Governo francês pretende criar vagas para atuação de capelães muçulmanos em presídios - Stéphanie Le Bars
A captura de jovens islamitas no
dia 6 de outubro e a ênfase colocada em sua suposta radicalização na prisão
precipitaram o anúncio do governo sobre a criação de vagas para capelães
muçulmanos: 15 postos para tempo integral foram incluídos no orçamento de 2013,
sendo que “um mesmo esforço” foi garantido para 2014, afirmou a ministra da
Justiça, no dia 11 de outubro.
Mas estaria certa a ministra
quando garante que essas vagas suplementares permitirão cobrir cerca de trinta
novos estabelecimentos penitenciários? Provavelmente não. “É uma boa notícia”,
reconhece o capelão-geral muçulmano das prisões, Moulay Alaoui Talibi, “mas
esse orçamento servirá sobretudo para fidelizar aqueles que já desempenham essa
função em caráter voluntário”.
Apresentados, com razão, como
fatores de apaziguamento e de monitoramento junto a detentos muçulmanos em
busca de práticas religiosas ou àqueles tentados pelo extremismo, os capelães
muçulmanos estão em número sabidamente insuficiente. Cerca de 150 pessoas
desempenham essa função, sendo que menos da metade deles são remunerados,
segundo o capelão-geral.
Organizada há menos de dez anos,
a capelania muçulmana não chega nem perto de atender a demanda: em vários
estabelecimentos, mais da metade dos detentos são de cultura muçulmana, segundo
especialistas do meio.
Fazendo uma comparação, os católicos dispõem de
aproximadamente 700 capelães, os protestantes de 300 e os judeus de uma
centena. “Em Fleury-Mérogis, somos seis capelães muçulmanos, sendo que seriam
necessários uns vinte”, conta Abdelhak Eddouk, um deles.
Mas, para eles, o dinheiro não é
o único obstáculo. “Um dia de arrecadação por ano nas mesquitas seria o
suficiente para financiar a capelania do presídio”, ele garante. “A questão é
mais saber como atrair os jovens e treiná-los bem, sabendo que um trabalho em
período integral de capelão paga 720 euros líquidos”.
Assim como para a função de
imames, faltam candidatos de qualidade. “Precisamos de jovens que falem bem
francês e árabe, de mente aberta, com vocação para o mundo carcerário e bons
conhecimentos teológicos”, acredita Alaoui Talibi. A formação teológica depende
das federações muçulmanas e dos países estrangeiros. “É importante não indicar
imames autoproclamados radicais ou capelães que não dão conta”, ele insiste.
Não existem muitos desses perfis.
“Os capelães são em parte aposentados e as vagas costumam ser atribuídas em
função de redes relacionais, associadas aos países de origem, sobretudo a
Argélia”, afirma um especialista do Ministério do Interior.
“Alguns deles
também se candidatam para regularizar sua situação”, garante uma outra fonte
próxima da questão. “Elimino muitas fichas,” confirma o capelão-geral, que olha
as nomeações antes que elas sejam validadas pelo governo.
Paralelamente, assim como todos
seus antecessores nos últimos dez anos, o ministro do Interior, Manuel Valls,
lembrou sua vontade de ter “imames franceses, capelães franceses”. Iniciativas
para formar uma “equipe muçulmana” pela legislação e pelo contexto francês são
tentadas regularmente.
A última, lançada em Lyon em janeiro, está começando a
receber os candidatos que precisam... de aulas de francês como língua
estrangeira. Mas esses cursos não religiosos dificilmente vingam. O que foi
criado no Instituto Católico de Paris em 2008 não será aberto este ano, por
falta de financiamento público e de candidatos em número suficiente. Uma
realidade que contrasta com os discursos voluntaristas dos diferentes governos.
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