Obras de Arcangelo Ianelli - Por José Tadeu Arantes
Reproduções de obras de Arcangelo
Ianelli seguem na FAPESP até 19 de dezembro. Mostra está aberta a escolas
interessadas em apresentar a obra da artista a seus alunos
Já se tornou tradição ilustrar o
Relatório de Atividades da FAPESP com reproduções fotográficas de obras de
grandes artistas que percorreram suas trajetórias no Estado de São Paulo.
Além de constituírem um
contraponto às tabelas e gráficos que compõem o relatório (por meio dos quais a
instituição presta contas à sociedade sobre o trabalho realizado ao longo do
ano anterior), essas imagens configuram também um tributo às artes plásticas
paulistas, tão relevantes para a cultura brasileira.
Tal orientação foi adotada pela
primeira vez no Relatório de Atividades 2005. Desde então, a FAPESP homenageou
Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Candido
Portinari e Anita Malfatti. Arcangelo Ianelli foi incorporado, agora, a essa
galeria ilustre.
O Relatório de Atividades 2011,
lançado no dia 31 de outubro, traz reproduções de pinturas e esculturas desse
artista que se tornou um nome referencial do abstracionismo geométrico
brasileiro.
Juntamente com o lançamento do
Relatório 2011 foi aberta na sede da FAPESP a exposição de reproduções das
obras que ilustram a publicação. A mostra ficará aberta ao público até o dia 19
de dezembro. Escolas interessadas em apresentar a obra da artista a seus alunos
podem agendar visitas de segunda a sexta-feira pelo telefone (11) 3838-4394.
Nascido em São Paulo, filho de
pais oriundos do sul da Itália, Arcangelo Ianelli (1922-2009) começou a
desenhar muito cedo, como autodidata. Buscando uma formação mais sólida,
matriculou-se em 1940, aos 18 anos, na Associação Paulista de Belas Artes.
Mas logo trocou o ensino
convencional daquela instituição pelos cursos livres de Colette Pujol e
Waldemar da Costa. No ateliê deste último, teve três colegas que se tornariam
personagens obrigatórios da história das artes plásticas brasileiras do século
20: Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi e Maria Leontina.
Os desenhos e pinturas juvenis
dos anos 1940 já apresentam um artista sofisticado, despojado no tema e
rigoroso na execução: características que Ianelli desenvolveria e seriam as
marcas distintivas de sua obra madura.
A simplificação da cena e a
construção precisa do espaço pictórico, muito evidentes nas pinturas
figurativas da década seguinte, indicam claramente uma direção e um sentido: o
artista caminha lenta, mas seguramente, para a abstração, buscando, para além
da epiderme dos objetos, a estrutura geométrica subjacente.
Não é a recusa da realidade, mas
a busca de um nível mais profundo de realidade que o impulsiona. Nesses anos
1950, sintonizado com a tendência da época, caracterizada pela atuação de
importantes coletivos artísticos, Ianelli integra o Grupo Guanabara, junto com
Mabe, Takaoka, Mori, Handa, Fukushima e Wega Neri.
Katia Ianelli, filha do pintor,
retratada como menina em uma obra excepcional de 1956, lembra sua infância no
ateliê do pai: “Eu e meu irmão transitávamos por ali livremente, em íntima
convivência com tintas, pincéis, telas e chassis. Podíamos brincar à vontade. A
única exigência era o silêncio, uma condição essencial para o artista durante o
seu trabalho”, disse à Agência FAPESP.
As primeiras pinturas abstratas
datam do início da década de 1960. Geometrizantes, mesmo quando não
inteiramente geométricas, contrapondo às vezes soluções lineares a soluções
pictóricas, manifestam, desde o início, um forte interesse pela superfície
material da obra, que se expressa na densa camada de óleo sobre a tela,
resultado de muitas pinceladas superpostas.
Esse compromisso com a
materialidade, com a tessitura, se mantém nas pinturas de grandes dimensões dos
anos 1970. Mas, nestas, a matéria se torna cada vez mais depurada, mais sutil,
como se, em vez de ser adicionada, a tinta fosse subtraída à tela. E a forma,
agora puramente geométrica, se sobressai como o elemento dominante.
A extrema simplificação dessas
obras é fruto de um trabalho consciente e persistente. Esse esforço reiterado
em busca da depuração, que as pinturas afirmam com silenciosa eloquência, é
confirmado pelo testemunho da filha do artista.
“Trabalhei por mais de 30 anos ao
lado de meu pai, tendo-me tornado restauradora de pintura. Com ele tive a
oportunidade de aprender muito sobre técnica e sobre a dedicação incondicional
ao trabalho. Para ele, a inspiração resultava de horas de entrega ao fazer
artístico, na busca incessante da pintura em sua forma simples, mais pura”,
disse Katia.
Katia acrescenta uma informação
interessante acerca das obras geométricas dos anos 1970. Elas foram pintadas
com têmpera, pois, nessa época, devido a uma intoxicação por chumbo, Ianelli
suspendeu a pintura a óleo, para a qual só voltaria dez anos mais tarde.
“Ele costumava dizer que a
têmpera havia lhe ensinado uma grande lição: a transparência das cores.
Transparência que voltou a buscar em seus últimos trabalhos, mas, desta vez,
utilizando o óleo”, disse.
Há uma ilusão escultórica nessas
pinturas composta por grandes superfícies retangulares, com mínimas variações
tonais. E Ianelli realmente envereda pela escultura, em mármore e madeira,
realizada concomitantemente com a pintura a partir de meados da década de 1970
até os anos 2000.
Em 70 anos de carreira, Ianelli
acumulou prêmios e reconhecimento. A grande retrospectiva montada pela
Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2002 ofereceu aos paulistanos a
possibilidade de um contato multilateral com a produção desse grande artista.
As reproduções fotográficas
incorporadas ao relatório da FAPESP e expostas em tamanho grande no saguão da
Fundação proporcionam, à nova geração, uma introdução a essa obra indispensável
na paisagem das artes plásticas brasileiras.
Mais informações sobre a exposição
na FAPESP: (11) 3838-4394.
Fonte: http://agencia.fapesp.br
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