Brasil entra na rota do turismo religioso internacional - Por Décio Viotto

A fé cristã, que dizem mover montanhas, também se encaixa, e muito bem, nas bagagens de milhões de turistas que escolhem os seus roteiros não apenas pelo lazer ou pelas belezas naturais, mas pela busca de uma vivência espiritual em lugares como a Terra Santa, no Oriente Médio; Fátima, em Portugal; Lourdes, na França; Santiago de Compostela, na Espanha; Wadowice, na Polônia, ou Munique, na Alemanha.


Esses roteiros, entre tantos outros, estão no catálogo da Ópera Romana de Peregrinações (ORP), a agência de viagens oficial do Vaticano. A instituição, que existe há 76 anos, apenas em 2010 reconheceu o Brasil como roteiro internacional de turismo religioso. O acordo foi firmado nesta semana no Palácio Vicariato, na Cidade do Vaticano, durante encontro do ministro do Turismo, Luiz Barreto, com o administrador da agência, o padre Caesar Atuire.


Esse reconhecimento poderá atrair para o país parte dos cinco milhões de europeus que todos os anos viajam pela agência do Vaticano. Trata-se de um universo imenso se comparado com os atuais 25 mil turistas que vêm para cá declaradamente atraídos por motivos religiosos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Turismo.
A rota brasileira da fé vai passar, num primeiro momento, pela cidade de Aparecida, em São Paulo, onde fica o maior santuário mariano do mundo, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Somente no último dia 12, dia da Santa, cerca de 330 mil fiéis rumaram ao local. No Rio de Janeiro, a indicação será o Cristo Redentor. Também serão incluídas no roteiro Olinda, em Pernambuco, cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Congonhas do Campo e Marina, e o estado da Bahia. Somente Salvador teria em torno de 300 igrejas, o que faria da capital baiana a cidade com mais templos religiosos do país.

No futuro, o Ministério do Turismo vai trabalhar pela inclusão de Juazeiro do Norte, no Ceará, que recebe por ano dois milhões de seguidores do Padre Cícero; Nova Trento, em Santa Catarina, para onde 30 mil católicos vão todos os meses rezar no santuário dedicado a Madre Paulina, e a Região das Missões, no Rio Grande do Sul.
O cardápio turístico no Brasil também oferece o Cruzeiro Católico, único no mundo. De 1 a 4 de fevereiro de 2011 um grupo com 2050 pessoas vai sair do porto de Santos em direção ao Rio de Janeiro, com parada em Búzios. Serão quatro dias e três noites de consagração espiritual. A CNS Viagens, organizadora do evento, informa que só restam 200 lugares.

É preciso esclarecer ainda que o turismo religioso é a soma de vários tipos de viagens. Na romaria, o compromisso é conhecer o destino sagrado. Na peregrinação, é cumprir promessas. Há também viagens de penitência e a espontânea. No Brasil, as romarias são únicas, pois têm o caráter festivo. Seja qual for o modo escolhido, o Vaticano estima que, por ano, 200 milhões de pessoas viajam com um desses intuitos no mundo. Somente na Europa são 30 milhões e no Brasil, 15 milhões, segundo a Empresa Brasileira de Turismo - Embratur -, com base em levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas da Universidade de São Paulo.

 
Turismo religioso na Europa


Munique e Freising, na Alemanha, entraram para o turismo religioso depois da aclamação de Joseph Ratzinger como papa Bento 16, em 2005. Essas duas localidades da Baviera foram importantes em vários momentos da sua vida e agora oferecem diversos roteiros aos católicos. Um deles é o "Seguindo os Passos do Papa". O final do trajeto é em solo italiano, onde os peregrinos que fazem o caminho são agraciados com uma missa realizada pelo Papa no Vaticano.

Uma rota bem mais antiga e mais conhecida é o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Os peregrinos, interessados na história do apóstolo Tiago, percorrem esse caminho há oito séculos. O trajeto possui mais de 1.800 edifícios de valor histórico. Na França, Lourdes continua como principal centro de peregrinação. A cidade, situada no centro da região dos Pirineus, foi marcada pela aparição da Virgem Maria para Bernadette Soubirous, na gruta de Massabielle, na metade do século 19. Desde então, são atribuídas e ela curas milagrosas.
Os lugares por onde João Paulo 2º viveu na Polônia também são atrativos religiosos, como Wadowice, onde nasceu o papa, e Monte Wawel, lugar no qual o então cardeal Karol Wojtyla trabalhava antes de tornar-se pontífice.
O santuário de Fátima, em Portugal, um dos maiores do mundo, foi erguido no local em que três crianças viram Nossa Senhora no dia 13 de maio de 1917. Desde aquela época, milhares de pessoas vão ao local. Na Itália, em Puglia, San Giovanni Rotondo, lar do tempo do frade São Pio, atrai milhões de fiéis todos os anos. Outras cidades importantes para o catolicismo são Assis e Cássia.


Informalidade


Uma das características deste segmento é a de que as pessoas buscam informação. "E aí reside o nosso maior grau de dificuldade", explica Otacílio Melo, diretor da CNS Viagens, em Campinas (SP), que trabalha com turismo religioso há mais de 30 anos. O Brasil não tem guias especializados para o setor. E o turista quer conhecer a história dos santuários, a importância do templo para a religião, o período da construção e saber das obras de arte que compõem o acervo do lugar.

Excetuando-se as metrópoles e os grandes centros religiosos, como Aparecida e Belém (PA) - que este ano concentrou 2,2 milhões de fiéis em torno do Círio de Nazaré, mas que está longe da rota internacional do turismo religioso - a prática deste segmento turístico é marcada pela informalidade. Para receber mais gente, o país precisa se preparar.

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com

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