Freiras enclausuradas exibem presépio guardado há três séculos no Equador


Guardado durante 306 anos entre os grossos muros do convento de clausura do Carmen Bajo de Quito, um presépio de cerca de 500 peças feitas no século 18 se transformou em uma das principais atrações na capital do Equador e pretexto para uma aproximação à vida contemplativa das carmelitas.


As freiras carmelitas abriram as portas do convento ao público para que aprecie as figuras em uma sala dedicada completamente ao presépio natalino. A cena que representa Herodes e suas dançarinas compreende bonecas de madeira com as quais brincavam as noviças que, no século 18, entravam muito cedo na ordem, segundo explica Lorena Albán, guia da exposição.

Jose Jácome - 23.dez.11/Efe
Presépio de cerca de 500 peças feitas no século 18 se transformou em uma das principais atrações na capital do Equador
Presépio de cerca de 500 peças feitas no século 18 se transformou em uma das principais atrações em Quito


"As meninas de 13 ou 15 anos entravam como um dote que a família dava à igreja. Chegavam com suas bonecas de madeira e elas as vestiam", relatou.

No entanto, devido à austeridade exigida nas celas, as noviças não podiam ter consigo suas bonecas, por isso que passaram a fazer parte do presépio.

Além dessas bonecas e das peças em madeira da Escola Quiteña, de alto perfeccionismo, também aparecem figuras doadas de porcelana que destoam do conjunto.

O presépio encena a anunciação do arcanjo Gabriel à Virgem Maria, a visita de Maria a sua prima Isabel, o nascimento de Jesus, sua apresentação no templo e sua perda nesse mesmo templo anos depois.

Todas estas cenas são recriadas em diferentes regiões do Equador e oferecem uma mostra dos diferentes estilos arquitetônicos.

ROTINA DO CONVENTO

"Foi uma oportunidade para poder compartilhar todo este tesouro que nossas irmãs cuidaram em gerações passadas. Enche-nos de alegria que os demais possam apreciar toda esta habilidade", disse Raquel de Santa Teresita, 52, que superou sua timidez perante as câmeras da imprensa.

A religiosa, que passou 33 anos enclausurada, contou que o presépio "sempre esteve bem resguardado", mas a passagem do tempo e as traças o afetaram, e que uma restauração será necessária.

Jose Jácome - 23.dez.11/Efe
Freiras carmelitas abriram as portas do convento ao público para que aprecie as figuras em sala dedicada ao presépio natalino
Freiras carmelitas abriram as portas do convento ao público para que aprecie objetos em sala exclusiva

A visita de centenas de pessoas alterou a vida das 13 freiras, a mais nova de 18 anos e a mais velha com 91, pois abriram ao público parte do convento, construído no século 18, embora tenham reservado o claustro para sua vida contemplativa.

Os visitantes podem apreciar o presépio que está em uma sala sobre uma pequena escadaria e coberto por um vidro, mas também puderam descobrir algo sobre o estilo de vida das freiras, graças a um percurso guiado.

Na saída dessa sala, um corredor emoldurado por grossos muros e arcos que deixam ver um pequeno jardim leva a um quarto.

Nessa fria cela se aprecia uma cama pequena, uma mesinha com a bíblia e outros livros, uma pequena jarra para a água do asseio, cilícios pendurados na parede e um manequim com a vestimenta tradicional das freiras carmelitas.

O percurso pelo silencioso convento continua, entre esculturas e quadros também do século 18, rumo ao coro alto.

As cores pastel usadas no mural do coro lembram os artistas do século 19 que pintaram a iniciação da ordem dos carmelos no século 7.

Do coro, que conta com um órgão italiano do século 19, que já não usam, se observa a igreja do Carmen Bajo, situada no centro histórico de Quito, catalogada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

As religiosas também abriram ao público seu refeitório despojado de móveis e decorado com outro presépio elaborado há meio século em madeira e papel. Ali as freiras vendem produtos feitos por elas como escapulários, rosários, bolachas, cremes e águas para a limpeza facial.

O percurso também leva à entrada do cemitério onde se enterram as religiosas da ordem. "Cabe a frase que daqui nem morta me tiram", comentou a guia Lorena.

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