Mo Yan vence Nobel da Literatura
O mais prestigiado dos galardões
internacionais na área das letras foi atribuído ao escritor chinês Mo Yan,
anunciou hoje a Academia Sueca, em Estocolmo.
"Com um realismo
alucinatório, [Mo Yan] funde contos populares, história e o
contemporâneo", destacou o júri.
Nascido em 1956, Mo Yan é um dos
escritores chineses contemporâneos mais publicados fora da China, nomeadamente
no Japão, França, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos.
"Ele é o mais qualificado
escritor chinês para ganhar o Nobel", disse Yang Xiaobin, um poeta e
critico citado hoje por um jornal de Pequim e que há vários anos vinha
"recomendando" a atribuição do prémio a Mo Yan.
Os romances do escritor chinês
galardoado hoje com o Prémio Nobel da Literatura, estão enraizados na China
rural, onde nasceu, mas revelam também influências do "realismo
mágico" e outras correntes ocidentais, dizem críticos e tradutores.
William Faulkner, Gabriel Garcia
Marquez, Oe Kenzaburo e Rabelais são os autores preferidos de Mo Yan, disse o
professor norte-americano Howard Goldblatt, um dos mais conhecidos tradutores
de literatura chinesa, entre os quais três títulos do autor distinguido agora
pela Academia Sueca.
Em Portugal foi publicado em 2007
o livro "Peito grande, ancas largas", traduzido por João Martins e
editado pela Ulisseia.
Mo Yan considera que "um escritor
deve enterrar os seus pensamentos e transmiti-los através dos personagens dos
seus romances". O pseudónimo que criou - Guan Moye - significa, aliás,
"não fales".
Mo Yan (pseudónimo literário de
Guan Moye) nasceu na província de Shandong, leste da China, "no seio de
uma família pobre" e "foi forçado a abandonar a escola primária
durante a Revolução Cultural (1966-76)", diz o Dicionário Biográfico de
Modernos Escritores Chineses, publicado na década de 1990.
Segundo a mesma biografia, o
futuro escritor tornou-se então camponês e aos 20 anos, ingressou no Exército,
onde "serviu como funcionário de segurança e instrutor político e de
propaganda".
A sua primeira obra literária, um
conto que começou a escrever enquanto ainda era soldado, saiu em 1981. Seis
anos depois publicou um romance de grande sucesso, "Red Sorghum", que
seria adaptado ao cinema por Zhang Yimou. O filme, com Gong Li e Jiang Wen,
ganhou o Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim em 1988.
Entre os títulos que Mo Yan
publicou a seguir figuram "The Republic of Wine" (2000), "Peito
grande, ancas largas" (2007) - único editado em Portugal, pela Ulisseia -
e "Life and Death are Wearinng me out", todos traduzidos por Howard
Golblatt, professor de chinês na Universidade de Notre Dame, nos Estados
Unidos.
Em 2011, Mo Yan ganhou o Premio
Mao Dun, o mais importante galardão literário oficial do país, e foi eleito
vice-presidente da Associação dos Escritores da China.
O seu mais recente romance,
"Frog", aborda um tema especialmente sensível: a prática de abortos
forçados na China devido à drástica política de controlo da natalidade imposta
há três décadas sob a fórmula "um casal, um filho".
Prémio desceu para 926 mil euros
O Nobel da Literatura tem um
valor pecuniário de 926 mil euros - a crise económica internacional ditou uma
redução do valor que era de 1,1 milhões de euros - e é considerado o mais
prestigiado dos galardões internacionais na área das letras. Dos 109 Nobel da Literatura
atribuídos, apenas 12 foram entregues a mulheres.
José Saramago foi o único
escritor português a ser galardoado com a distinção, que recebeu em 1998. No
ano passado, o prémio foi atribuído ao poeta sueco Tomas Transtromer.
Mo Yan entra assim no restrito
grupo de 109 autores laureados. Desses 109, dois recusaram a distinção: Boris
Pasternak (1958) rejeitou por causa do significado do prémio na antiga União
Soviética e Jean Paul Sartre (1964) declinou porque sempre rejeitou honrarias,
além de achar que a distribuição dos prémios não respeitava a igualdade entre
culturas e povos.
Em 1914, 1918, 1935, 1940, 1941,
1942 e 1943, o Nobel da Literatura não foi entregue a ninguém, por causa das
guerras mundiais e, sobretudo, porque a Academia considerou que ninguém preenchia
o desígnio do Nobel da Literatura.
Fonte: http://noticias.sapo.pt
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