Russomano, Serra e Haddad: O interessante (e interessado) jogo das igrejas em São Paulo – Por Vitor Hugo Soares
Estou dentro de um táxi, de
passagem pela politicamente efervescente cidade de São Paulo, na reta de
chegada de uma das mais pegadas e cruciais campanhas eleitorais em disputa pela
prefeitura da mais rica e cobiçada cidade do País.
O veículo avança graças à
perícia do motorista mineiro (eleitor em Sampa) que o dirige no meio do
complicado trânsito do sábado, na corrida para um endereço nas imediações do
Parque Ibirapuera.
No “farol” dos paulistanos, “sinaleira” dos
baianos de Salvador, o carro pára por instantes.Tempo suficiente, no entanto,
para a discreta aproximação do homem bem vestido no traje semelhante ao usado
comumente, nas cidades e vilarejos brasileiros, por pessoas a caminho dos
cultos nas igrejas evangélicas, em fins de semana. No lugar de um exemplar da
Bíblia, o cidadão carrega um pacote de “santinhos” de propaganda eleitoral.
Ele se aproxima e bate discretamente no vidro
semi aberto da janela do veículo. Em tom suave e educado, se dirige aos três
ocupantes do táxi, incluindo o motorista: “Posso entregar um destes aos
senhores?”.
Na mão direita, retirado do pacote de panfletos, ele oferece um
retrato sorridente do candidato do PRB a prefeito de São Paulo, Celso
Russomano, que lidera com folga as pesquisas de intenção de votos de todos os
institutos, a sete dias da eleição.
Enquanto isso, o petista Fernando
Haddad e o tucano José Serra suam a camisa, esquentam os próprios miolos e
puxam pelos padrinhos e aliados políticos ou
marqueteiros, na busca do “milagre” que pode livrar um deles da suprema
humilhação de não obter a votação
suficiente para alcançar o segundo turno na eleição de domingo que que vem, 7 de outubro, cada dia mais próximo e
ameaçador.
Rapidamente, como na famosa e singular canção
do carioca Paulinho da Viola, o sinal abre e o motorista arranca firme com o
táxi, na rota do endereço indicado. Não deu tempo de receber a propaganda do candidato da mão do
“militante”.
Margarida (minha mulher,
também jornalista) reclama: “Oh, eu queria ler o que estava escrito no panfleto
de Russomano. Quem sabe trazia alguma dica para ajudar a entender tamanha
aceitação dos eleitores paulistas…”
O motorista do norte de Minas, tão educado e
elegante quanto o senhor do “farol”, pede desculpas: “não deu desta vez”.
Alguns metros adiante, porém, surgem novos sinais (ainda mais nítidos e
numerosos) que ajudam quem vem de
fora a entender melhor “o fenômeno
Russomano”.
Na altura de um dos espaços de
maior movimentação popular do parque, próximo ao grande e tradicional shopping
da cidade, frequentado por gente de classe média em seus diferentes estágios
alfabéticos. Dezenas de pessoas – jovens e adultos, homens e mulheres vestidos
com modelos parecidos ao do homem da
“sinaleira” – acenam bandeiras em azul e branco com o nome de Russomano,
o candidato apoiado ativa e maciçamente pelos evangélicos, igreja do bispo Edir
Macedo ( a IURD) à frente).
É quase hora do almoço na tarde de sábado na
capital paulista, mas o entusiasmo não arrefece. As bandeiras são acenadas com
vigor e disposição bem característicos “da militância político-religiosa”.
Impossível para o jornalista visitante não recordar de outras campanhas e de
outras bandeiras nas ruas de São Paulo e do País.
As vermelhas com estrela do
PT de Haddad e Lula, por exemplo, que praticamente desapareceram das praças, avenidas ou das janelas das casas e apartamentos
nestes dias decisivos da campanha em Sampa, pelo menos no sábado motivador
destas linhas ).
Muitos dos estandartes eram
bordados e costurados, então, no seio dos sindicatos. Mas igualmente nas sedes
das antigas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), da Igreja Católica, com
aprovação e até participação direta de muitos padres, freiras, bispos e até
cardeais.
Como não lembrar igualmente dos
velhos militantes de guerra do PSDB, do candidato a prefeito José Serra e de
seu escudeiro Fernando Henrique Cardoso de antigas campanhas eleitorais? Dos estandartes
tucanos agitados nas ruas, muitos deles igualmente confeccionados nas
sacristias?
Afinal, nos combativos “núcleos de discussão” da extinta Ação
Popular (AP), organização de jovens católicos “de esquerda” , foi formado
politicamente o líder estudantil e ex-presidente da UNE, José Serra, que agora
briga com Haddad para chegar ao segundo turno no pleito paulistano.
Pelo que vi e ouvi nestes dias
agitados da passagem por São Paulo, que ninguém se iluda: as igrejas
(evangélica, do bispo Edir Macedo, e católica, do arcebispo Odilo Scherer)
prosseguem no jogo político-eleitoral, aberta ou disfarçadamente. É bem
provável, até, que joguem papel decisivo antes da apuração dos votos da eleição
de 7 de outubro na maior e mais importante cidade do Brasil.
É um jogo interessante que merece
atenção. Resultados, a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista.
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