Umbanda e candomblé unidos e mobilizados - Por Geraldo Perelo
Milhares de religiosos de
matriz africana estão mobilizados na Baixada Fluminense em busca de respeito e
reconhecimento social. Umbandistas e candomblecistas se reúnem este mês em dois
eventos, um em São João de Meriti; outro em Queimados.
Na pauta, direitos e
deveres, ética, inclusão de ações sociais, legalização dos templos, aproximação
com os poderes públicos, defesa do meio ambiente e cidadania. No dia 24, será
realizado o 1º Congresso Espírita de Queimados, com o tema:
“Religiosidade e
Tradições das Matrizes Africanas na Sociedade Brasileira”
O encontro, no Teatro
Marlice Ferreira Margarida da Cunha, terá apoio da União dos Centros Espíritas,
Umbandistas e Candomblecistas da cidade.
O babalorixá Marcelo de
Oxaguiã, do terreiro Axé Ogboju Fire Imo Ogun Oya, um dos mais tradicionais em
São João de Meriti, alega que candomblecistas e umbandistas precisam sentar e
discutir, conversar e se entender. O objetivo, diz, seria desenvolver ações,
somar forças e reivindicar políticas públicas para os adeptos dessas religiões.
No dia seguinte, será a vez
do ‘Primeiro Simpósio de Umbanda”, no Social Clube de São João de Meriti.
“Estamos cada vez mais unidos para defender a nossa fé”, explica Marilena
Mattos, dirigente espiritual da Casa de Cláudia, um dos centros espíritas mais
tradicionais da cidade.
Também vice-presidente do
Movimento Umbanda do Amanhã (Muda), entidade promotora do Simpósio, Marilena
explica que o objetivo é conscientizar os fiéis sobre temas importantes para a
religião de origem africana.
Segundo a líder religiosa,
toda religião deve ter o seu espaço garantido no âmbito das políticas públicas.
Ela argumenta ainda que a umbanda tem papel social importante no país. “Somos
religião genuinamente brasileira e precisamos nos organizar para que o estado
nos enxergue como cidadãos”, explica.
Chance de cobrar direitos
Marilena Mattos explica que
um dos objetivos do simpósio de São João Meriti é mostrar, entre outras coisas,
que os umbandistas têm direitos, mas também deveres. E que eles passam pela
questão da ordem pública e da preservação do meio ambientes. “Às vezes, fazemos
nossas práticas (sessões e oferendas) sem observar que podemos interferir na vida
das pessoas”, admite.
Já o coordenador de
Comunicação Social do Muda, Alexander Fernandes, se queixa dos prefeitos da
Baixada Fluminense, que, eleitos com a força de segmentos evangélicos, acabam
não dando atenção às religiões de matriz africana, como a umbanda. “O Estado é
laico. Eles têm que governar para todas as religiões”, defende.
Divulgação é arma contra a
perseguição
Coordenador do Instituto
Cultural de Apoio e Pesquisa das Tradições Afro, o babalorixá Marcelo de
Oxaguiã, que dirige o terreiro de Axé Ogboju Fire Imo Ogum Oya, em São João de
Meriti, conta que muitos centros ainda se escondem em fundos de quintal de
residências, como resquício do período de perseguição.
Por isso, defende a
realização dos encontros sobre a religião. “Qualquer trabalho para divulgar
nossa cultura, contribui bastante para que essas casas assumam a sua
religiosidade. “A meta é fazer nossos governantes tomarem consciência sobre
quanto somos”, explica.
Perda de fiéis chega a 30%
em uma década
Dados do do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que umbanda e candomblé
perderam cerca de 30% de adeptos declarados nos últimos dez anos na Baixada
Fluminense. Já os evangélicos cresceram 38,52% no mesmo período.
No Censo de 2000, pelo
menos 44.273 pessoas das 13 cidades da região se disseram umbandistas ou
candomblecistas. Na pesquisa de 2010, esse número caiu para 30.975, o
equivalente a 0,84% dos 3.652.147 habitantes da Baixada.
O Censo aponta também uma
redução em torno de 15,49% do contingente de católicos apostólicos romanos na
Baixada. Em 2000, 1.474.569 dos entrevistados (40,37% da população) disseram
que frequentavam a religião de origem romana. Já em 2010, eles eram 1.246.090,
ou 34,11% dos habitantes, representando uma queda de 228.520 fiéis.
Em 2010, os evangélicos
declarados eram 973.918, ou 26,66% da população da Baixada Fluminense. Dez anos
depois, o número de fiéis subiu para 1.349.111, ou 36,94% dos habitantes da
região. São os chamados evangélicos de missão, que frequentam igrejas mais tradicionais,
como Assembleias de Deus, e os de origem pentecostal, com a Universal do Reino
de Deus.
Nilópolis, com 2.216
praticantes declarados, é a cidade da região com maior percentual (1,4% dos
157.483 habitantes ) de umbandistas e candomblecistas. Japeri, com população de
95.391 pessoas, é a cidade que registrou a maior perda de fiéis das religiões
de origem africana: caiu de 677 para 284, ou 58%. A pesquisa não atingiu
Mesquita em 2000.
Umbandistas e
candomblecistas declarados
Nas 13 cidades da Baixada
Fluminense, o número de praticantes declarados da umbanda e do candomblé,
segundo o Censo 2010, é de:
BELFORD ROXO 3.449
DUQUE DE CAXIAS 7.098
GUAPIMIRIM 363
ITAGUAÍ 314
JAPERI 284
MAGÉ 1.961
MESQUITA 1.833
NILÓPOLIS 2.216
NOVA IGUAÇU 7.120
PARACAMBI 203
QUEIMADOS 541
SÃO JOÃO DE MERITI 5.206
SEROPÉDICA 387
Fonte: http://odia.ig.com.br
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