Extrema direita finlandesa agita a União Europeia -Por Adrián Soto

O espectro da forte ascensão da extrema direita marca as eleições legislativas que se realizam hoje na Finlândia. A inquietação, porém, transcende as fronteiras do país nórdico e afeta em cheio a zona do euro, devido à firme rejeição aos resgates financeiros europeus pregados pela formação populista dos Autênticos Finlandeses.



A última pesquisa publicada pela rede pública YLE mostra um leve retrocesso do partido em relação a pesquisas anteriores, situando-o ao redor de 15,4% das intenções de voto. A formação havia alcançado 18% em outras pesquisas. Mesmo assim, o partido triplicaria seus lugares no Parlamento finlandês e colocaria em dificuldade a capacidade da atual coalizão conservadora - favorável aos resgates europeus - de se manter no poder. Os quatro partidos aliados que formam o atual Executivo beiram 53% na última pesquisa.


Se a coalizão de governo fracassar em repetir a maioria, as negociações para formar um governo alternativo seriam extremamente complexas. Timo Soini, líder dos Autênticos Irlandeses, declarou que não participará "de um governo que utilize os fundos dos contribuintes para ajudar pessoas que gastam o dinheiro em farras de cassino".


A questão é aguçada pela posição do Partido Social-Democrata, com 18% das intenções de voto e que também rejeita os resgates europeus em seu formato atual. A presidente dos social-democratas, Juttu Urpilainen, declarou que seu partido não apoiará o socorro a Portugal como está concebido. "As formas do resgate devem ser reconsideradas, os bancos também devem pagar sua parte de responsabilidade", declarou no último debate pela televisão.



Eero Hienäluoma, um dos líderes da social-democracia, salientou as distâncias. "Não podemos formar governo com os conservadores e centristas para que continuem implementando suas políticas de direita. Queremos entrar no governo para fortalecer o Estado do bem-estar, e não para enfraquecê-lo." Além do mecanismo europeu de estabilização financeira e do Estado do bem-estar social, outro tema se destacou durante a campanha: a imigração.


Os imigrantes representam apenas 3,5% de uma população de 5,2 milhões de habitantes, uma das porcentagens mais baixas de toda a UE. No entanto, os Autênticos Finlandeses souberam situar o tema no centro do debate político e extrair muito proveito de suas propostas anti-imigração. A ascensão da formação populista forçou os partidos majoritários a endurecer seus programas e cortejar o voto anti-imigrante.


Trata-se de uma dinâmica que afeta há anos outros países nórdicos. A extrema direita contrária à imigração entrou no ano passado pela primeira vez no Parlamento sueco e causou um endurecimento da política da coalizão conservadora no poder, liderada por Fredrik Reinfeldt. Na Dinamarca a extrema direita também conta com uma consistente representação parlamentar.


A ministra da Imigração, Astrid Thors, do Partido Popular, foi objeto através de uma rede social de ameaças de morte por parte de um ex-conselheiro dos Autênticos Irlandeses. "É uma pena que não tenhamos utilizado a campanha para esclarecer nossa política de imigração. A própria primeira-ministra, Mari Kiviniemi [do Partido de Centro], continua desorientada e confunde conceitos como imigração e política de asilo", declarou a ministra Thors este jornal.


As eleições também estão marcadas por uma dinâmica econômica nacional ambígua. Por um lado, a Finlândia goza de finanças públicas bastante estáveis, com um déficit de 2,5% do PIB e uma dívida de 48%. Por outro, o país sofreu uma das mais graves recessões do Ocidente em 2009, quando seu PIB se contraiu 8%. O índice de desemprego se encontra atualmente ao redor de 8,5%. Em 2007 estava em 6,8%.

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