O legado dos judeus - São Paulo ganhará o maior museu sobre o judaísmo no país, que deve receber exposições de Nova York e Israel


O que Fernando de Noronha, Roberto Burle Marx e Sílvio Santos têm em comum? Os três fazem parte do grande grupo de judeus que ajudou a formar a sociedade brasileira desde a época do descobrimento.


Os primeiros chegaram aqui ainda no século XVI. Depois vieram outras levas, fugindo de perseguições, da pobreza e do nazismo. Para preservar as tradições e o legado desse povo que está no Brasil há mais de cinco séculos, será inaugurado em 2013 o Museu Judaico de São Paulo. Ele será o maior do gênero no país, com um acervo doado por mais de 500 famílias. Entre os objetos, há talheres de oficiais nazistas do campo de concentração de Auschwitz, fotos e obras de arte.

 
Segundo a historiadora Keila Grinberg, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), há poucos museus sobre o tema no país. Para ela, os dois espaços mais significativos são o Museu Judaico do Rio de Janeiro e o Centro Cultural Judaico, na sinagoga Kahal Zur Israel, no Recife. “Eles são pequenos e têm poucas peças, mas o centro cultural do Recife é interessante porque está na primeira sinagoga das Américas e tem ruínas do século XVII”, diz Keila.

 
O museu paulistano também ficará em uma sinagoga: o Templo Beth-El, inaugurado em 1929 no bairro de Bela Vista, Centro da cidade. Segundo Roberta Alexandr Sundfeld, diretora executiva do museu, a sinagoga em estilo bizantino foi muito importante para a comunidade judaica local. “Ela foi um marco na realização de eventos e era conhecida como Grande Templo. O diferencial é que fica fora do Bom Retiro, bairro tradicionalmente judeu. Na época, os imigrantes estavam se mudando para o Centro por causa da ascensão econômica”, explica.

 
O espaço do templo será utilizado para mostras sobre festas e rituais da vida judaica, além de servir como centro de referência, com livros e terminais de computadores. Ao lado, será construído um prédio para abrigar exposições sobre temas como a imigração judaica no país. “Vamos começar ainda nos anos 1500, passando pela vinda dos holandeses para o Recife e pelos judeus que vieram do Oriente Médio na década de 1950, por causa da perseguição política”, conta Roberta. No local também haverá uma sala dedicada ao holocausto.

 
No momento, está sendo negociada a vinda de material dos museus judaicos de Nova York e Israel, mas seu próprio acervo já chama atenção. “Temos roupas turcas bordadas em ouro e documentos de um francês que mudou de nome sete vezes em um ano”, conta Ruth Tarasantchi, diretora do acervo.


Um dos objetos que mais chama atenção é o diário de uma menina que acabou em um campo de concentração. “Foi como Anne Frank”, lembra Ruth, que, assim como outros organizadores do museu, sentiu na pele a realidade contada ali. Nascida na antiga Iugoslávia, ela ainda era pequena durante a Segunda Guerra Mundial. Quem visitar o espaço vai poder ver a boneca que lhe fez companhia durante o conflito.

 
Saiba mais: Museu Judaico de São Paulo - Rua Martinho Prado, 128 – Bela Vista. www.museujudaicosp.org.br.



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