Exposição traz 25 momentos de Portinari - Por Fábio de Castro
Uma exposição com as 25 obras do artista Candido Portinari (1903-1962) que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada nesta quarta-feira (20/10), em São Paulo, na sede da Fundação. A mostra ficará aberta ao público até o dia 30 de novembro.
O evento teve a participação do fundador e diretor-geral do Projeto Portinari João Candido Portinari – filho do pintor –, do presidente da FAPESP, Celso Lafer, dos membros do Conselho Técnico Administrativo – diretor presidente Ricardo Renzo Brentani, diretor administrativo Joaquim José de Camargo Engler e diretor científico Carlos Henrique de Brito Cruz –, além dos membros do Conselho Superior da Fundação.
Pelo quinto ano consecutivo, o Relatório de Atividades homenageia artistas plásticos que nasceram ou se radicaram em São Paulo. A edição de 2005 apresentou obras de Francisco Rebolo (1902-1980), seguida por Aldo Bonadei (1906-1974) no ano seguinte, Lasar Segall (1891-1957) em 2007 e Tarsila do Amaral (1886-1973) em 2008.
“O relatório de 2009 homenageia esse homem e esse extraordinário artista que foi Portinari. Uma das obras reproduzidas, os painéis Guerra e Paz, foi considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra. Pessoalmente, também acho que essa obra é uma síntese do trabalho de um artista de muitas facetas”, disse Lafer.
A seleção das obras, segundo João Candido, procura mostrar os principais momentos da carreira do artista. “Uma carreira com mais de 5 mil obras, com uma temática muito abrangente: temas sociais, históricos, religiosos. Ele abordou com muita recorrência as festas populares, o trabalho e a criança. Além das questões universais, sua obra é um grande retrato do Brasil”, disse à Agência FAPESP.
Durante o lançamento da exposição, João Candido apresentou a palestra Do cafezal às Nações Unidas. O título remete à longa trajetória artística de seu pai, que teve início nos cafezais por ele retratados – o pintor, filho de imigrantes italianos, nasceu em uma fazenda na região de Brodowski, no interior paulista – e culminou com a criação dos dois painéis de 14 metros de altura com o tema Guerra e Paz, concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas em Nova York.
“Sua obra pode ser sintetizada na famosa frase do escritor russo Leon Tolstoi: ‘se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia’. Esse movimento de universalização ocorre paulatinamente em seus trabalhos”, disse João Candido.
Os painéis Guerra e Paz mostram o ápice desse movimento em direção ao universal. As crianças de todas as raças que brincam no painel Paz, por exemplo, claramente não são mais os meninos de Brodowski, segundo João Candido.
“No painel Guerra não há armas, tanques ou soldados – há apenas dor, que ele retratou no maior sofrimento conhecido pelo ser humano: a imagem da mãe que perdeu o filho. O painel tem seis a oito dessas figuras, que são autênticas pietàs. Na série Retirantes, da década de 1940, encontramos também a mãe com o filho morto. Sem dúvida, trata-se também de uma pietà, mas inserida em um drama brasileiro. No painel Guerra, vemos o drama universal”, explicou.
De acordo com João Candido, o trabalho de seu pai tem como característica um experimentalismo incessante – a ponto de críticos dizerem que na obra de Portinari há uma dezena de pintores diferentes. Mas a temática é sempre a mesma: a profunda preocupação social.
“Ele foi mudando o estilo e a forma de expressão. Dava importância à técnica, dizia que sem ela é impossível expressar o que vai na alma, mas destacava que seu tema era o homem. Está presente invariavelmente em sua obra esse desejo profundo de solidariedade e de compaixão. É uma obra permeada de valores sociais e humanos”, disse.
Uma versão on-line das reproduções expostas no hall da FAPESP está disponível em: www.fapesp.br/publicacoes/portinari.
Fonte: http://www.agencia.fapesp.br
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