Para entender o agora - Por Kim Doria
OCCUPY: MOVIMENTOS DE PROTESTO QUE TOMARAM AS RUAS - Autores diversos, Ed. Boitempo
O ano de
2011 foi marcado pela irrupção de uma série de movimentos de protesto que
ocuparam as ruas do norte da África, Europa, Estados Unidos e América do Sul.
Desde então esses eventos vêm marcando o cenário político global e são tema dos
artigos que compõem essa coletânea publicada em coedição pela Boitempo e Carta
Maior, escritos por pensadores críticos de diversas nacionalidades.
Uma das
principais restrições da grande mídia aos movimentos de protesto diz respeito à
sua falta de programa. O fato, encarado de forma negativa pela opinião pública,
é apresentado como virtude por Vladimir Safatle, para quem a disposição ao
debate por parte dos manifestantes garante o tempo necessário para “o
pensamento agir”.
Para
Slavoj Žižek, o tabu foi rompido: a predominância do liberalismo no cenário
político não nos trouxe o melhor mundo possível, razão pela qual temos o dever
de pensar em alternativas. Precisamos, contudo, evitar a tradução apressada da
energia das manifestações em propostas pragmáticas concretas, pois qualquer
discussão a essa altura será nos “termos do inimigo”. As pessoas protestando
nas ruas são respostas para perguntas ainda não formuladas; cabe a nós
dedicarmo-nos a essa reflexão.
É um
livro de intervenção na medida em que se dedica à formulação de perguntas,
tratando a história desses protestos como viva ao se esquivar de uma abordagem
“retrospectiva”. David Harvey afirma que, para os movimentos terem êxito como
projetos anticapitalistas, devem se esforçar para atingir efetivamente os 99%
que dizem representar.
Não é uma tarefa simples: para conseguirmos nos voltar
às questões que realmente importam, acerca dos bens comuns à humanidade,
devemos nos dispor ao debate radical e saber formular exigências que pareçam
impossíveis (cuja realização, imprescindível para nossa sobrevivência, somente
seja possível fora do sistema capitalista). Occupy é um bom convite para
abraçarmos a incerteza e deixarmos de lado a perigosa segurança de falsas
certezas.
Kim Doria - Formado em Comunicação Social pela Facom/Faap e
pesquisador em crítica cultural e filosofia política contemporânea.
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