A espiritualidade humana pode ajudar o futuro sustentável - Por Mariana Gold


Ouvimos por aí, com frequência cada vez maior, que precisamos criar um futuro    sustentável. Olhar, avaliar e tomar conta do mundo de forma mais firme. Empreendimento árduo e coletivo de valorização do nosso destino comum. Na minha compreensão, diferente do modelo dos cientistas sociais e economistas - possivelmente porque trabalho longe do campo deles -, esse desenvolvimento, para existir, necessita brotar de uma renovação espiritual.
Isso mesmo, acredito em "sustentabilidade espiritual". Claro que sei da importância da ecologia, da agricultura orgânica, das fontes alternativas de energia, mas entendo que a base para dinamizar essas urgentes propostas é a espiritualidade humana: confiança e generosidade.
Sugestão que sinto válida nos dias atuais: crescer espiritualmente ao compreender que, embriagados de desejo material, batizados na cultura do consumo, afastamos possibilidades de felicidade. Precisamos extirpar de dentro de nós essa fome perpétua e opressora, avaliar as coisas ao redor de maneira diferente, buscando outras possibilidades, de maior valorização dos conhecimentos.
Simples assim: pertencemos à Terra, e não vice-versa. O mundo moderno fala muito de valor; o esoterismo segue preocupado com os sentidos, diferença brutal de escolha. Nesse sentido, admiro cada vez mais o Dalai Lama. Pena que não sejam noticiadas suas reflexões sobre justiça e economia, sua lúcida crítica aos excessos de desejo e cobiça, perigos corrosivos da cupidez.
Geralmente o líder dos monges tibetanos é retratado como "bonzinho", dotado de uma sabedoria que alcança o outro mundo sem chegar muito perto deste. Um engano. Sua base espiritualista não é uma grande tenda de incensos, é sim uma "tecnologia do eu" (para usar uma expressão da moda) que pode ser empregada contra as sombras vorazes da nossa realidade.
Dalai Lama ensina que o valor real de alguma coisa não é sua capacidade de satisfazer uma vontade, uma vaidade, mas de atingir a necessidade de bem-estar. Como não elogiar tal compreensão? Como não aceitar que, cedo ou tarde, adotaremos essa visão - para maior liberdade e justificativa do viver.

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