficha limpa”, que veda a candidatura de políticos com condenação em órgão colegiado. Esta lei nasceu como fruto das pressões da sociedade civil, que se articulou e propôs o projeto de lei de iniciativa popular. Esperamos que a aplicabilidade desta lei contribua para melhorar a gestão pública.
Como votar de modo cidadão
Como pessoas cristãs e cidadãs, responsáveis perante Deus e comprometidas com a paz e a justiça, não devemos votar de acordo com interesses próprios e que ferem os princípios do Reino de Deus. Nosso voto deve refletir a consciência de que as mudanças sociais fazem parte de um caminhar em conjunto com os vários segmentos da sociedade, visando à preservação de toda a criação e da dignidade humana.
Ter conhecimento do passado do/a candidato/a e de seus reais compromissos políticos é o melhor referencial para saber se ele/a vai realmente cumprir o que está prometendo.
Exercer um voto ético, comprometido com o Reino de Deus, pois a vontade soberana do Senhor deve ser vista e sentida na vida de todos os seres humanos.
Candidatos/as que a cada eleição se apresentam de maneira diferente, frutos de estratégias de marketing e alianças comprometedoras não são dignos de nosso apoio. De igual modo, ninguém deve receber nosso voto simplesmente por expressar uma religiosidade evangélica. Antes, devemos recordar que “a fé, se não tiver obras, por si só estará morta” (Tg 2.1). E ainda, o voto ético não se destina a políticos descomprometidos, e sim aos que são “sal da terra e luz do mundo”. Ele não é vendido ou trocado por bens materiais, mas “traz vida em abundância”. Não se deixa levar pelas aparências, e sim fortalece a verdade que liberta. Ele é consciente e traz à memória o que nos pode dar a esperança de uma sociedade cidadã (Adaptado da Pastoral “Eleições Municipais 2008”).
O pleito eleitoral não deve ser tratado como aprovação ou rejeição do atual governo, mas sim como uma escolha entre projetos de governo. Devemos optar por quem, a nosso ver, tenha o projeto que mais se adapte ao momento atual, seja este projeto para o executivo ou para o legislativo.
Os candidatos devem ser dignos de nosso voto sempre que apresentem propostas concretas e abrangentes para a solução dos problemas da cidade e da sociedade em seu sentido mais amplo.
O voto consciente e cidadão é que possibilita a justiça social a ser uma prática no nosso país, apontando para:
- um sistema de saúde que proporcione atendimento de qualidade e com dignidade;
- uma segurança pública eficaz, gerando tranquilidade e confiança;
- um serviço social de qualidade, que promova a superação da vulnerabilidade e risco social;
- uma educação que viabilize o desenvolvimento da vida em sua plenitude;
- uma lógica econômica que valorize a vida.
Necessitamos conhecer o que nossos candidatos pensam a respeito desses temas, que atualmente representam clamores de nossa nação, bem como, no caso federal, saber aqueles que se comprometem em realizar as reformas tão necessárias ao país, tais como:
- A tributária, com o objetivo de fazer justiça social
- A política, no sentido de banir os maus políticos,
- A administrativa, para que o aparelhamento estatal esteja adequado à capacidade tributária do país, investindo com eficiência o erário público arrecadado nas três esferas governamentais.
Sugestões práticas para o preparo dos membros para as eleições
Sugerimos algumas ações práticas e educativas que podem ser desenvolvidas individualmente ou em grupos de estudos, para a formação cidadã de cada metodista:
A. Estudo e discussão dos programas dos partidos políticos, procurando identificar aqueles que:
- Harmonizam-se com os ensinos de nossa Igreja Metodista;
- Desenvolvem efetivamente sua ação, comprometidos com o avanço da democracia brasileira; e buscam a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
B. Levantamento de informações consistentes sobre os candidatos e candidatas:
- Exame da coerência moral e política da trajetória e da história de cada um/uma;
- Identificação dos grupos políticos e econômicos interessados na sua eleição;
- Identificação dos/as candidatos/as comprometidos/as com as necessidades e aspirações das classes populares, por meio de debates públicos;
C. Conhecimento mínimo do processo eleitoral, visando evitar manipulação do voto popular;
D. Conhecimento mínimo das responsabilidades inerentes aos cargos para os quais os candidatos deverão ser eleitos;
E. Percepção de que a eleição é um momento de ação cidadã fundamental, participação efetiva na vida do país. Não votar em branco, nem anular o voto.
G. Não se deixar iludir pela utilização massiva dos meios de comunicação.
H. As dependências das igrejas locais e de nossas instituições sociais e educacionais poderão servir como espaço para a informação, reflexão e debate das propostas dos candidatos, visando à conscientização das comunidades onde estão localizados os diversos trabalhos metodistas. Tal uso deverá ser feito sempre de acordo com o Regimento da Igreja, segundo o disposto no Art. 128item XXV (Cânones, Ed. 2007), ou de acordo com os Regimentos de nossas instituições;
I. Deve ser evitado todo pronunciamento dos e sobre candidatos/as no momento do culto público ou de reuniões específicas da própria Igreja, tais como a Escola Dominical (Carta Pastoral “Eleições de 1994”).
J. Ao ministério ordenado da Igreja Metodista cabe, prioritariamente, a tarefa de apoiar e sustentar pastoralmente a ação e a reflexão política dos membros leigos. Os pastores e pastoras metodistas devem procurar ajudá-los a concretizar na prática política partidária a mensagem do Reino de Deus e da sua justiça.
K. Os membros do ministério ordenado que se sentirem chamados para a postulação de cargos políticos são instados, por nós, a pedirem licença do ministério ativo. Desta maneira será evitada a partidarização de nossa vida eclesial causada por divergências políticas partidárias envolvendo pastores e pastoras de nossas congregações (Carta Pastoral “Eleições, 1994”).
Conclusão
Nós, povo metodista, somos chamados por Deus a unir-nos em prol de uma sociedade mais justa, lembrando que “o propósito de Deus é reconciliar consigo mesmo o ser humano, libertando-o de todas as coisas que o escravizam, concedendo-lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus” (Plano Vida e Missão, letra b, item4).
Conclamamos a Igreja Metodista a dedicar períodos de oração e jejum em favor da Pátria, intercedendo ao Senhor, nos cultos públicos e em outras reuniões, pelas eleições deste ano.
Com toda convicção, advinda de nossa fé no único e verdadeiro Deus proclamamos e declaramos que: “Bem aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor!”
Bispo João Carlos Lopes
São Paulo, Julho de 2010.
Fonte: http://www.creio.com.br
Comentários