Cores de um templo oriental - Por Maria Betânia Monteiro

Assim como os templos budistas e xintoístas, que por trás das construções em vermelho e dourado abrigam a espiritualidade de homens e mulheres, os quadros do arquiteto paulista, radicado em Natal/RN, Yochiaki Uyeda cumprem papel semelhante.



Com cores vibrantes e formas abstratas, o artista plástico elaborou ao longo de cinco anos, o conjunto de obras que compõe a exposição “Rokujuu sai”, em português, “60 anos de idade”.Fui buscar as cores no extremo oriente”, disse Yochiaki. A exposição será aberta quinta-feira, às 19h, na Pinacoteca do Estado.

Enquanto o dia de ver seus quadros pendurados não chega, o arquiteto faz o papel de uma formiguinha. Entrega convites, fala de seus trabalhos e dá uma canja sobre a cultura nipônica. Em visita a este jornal, semana passada, Yochiaki disse que diferente de seus ascendentes, ele não desenvolve um trabalho minimalista e justifica dizendo, que para isso seria preciso viver no Japão. “Sou montado no Brasil, com matéria prima japonesa”, disse o artista.

Antes era o óleo e a aquarela, que ganhavam formas, nas telas de Yochiaki. Agora a preferência é a tinta acrílica. A justificativa é simples, “as outras não eram suficientes para a minha expressão”, disse o artista antes de traçar mais um sorriso simples. Ele explicou que as cores que precisava, como o dourado e o prateado, são conhecidas como iridescente, em suas palavras: “são cores que brilham como vagalume, como se tivessem luz própria”.

Olhando a fotografia de uma de suas telas, aquela que seria chamada de Tokio (e que agora recebe o nome “Rokujuu sai”, seguido de um numeral), Yochiaki ressalta a diversidade de tons de vermelho Cadmo e dourado. “Cada um vê o que quer. Mas quando eu fiz a tela estava pensando na cidade de Kioto”. O artista revela, que no caso desta obra, o abstrato faz um sentido delineável. Trata-se dos templos e das paisagens naturais, recortadas por montanhas.

Alguns dos quadros da série em vermelho e dourado foram inspirados nos livros de Yasunari Kawabata, Prêmio Nobel de Literatura. Neles, o autor japonês faz uma viagem minimalista ao seu país, revelando as cores, as formas, os sentimentos e os costumes de seu povo. A cerimônia do chá, as estações do ano, as estampas dos quimonos, são alguns dos assuntos tratados. “O livro me fez relembrar parte do Japão que eu conheço e me apresentou outro que desconheço”.

O artista lembra que o vermelho e o dourado contidos em seu trabalho são comuns também na Índia, mas assim como no Brasil, não são usados com refinamento. “As cores habitam o cotidiano dos japoneses, que têm sempre a mão obras de arte, como porcelanas, dobraduras de papel e outros utensílios domésticos”, explicou.

Apesar do gosto pelas cores representativas da cultura nipônica, o artista se expressa com tantas quanto quiser. Azul, amarela, branca, prata. “Minha inspiração é a tela em branco”.

Esmero e emoção são heranças da pintura oriental

Segundo o arquiteto, a pintura no Japão surge com os calígrafos, que por vezes ilustravam os seus idiogramas. A leveza dos traços e a expressão física das emoções foram difundidas nas pinturas figurativas em todo o mundo. Desta forma de fazer arte, o arquiteto nisei herdou o esmero e o envolvimento emocional com o produto de sua expressão.

Dirigindo-se aos japoneses como “eles”, a “cultura deles”, Yochiaki não percebeu que a semelhança com o seu povo de origem não está apenas nos tracejado de seu corpo. Está, sobretudo, em sua personalidade. Monitorando o destino das palavras dita, para que elas ganhassem o lugar certo, o arquiteto falou que a base de sua aprendizagem, foi o grupo Seibi, de artistas plásticos de São Paulo.

O Grupo Seibi fundado em 1935 reuniu os expoentes das artes plásticas da colônia japonesa, como Takaoka, Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Wakabayashi entre outros hoje bastante conhecidos. Este Grupo, assim como o Santa Helena, que representou os artistas da colônia italiana, contribuiu na promoção e divulgação das artes plásticas no Brasil. O Grupo foi extinto em 1972, no período da ditadura militar, encerrou suas atividades.

A pintura sempre foi um afeto para esse nisei. Ainda quando criança Tamotsu Fukuda foi seu primeiro mestre na cidade de Lins (SP). Participou de sessões de pintura de 1958 a 1962 com Fukuda, Toshie Sanematsu e Manabu Mabe, todos artistas do Grupo Seibi. Neste período participou dos Salões de Artes Plásticas do grupo em São Paulo, juntamente com outros artistas nipo-brasileiros selecionados com suas obras modernas ou contemporâneas. Yochiaki Uyeda recebeu prêmios de menção honrosa nos Salões de 1958 e de 1959.

Exposição enxuta

O número de obras em exposição na Pinacoteca do Estado é pequeno, pouco mais de 20 obras do artista, mas é uma excelente mostra de sua qualidade. As telas variam de tamanho; de 130cm x 100cm a 60cm x 50cm; e de preço, de R$ 400,00 a R$ 2.000,00.

Serviço
Exposição “Rokujuu sai”, do artista plástico Yochiaki Uyeda
Abertura: 14 de outubro, às 19h
Visitação: de 15 a 31 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 17h.
Entrada: franca

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