Nesta semana "pai" de "Drácula" faz aniversário; conheça 15 filmes clássicos de vampiros - Por Antonio Farinaci
Quando Bram Stoker lançou seu romance mais famoso, "Drácula", no final do século 19, não dava para supor que seu personagem se tornaria o vampiro mais famoso da literatura de terror. Nascido em Dublim, na Irlanda, em 8 de novembro de 1847, Stoker trabalhava como empresário de um ator de teatro e escrevia críticas de peças para jornais.
O livro foi criticado pela imprensa da época pelo excesso de eventos sobrenaturais no enredo, e pela repugnância do tema, considerado "indigno" da capacidade de Stoker como escritor (que já havia lançado quatro romances até então).
Não coube ao autor irlandês inventar o mito do vampiro, mas seu personagem se tornou o mais famoso de todos os sanguessugas. Para criar o conde Drácula, ele se baseou em diversas fontes. Devorou os livros de Emily Gerard sobre folclore e mitos da Transilvânia — de onde saíram os nomes "Drácula" e o termo "nosferatu". Se inspirou também em livros de terror, especialmente "Carmilla" (de Sheridan Le Fanu), "Varney, o Vampiro" (de james Malcom Rymer) e no conto "O Vampiro" (de John Polidori).
Como "Werther", de Goethe, e "As Ligações Perigosas", de Laclos, "Drácula" é um romance epistolar — escrito em forma de trechos de cartas e entradas de diário. Além disso, incorpora notícias fictícias de jornal (sobre assassinatos misteriosos). Essa narrativa entrecortada, com múltiplas fontes, dá ritmo e uma estranha credibilidade ao que é contado — por mais "sobrenatural" que os eventos possam parecer.
Foi durante o século 20, com o advento do cinema, que "Drácula" atingiu o grau de popularidade que tem hoje, e passou ao imaginário popular — mais com a cara que suas inúmeras adaptações lhe atribuíram do que com suas feições originais. Em 1921, foi citado pela primeira vez no cinema, no filme húngaro "A Morte de Drácula", em que não aparecia o personagem, apenas seu nome. No ano seguinte, veio "Nosferatu", clássico do expressionismo alemão que foi perseguido e tirado de circulação pela viúva e herdeira de Stoker. Em 1931, foi feita a primeira adaptação cinematográfica "autorizada", e, a partir daí, veio uma sucessão de títulos. Estima-se hoje que existam mais de 200 filmes em que Drácula apareça como personagem (em resultado de busca do site: "The Internet Movie Database").
Veja abaixo uma lista de 15 filmes que têm Drácula e outros vampiros como protagonista - clássicos do terror, adaptações fiéis.
"Nosferatu" ("Nosferatu, eines Symphonie des Grauens", 1922, Friedrich Werner Murnau)
Este foi o primeiro filme a adaptar o livro "Drácula" para o cinema. Como o estúdio não tinha autorização dos herdeiros de Stoker, os nomes dos personagens foram trocados — o conde aqui se chama Orlok, e Mina, sua vítima, vira Ellen. Mesmo assim, na época, o filme acabou sendo retirado de circulação. "Nosferatu" conta a história de um ganancioso corretor de imóveis, que parte para aTransilvânia para vender um casarão abandonado, sem saber que está trazendo para dentro de sua vida um espírito do mal, que atacará sua cidade como uma peste. É importante ressaltar que "Drácula" é uma novela epistolar (escrita em forma de cartas e anotações de diários). Assim, "Nosferatu" é responsável por criar a primeira narrativa linear dessa história, que será usada como paradigma pelos filmes de vampiro que virão depois dele, até mesmo por "Drácula", em 1931, a primeira filmagem "autorizada" do livro. A fotografia e a direção de arte de "Nosferatu" são magníficas até nos menores detalhes. Logo nas primeiras cenas, atente, por exemplo, para a carta de Orlok, toda feita de diagramas manuscritos. Muitas das soluções dadas por Murnau em termos de enquadramentos e uso de sombras também serão repetidas por inúmeros filmes de terror. Isso já bastaria para explicar por que o filme é considerado um clássico do expressionismo alemão, mas há ainda a interpretação excepcional de Max Schreck, que criou o vampiro mais repugnante história do cinema. Em 1979, "Nosferatu" ganhou uma refilmagem, também clássica, de Werner Herzog, e, em 2000, a homenagem de "À Sombra do Vampiro", indicado ao Oscar (veja abaixo).
"Drácula" ("Dracula", 1931, Tod Browning)
Primeira adaptação cinematográfica "autorizada" do romance de Bram Stoker, este filme traz Béla Lugosi no papel principal — um vampiro de modos suaves e aristocráticos, bem diferente da fera asquerosa e violenta concebida pelo escritor irlandês. Apesar de "Nosferatu" ter estabelecido a narrativa para "Drácula" no cinema, foi a interpretação de Lugosi neste filme que se tornou o padrão para todos os atores que encarnaram o papel depois dele. O ator húngaro já tinha familiaridade com o personagem pois estava em cartaz com ele na Broadway, numa adaptação teatral de sucesso. O filme foi uma das primeiras produções faladas dos estúdios Universal, e foram produzidas três versões ao mesmo tempo. Uma sonorizada, para o mercado americano; uma com intertítulos de filme mudo, para os cinemas que ainda não tinham sonorização, e uma terceira para a América Latina, falada em espanhol. Depois que a equipe americana fazia sua parte, atores e técnicos "latinos" assumiam o set. A despeito da ausência de Lugosi, a versão em espanhol é considerada superior por muitos críticos de cinema, por ser mais ousada e mais bem acabada. Na época, o gênero de terror era visto com reservas por Hollywood, e o roteiro de "Drácula" foi podado em vários trechos por ter sido considerado de mau gosto. O filme não mostra, por exemplo, as presas do vampiro, e todas as cenas de ataque são subentendidas. O sucesso de "Drácula" no cinema avalizou o gênero e abriu as portas para uma série de filmes, como "Frankenstein", "O Médico e o Monstro" e "A Múmia".
"O Vampiro da Noite" ("Horror of Dracula", 1958, Terence Fischer)
Este é o primeiro filme colorido com o conde Drácula e o primeiro protagonizado pelo ator inglês Christopher Lee, que, durante os anos 60 e 70 encarnaria o personagem mais sete vezes —um recorde. O filme se baseia vagamente no livro de Stoker, e a direção de arte parece mais interessada em produzir manchas de sangue, cenários e roupas extremamente coloridos do que em fazer uma reconstrução plausível do século 19. Este é um dos títulos mais famosos dos estúdios Hammer, empresa inglesa de horror responsável por criar um estilo próprio de produções baratas porém visualmente atraentes e com bons atores. O maior destaque do filme são as atuações de Peter Cushing, como o doutor Van Helsing, e de Lee, como um sanguinário implacável, de olhos vermelhos. Se em "Nosferatu" o vampirirsmo é uma metáfora da peste, neste filme ele é comparado a um vício e tratado medicamente, com direito a uma transfusão de sangue caseira. O Van Helsing de Cushing é provavelmente o médico mais heterodoxo do mundo. Depois da transfusão, aconselha a seu aparvalhado paciente: "Tome uma taça de vinho". Outros filmes da Hammer com Lee se seguiram, mas nenhum se compara a este primeiro. "O Conde Drácula" ("Scars of Dracula", 1970) ainda chega a ser interessante por misturar elementos eróticos (e involuntariamente cômicos) que fazem com que se pareça a uma pornochanchada.
"Nosferatu, o Vampiro da Noite" ("Nosferatu, Phantom der Nacht", 1979, Werner Herzog)
Esta refilmagem homenageia e expande o universo do primeiro "Nosferatu", de 1922. Enquanto na primeira versão o conde precisou ter seu nome alterado para Orlok, por questões de direto autoral, aqui ele se chama mesmo Drácula, celebrando o fato de que o livro havia entrado em domínio público no ano da produção deste filme. Herzog recria diversas tomadas e soluções de iluminação genialmente concebidas por Murnau. O uso de efeitos especiais é mínimo, e o suspense é garantido pelas atuações impecáveis de Klaus Kinski, como Drácula; Bruno Ganz, como Jonathan Harker, e Isabelle Adjani, como Lucy. Drácula é retratado não apenas como um monstro, mas como uma vítima de sua própria imortalidade, condenado à solidão eterna e ao vazio. A enigmática sequência de abertura (filmada quase 10 anos antes do filme, no México) dá o tom preciso da tensão que virá, e as cenas de natureza, captadas com crueza documental, deixam o espectador cara a cara com os cenários reais descritos pelo livro durante a jornada de Jonathan até o castelo de Drácula.
"Drácula de Bram Stoker" ("Bram Stoker's Dracula", 1992, Francis Ford Coppola)
Esta é pretensamente a mais fiel de todas as adaptações cinematográficas do Drácula literário. Mas não deixa de ter uma farta dose de adaptações livres — como, por exemplo, a romantização do relacionamento de Mina e Drácula. A história é relativamente mais coesa do que nos "Dráculas" anteriores. A reconstituição de época também é bem cuidada, com belos figurinos e cenários, e os efeitos especiais são os melhores que um filme de terror pode ter. Mas o filme é um balde de água fria no quesito suspense, pois tudo é excessivamente explicado, sem margem para dúvidas ou mistério. A narrativa padece também de uma certa necessidade de se afirmar como a versão "definitiva", e de detalhar todos os fatos que levaram o personagem a se tornar o monstro que é. E se Gary Oldman está de fato assustador como o príncipe das trevas, Winona Ryder e Keanu Reeves são menos do que convincentes.
"Escravas do Desejo" ("Le Rouge aux Lèvres", 1971, Harry Kümel)
Este filme de cores e atmosferas carregadas, conta a história de uma vampira lésbica e sua amante. Dirigido por Harry Kümel, que no ano seguinte lançaria o cult "Malpertuis", o filme é um clássico do terror "erótico", e tem como protagonista a excepcional Delphine Seyrig, no papel da condessa Bathory. Ela e sua amante hospedam-se na cidade balneária de Ostende, na Bélgica. A partir da chegada das duas, estranhas mortes começam a acontecer. O filme é considerado influência de outros clássicos do gênero, como "Fome de Viver".
"Blácula, o Vampiro Negro" ("Blacula", 1972, William Crain)
Blácula é o primeiro vampiro negro do cinema, concebido na onda do blaxploitation iniciada por "Shaft" (1971). Como representante do gênero, o filme é protagonizado quase que exclusivamente por atores negros. O argumento é um dos mais criativos. No final do século 18, o príncipe africano Mamuwalde pede ajuda ao conde Drácula para por fim ao tráfico de escravos. O conde, no entanto, é racista, e transforma o príncipe em vampiro. Duzentos anos depois, um casal gay de Los Angeles compra um lote de antiguidades africanas. Dentre as preciosidades, está o caixão de Mamuwalde, que volta do reino dos mortos e passa a perseguir uma mulher que se parece com sua mulher falecida há muitos anos. William Marshall, o ator que interpreta Blácula, repetiu a dose anos depois em "Scream, Blacula, Scream".
"Fome de Viver" ("The Hunger", 1983, Tony Scott)
Miriam (Catherine Deneuve) e John (David Bowie) são um casal de vampiros que vive na Nova York dos anos 80 como dois chiques frequentadores de boates underground. Lá eles encontram o sustento para sua "fome", e levam para casa as presas de que tanto precisam para manter sua aparência de juventude. Um dia, no entanto, o interesse de Miriam se volta para a dra. Sarah (Susan Sarandon), que ameaça tomar o lugar de John. O filme tem uma famosa cena em que Peter Murphy, vocalista do Bauhaus, canta a música "Béla Lugosi's Dead", em uma jaula. O trecho foi usado como trailer desta fábula sombria sobre amor, simbiose e abandono.
"Entrevista com o Vampiro" ("Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles", 1994, Neil jordan)
Este filme ficou famoso por reunir um elenco constelar para uma história de vampiro, e, além disso, colocar três dos maiores galãs da época em personagens homossexuais. Louis (Brad Pitt) foi transformado em vampiro por Lestat (Tom Cruise), e passa a ter uma existência atormentada pela imortalidade. Para alegrá-lo, Lestat transforma a órfã Claudia (Kirsten Dunst) em vampira e a dá de "presente" a ele. Claudia também é infeliz, pois amadurece, e se vê aprisionada eternamente em um corpo de criança. Para se vigar, "mata" Lestat e convence Louis a ir para a Europa, onde eles conhecem Armand (Antonio Banderas). Ele comanda um covil de vampiros que acaba por matar Claudia. Solitário e infeliz, Louis volta para os Estados Unidos. "Entrevista" é um filme de terror empolgante, que prende a atenção do espectador com suas idas e vindas de intrigas e vinganças. E o final é surpreendente. O filme não tem nenhuma ligação com o livro de Bram Stoker, e, para Louis, Drácula não passa de "ficção vulgar de um irlandês demente". Dunst, então com apenas 12 anos, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro por sua atuação como a menina-vampira.
"A Sombra do Vampiro" ("Shadow of the Vampire", 2000, E. Elias Marhige)
Filme mistura narrativa de documentário e de cinema mudo para contar uma versão ficcional de como teria sido a filmagem do clássico filme "Nosferatu", em 1922. No filme, o diretor Friedrich Murnau teria arrumado um vampiro de verdade para fazer o papel do conde Orlok. Em troca, promete ao vampiro dar-lhe a estrela da produção, desde que ele fizesse seu papel até o fim. A princípio, o vampiro se submete e a equipe não suspeita de nada. Certo dia, coisas estranhas começam a acontecer. O filme foi indicado a dois prêmios Oscar, um de melhor maquiagem, um de melhor ator coadjuvante, para Willem Dafoe, no papel de Max Schreck, o ator-vampiro
Fonte: http://cinema.uol.com.br [com adaptações]
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