Igrejas evangélicas sofrem para encontrar locais para cultos na França - Por Stéphanie Le Bars


É preciso abrir caminho entre os carros estacionados de forma aglomerada no minúsculo pátio, subir uma escada estreita onde duas pessoas mal conseguem se cruzar, antes de chegar até a sala de culto improvisada sob o teto de uma casa escondida numa rua do subúrbio parisiense. 

Os protestantes evangélicos egípcios, que no último domingo (15/04) celebram em árabe a Páscoa oriental ao som de um acordeom tradicional, se acotovelam sob as vigas de um telhado baixo demais para os mais altos. Apesar da multidão, portas e janelas permanecem fechadas. Um dos líderes do culto avisa: "Evitem permanecer no pátio ou na calçada, para não atrapalhar os vizinhos".

Os diretores da associação, que preferiram manter o anonimato, reconhecem implicitamente que o local provavelmente não está totalmente dentro das normas. Há seis anos, uma centena de pessoas se encontram ali toda semana, felizes por poderem rezar em sua língua materna. Assim como a Igreja filipina, tâmil ou a magrebina, que passam ali todos os domingos, a associação egípcia aluga o local para uma comunidade africana. Por falta de opção melhor.

O desmoronamento do primeiro piso de um local de culto evangélico haitiano, que resultou em duas mortes, no dia 8 de abril, em Stains (Seine-Saint-Denis), evidenciou a precariedade na qual milhares de fiéis rezam todos os domingos, sobretudo na região parisiense. 

Porões, armazéns, casas particulares, salas de eventos em hotéis de zonas industriais, recintos ampliados desprezando regras de segurança... Diante dos preços proibitivos dos terrenos da área, todas as soluções são benvindas para as 400 igrejas evangélicas, em atividade e em crescimento, na região.

Os horários concedidos por Igrejas protestantes históricas, ou até por paróquias católicas, não são mais o suficiente. Uma situação tensa que faz alguns proprietários de imóveis lucrarem. "Conhecíamos os senhorios inescrupulosos, mas há também os exploradores de culto, que alugam uma sala, mesmo fora das normas, a 300 euros por duas horas", lamenta a pastora Marianne Guéroult, que estabelece relações com as Igrejas oriundas da imigração para a Federação Protestante da França (FPF).

Francis, diretor de uma Igreja ganense em Seine-Saint-Denis, que também prefere permanecer anônimo, só pensa em uma coisa: deixar os "60 metros quadrados alugados no domingo das 14h às 17h por 600 a 1.000 euros por mês". 

Sua Igreja possui mais de 100 fiéis que se amontoam ali "pela fé": "Mas precisamos de um lugar maior, mais convivial, pois não podemos crescer mais. Às vezes, as pessoas ficam enojadas com as condições e não voltam mais." No prédio, as Igrejas "giram" durante todo o domingo. 

"Ouvimos os cantos dos cultos que são feitos ao lado. Limitamos a dez minutos o uso dos instrumentos e cantamos sem música para incomodar menos". Com um orçamento mensal de "800 euros no máximo", Francis está desesperado para encontrar um local adaptado próximo da periferia.

Alexandre, o presidente da associação egípcia, dispõe de 2.500 euros por mês, mas desde 1997 vem enfrentando uma sucessão de recusas. "Primeiro, uma prefeitura nos recusou a venda de um local junto a um conjunto habitacional, alegando que ele não era adequado para o culto. Recentemente, uma outra não nos autorizou a construir em um terreno de nossa propriedade", lamenta ele placidamente.

Um outro líder é mais direto: "Temos dois inconvenientes: somos árabes e evangélicos. Não temos apoio nenhum. Precisaríamos rezar na rua vários domingos em seguida para sermos ouvidos". A alusão aos muçulmanos é clara e, nos meios evangélicos, muitas vezes pouco afável. "As prefeituras nos recusam a locação de imóveis por medo de terem de alugar também aos muçulmanos ou porque eles já alugaram para eles!", conta Alexandre. Ele espera que a tragédia de Stains conscientize o poder público sobre a urgência da situação para as Igrejas evangélicas.

A FPF garante ter "cerca de vinte pedidos" por parte das Igrejas em busca de instalações. Elas contam com a fama da FPF para acompanhá-las, um papel de apoio e de ajuda jurídica também garantido pelo Conselho Nacional das Evangélicas da França (CNEF). "Em Seine-Saint-Denis", garante seu vice-presidente Daniel Liechti, "metade de nossa centena de Igrejas não estão satisfeitas com suas instalações".

"Durante dez anos procurei um lugar e não consegui encontrar", conta o pastor haitiano Luc Saint-Louis, à frente de uma comunidade com 150 membros. "Para uma Igreja somente e para alguém de cor, era muito difícil. Quando decidimos comprar um antigo supermercado, o fato de um membro do CNEF ter me acompanhado tranquilizou a prefeitura". 

Essa iniciativa tende a se popularizar. "Com exceção daquelas que vivem na clandestinidade em torno de um pastor autoproclamado, e cujo número é difícil de estimar, as Igrejas querem cumprir as normas e fazer parte do protestantismo francês", garante o pastor Guéroult.

A ausência de redes, o desconhecimento dos procedimentos, os problemas financeiros não explicam sozinhos as dificuldades. O desconhecimento do meio evangélico também suscita as reticências de certas prefeituras. "Eles alegam que nossas atividades não são compatíveis com uma zona industrial, que o terreno está previsto para outras atividades ou que já existem locais de culto na cidade", explica Boubacar Doumbia, pastor das Assembleias de Deus, cuja Igreja acaba de se mudar para as instalações adquiridas... em 2006.

Os representantes das Igrejas confirmam as reticências. "Alguns prefeitos alegam o temor do comunitarismo", diz Guéroult. "Por que as prefeituras não facilitam uma instalação temporária, enquanto as Igrejas não encontram um local?", pergunta Liechti, que aponta razões políticas. 

"Ao contrário dos muçulmanos, os evangélicos nem sempre moram na comuna onde eles querem se instalar. Além disso, as prefeituras não entendem que os fiéis se reúnam por afinidades, e que vários locais de culto são necessários dentro de uma mesma cidade".

Desde a tragédia de Stains, as comunidades temem um aumento da fiscalização sobre a segurança, e alguns têm medo de irem parar na rua. No local com o qual sonha, Alexandre gostaria de organizar um culto nas manhãs de domingo em francês, "para os jovens", e à tarde em árabe, "para os mais velhos". E ter a sensação de enfim "estar em casa".

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde

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