Mario Schenberg, crítico de arte - Por Fábio de Castro
Considerado um dos físicos teóricos mais importantes do Brasil, graças à relevância e ao pioneirismo de sua obra científica, Mario Schenberg (1914-1990) foi também um respeitado crítico de arte.
Um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) enfocou essa segunda faceta da personalidade de Schenberg, revelando as condições que o levaram a exercer duas atividades aparentemente díspares, conciliando pensamento científico e estético.
O estudo, que correspondeu ao mestrado de Alecsandra Matias de Oliveira, realizado com Bolsa da FAPESP e defendido em 2003 na Escola de Comunicações e Artes (ECA), foi a base para o livroSchenberg: crítica e criação, publicado recentemente pela Edusp.
Formada em História pela USP, Oliveira começou a estudar a obra de Schenberg durante sua iniciação científica, também com Bolsa da FAPESP, no Centro Mario Schenberg, da ECA-USP, coordenado por Elza Maria Ajzenberg. Depois do mestrado, com orientação de Ajzenberg, Oliveira cursou doutorado em História da Arte no Museu de Arte Contemporânea da USP, onde atua atualmente no setor de Projetos Especiais.
Segundo Oliveira, a pesquisa utilizou um método analítico, além do exercício comparativo entre dados históricos gerais e fontes primárias e secundárias.
O ponto de partida do estudo foi a tentativa de compreender quais foram as condições que levaram um físico reconhecido internacionalmente a se interessar por questões estéticas a ponto de desenvolver uma atividade paralela na crítica de arte.
“A principal característica de Schenberg como crítico é que ele não se prendia a regras. Era essencialmente intuitivo. Tinha uma ligação profunda com muitos artistas e se interessava profundamente pelo papel do criador. Não era um crítico como os outros, que tinham um espaço fixo em colunas jornalísticas. Era um crítico de catálogo. Os artistas o procuravam para escrever sobre as obras”, disse Oliveira à Agência FAPESP.
Schenberg tinha uma personalidade rica e complexa, sujeita a diversos desdobramentos. Além da física e da crítica de arte, atuou na política, elegendo-se deputado estadual duas vezes em São Paulo. Marxista, foi cassado durante a ditadura de 1964 por suas ligações com o partido comunista. O zen-budismo também teve um papel importante em seu pensamento.
“Ele era um cidadão múltiplo, que tinha uma maneira de pensar abrangente e agregadora. O universalismo dessas várias facetas se reflete em sua crítica de arte. Ele não fazia uma separação entre ciência, arte, política e religião. Em sua visão, esses eram aspectos inseparáveis da vida”, disse.
O trabalho de Schenberg como crítico de arte, segundo Oliveira, intensificou-se a partir de 1964, quando foi afastado da universidade pelo regime militar. “Sem possibilidade de acesso físico ao campus da USP, ele passou a atuar firmemente na crítica de arte”, contou.
Se entre os físicos Schenberg trabalhou com nomes mundialmente reconhecidos, como José Leite Lopes, César Lattes e Gleb Wataghin, no campo artístico teve relações estreitas com Di Cavalcanti, Lasar Segall, Cândido Portinari, Marc Chagall e Pablo Picasso. Escreveu artigos de crítica sobre artistas como Alfredo Volpi, Hélio Oiticica e Lígia Clark.
“A comunidade artística tinha uma relação muito profunda com ele. Além de conviver com alguns dos artistas mais interessantes da época, Schenberg apoiou a carreira de diversos jovens artistas que hoje são consagrados. Por duas vezes foi convidado pelos artistas para compor o júri da Bienal de São Paulo”, disse Oliveira.
Um dos aspectos originais da atividade de Schenberg como crítico de arte, desvendado pela pesquisa, era o uso da fotografia como recurso. “Ele praticamente só trabalhou com fotos. Fotografava as telas ou esculturas e elaborava seu texto crítico a partir das imagens”, disse.
- Schenberg: crítica e criaçãoAutora: Alecsandra Matias de OliveiraLançamento: 2011Mais informações: www.edusp.com.br/detlivro.asp?ID=412059Fonte: http://agencia.fapesp.br
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