Estigmatizados após o 11 de Setembro, muçulmanos nos EUA ainda confiam no futuro - Por Sylvain Cypel
Muçulmano americano tem um risco duas vezes maior de ser discriminado pelo governo que um não muçulmano, segundo estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) de 2006.
Há um ano, pouco depois de explodir uma polêmica sobre a construção de um centro islâmico na periferia do Marco Zero, lugar dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York, outros manifestantes se mobilizaram em Staten Island, a menor das cinco circunscrições da cidade. O motivo era idêntico: impedir a construção de uma mesquita no bairro de Midland Beach. No entanto, recentemente foi inaugurada uma mesquita lá, que ninguém contestou. Presidente da seção nova-iorquina do Conselho de Relações Americano-Islâmico (Cair), principal associação muçulmana de direitos civis nos EUA, Zead Ramadan não se surpreende.
"A islamofobia é um fenômeno político", ele diz. "A hostilidade raramente vem das populações locais, ela é fomentada do exterior por grupos organizados, geralmente em função de interesses políticos." Há um ano, a mobilização contra a construção de mesquitas foi instigada, segundo ele, devido à aproximação das eleições legislativas. Depois que elas passaram, a agitação se acalmou. "Haverá uma forte recuperação ao se aproximar a eleição presidencial", prevê Ramadan.
Dez anos depois desses atentados "medonhos", "uma calamidade", segundo seus termos, onde estão os muçulmanos americanos? Sua comunidade, de 4 milhões a 6 milhões de indivíduos, representa menos de 2% da população americana. Ela se divide mais ou menos pela metade entre um grupo mais antigo de afro-americanos (1,5 milhão a 2,5 milhões dos 38 milhões de negros) e de imigrados recentes e seus descendentes. Esses são muitas vezes originários do subcontinente indiano, uma minoria é árabe e observa-se um crescimento regular dos originários da África negra.
À diferença de outros imigrantes, em particular hispânicos, seu nível médio de renda e de educação é superior à média americana. Quanto a sua "experiência", "os fatos são paradoxais", estima John Esposito, que ocupa a cadeira de estudos islâmicos na Universidade Georgetown em Washington: "Os que interrogamos dizem rapidamente sentir uma erosão de seu status e de sua aceitação; mas a maioria se diz também muito feliz de viver aqui. Melhor, em plena crise, sua confiança no sonho americano é bem superior à média."
Esses paradoxos se encontram nas pesquisas recentes: segundo um estudo Gallup (3.800 muçulmanos interrogados em abril), 60% declaram "se realizar cada vez mais" nos EUA, somente 3% se confessam "infelizes". Por outro lado, 48% enfrentaram recentemente uma discriminação, o índice mais alto de todas as comunidades pesquisadas. Quanto ao olhar que se tem deles, depois dos atentados, 14% dos americanos percebiam o islã como uma "religião que incentiva a violência"; esse número cresceu para se estabilizar desde 2005 em um terço dos pesquisados.
Entretanto, pouco depois do 11 de Setembro, conta Ramadan, "vizinhas vieram procurar minha cunhada e lhe propuseram: 'Dê-nos sua lista de compras que as faremos para você, para que não precise ir ao centro comercial de hijab'. A partir de 2004 ela recomeçou a sair sem temor; no pior dos casos às vezes ela ouve um comentário negativo."
O relatório publicado pelo Cair em 2002 notava uma "situação gravemente deteriorada dos direitos civis dos muçulmanos". Desde então, a associação constatou um movimento duplo: primeiro uma melhora regular da aceitação dos muçulmanos a partir de 2003, depois uma nova degradação a partir de 2008, estes enfrentando novamente uma hostilidade difusa ou declarada. Sua explicação: a eleição de Barack Obama instigou os fantasmas antimuçulmanos e sobretudo: "a América está em crise econômica. Como sempre, as minorias são apontadas com o dedo".
Em 2006, um estudo do MIT de Boston concluiu que um muçulmano americano tem um risco duas vezes maior de ser discriminado pelo governo que um não muçulmano, e um muçulmano que tenta entrar no território, seis vezes maior que um não muçulmano. O vice-ministro da Justiça, Thomas Perez, constatou em 2010 que as discriminações sociais desse grupo (na contratação, no trabalho, na moradia...) haviam aumentado 50% desde 2001. Quanto às violências, cerca de mil foram recenseadas em dez anos contra pessoas vistas como "muçulmanas" ou "árabes".
Mesmo que as autoridades só sejam informadas de um quarto dos casos, em relação à população global e em uma década o número não é impressionante. "Ninguém é linchado em público como foram por tanto tempo os negros", diz o responsável comunitário. "Mas a pressão cresce, e a preocupação dos nossos com isso." Uma preocupação não tanto física como devida a uma atmosfera que o professor Esposito resume assim: no dia seguinte ao 11 de Setembro, o pastor ultraconservador Jerry Falwell tratou Maomé como o "primeiro terrorista". Ele teve de pedir desculpas. Hoje os grupos islamófobos são conhecidos, e sobretudo "uma série de políticos navegam na ideia de uma ameaça islâmica interna, legitimando as piores declarações", ele diz.
A lista desses grupos se estendeu da Stop Islamisation of America, de Pam Geller, à Jihad Watch, de David Horowitz e Robert Spencer. Este último, autor dos livros "A Verdade sobre Maomé" e "O Guia Politicamente Incorreto do Islã", foi citado como fonte de inspiração por Anders Behring Breivik, o fanático autor do massacre de 22 de julho na Noruega. Spencer também é cronista do "New York Post" e "especialista" convidado para alguns debates na televisão.
Em 30 de agosto de 2008, a "Time" deu o título na capa: "A América é islamofóbica?", investigando esse fenômeno "inédito". O "New York Times" dedicou em 2010 um longo retrato a Geller, que se declara "racista" antimuçulmana. Ele insistiu em 31 de julho com David Yerushalmi, um religioso judeu ultraortodoxo apresentado como coordenador e financista do movimento islamófobo americano. Este privilegia dois temas recorrentes. Primeiro, a ideia de que a fidelidade dos muçulmanos à pátria americana é "enganadora" ou "ilusória" porque impossível; depois, a de que sua ambição é dominadora, com a vontade oculta de impor a todos a lei muçulmana, xariá.
Publicada em 2009, uma obra de Paul David Gaubatz e Paul Sperry, "A Máfia Muçulmana - No mundo secreto e subterrâneo que conspira para islamizar a América", constitui uma espécie de "Protocolo dos Sábios de Sião" transposto para Meca.
Esses delírios recebem um apoio mais ou menos assumido de certas publicações e de intelectuais americanos não considerados marginais. Como, por exemplo, a revista conservadora "American Thinker", cuja linguagem se torna incendiária desde que aborda o islamismo. O mais preocupante, diz Esposito, é que políticos "os legitimam": "Não é por acaso que Newt Gingrich declarou que o islã constituirá um dos temas chaves da próxima eleição presidencial". O ex-presidente republicano da Câmara dos Deputados é candidato à nomeação de seu partido para enfrentar Barack Obama na presidencial de 2012.
As chances de Gingrich são muito fracas. Mas, dez anos depois do 11 de Setembro, a questão assombra muitos muçulmanos: mesmo que a campanha sobre a suposta "religião oculta" de Obama pareça encerrada, muitos temem que o islã seja novamente promovido à categoria de tema polêmico em 2012. Este se enxertaria em um ambiente já pesado, onde, de um lado, o recente massacre norueguês aumentou os temores de que um "louco" cometa, sobre o fundo de islamofobia delirante, uma dessas chacinas habituais nos EUA. E onde, ao contrário, atentados como esse que custou a vida de 13 soldados e feriu outros 28 em uma base texana em 5 de novembro de 2009 e aquele, fracassado, de 1º de maio de 2010 em Times Square (Nova York), que poderia ter sido terrível, demonstraram que jovens muçulmanos americanizados são sensíveis aos apelos do jihadismo terrorista.
Em 2 de agosto, Denis McDonough, conselheiro adjunto da Defesa nacional, apresentou seu programa de combate ao islamismo radical. Seu prefácio é assinado por Barack Obama. "As comunidades americano-muçulmanas cujos filhos, famílias e vizinhos são visados pelo recrutamento da Al Qaeda são muitas vezes também os mais bem situados para assumir a frente" da luta contra o terrorismo, escreve o presidente.
Ramadan pretende se inscrever nesse voluntarismo. "A Constituição e a democracia salvam este país de suas más inclinações; são nossas melhores proteções", proclama. O professor Esposito quer ser otimista: "O 11 de Setembro teve efeitos terrivelmente negativos para os muçulmanos, mas não modificou o sentido da evolução. Historicamente, católicos e judeus igualmente se chocaram com grandes hostilidades, hoje esquecidas. Os muçulmanos ainda conhecerão altos e baixos na América. Mas, se nenhum drama maior intervier, sua via será a mesma: a de uma integração finalmente bem-sucedida."
Enquanto isso, constata o primeiro, cada vez mais pais "temem por seus filhos". "Eles tentam facilitar sua integração 'anglicizando' seus nomes." Samir ou Oussama tornam-se Samy; Shakira ou Soraya, Sara... Como entre todos os imigrantes do mundo.
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