Nova história contemporânea da América Latina - Por Carlos Eduardo Lins da Silva
O ambicioso
projeto de produzir uma nova história contemporânea da América Latina em cem
volumes, com textos de cerca de 400 especialistas de 25 países, foi apresentado
no dia 13 de dezembro por um de seus coordenadores, Javier Bravo Garcia,
durante o simpósio
“Fronteras de la Ciencia – Brasil y España en los 50 años de
la FAPESP
promovido pela FAPESP e pela Casa do Brasil em Madri.
Bravo Garcia explicou que, na
perspectiva de seus idealizadores, a coleção pretende mostrar a América Latina
como protagonista da história, mas não como se fosse um monólogo. A Europa, a
América do Norte e os demais continentes também estão presentes no projeto,
ainda que na condição de coadjuvantes.
O coordenador considera ter sido
uma interessante coincidência histórica que o projeto, chamado “América Latina
na História Contemporânea”, tenha se iniciado em 2008, quando a crise
financeira global começava a rearranjar a geopolítica mundial de forma que as
economias emergentes da América Latina passaram a dar a ela um papel mais
proeminente e as dos países da União Europeia a relegaram a uma função mais
secundária.
No caso do Brasil, a coleção de
livros História do Brasil Nação: 1808-2010, coeditada pela Editora Objetiva, é
composta de seis volumes, que serão publicados até o 1º semestre de 2013, sob a
coordenação da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e a
participação de 28 autores.
O terceiro volume da coleção
brasileira, História do Brasil Nação – A abertura para o mundo: 1889-1930, foi
lançado em setembro deste ano. O primeiro se chama Crise Colonial e
Independência: 1808-1830 e o segundo, A construção nacional: 1830-1889.
Também fazem parte do projeto,
que é patrocinado pela Fundación Mapfre e pelo grupo Santilana, exposições de
fotos, como a que está em exibição atualmente no Instituto Tomie Ohtake, em São
Paulo: Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação,
com curadoria do historiador e fotógrafo Boris Kossoy.
Na mesma sessão do simpósio em
Madri, Marcelo Ridenti, professor de sociologia da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), falou sobre o tema “Caleidoscópio da cultura brasileira –
1964-2000”, que se integra no Projeto Temático da FAPESP intitulado: “Formação
do campo intelectual e da indústria cultural no Brasil contemporâneo”.
Ridenti falou como nesse período
ocorreram conjuntamente processos de grande impacto sobre a sociedade, em
especial os das rápidas industrialização e urbanização e da democratização e
massificação da cultura, marcados pela contradição da convivência do moderno
com o arcaico, do progresso com o atraso, do desenvolvimento com as desigualdades.
“O campo intelectual e a
indústria cultural no Brasil se formam e se fortalecem concomitantemente,
diferentemente do que aconteceu na Espanha, na França e nos demais países da
Europa, onde aquele já estava estabelecido quando a segunda começou a se estruturar”,
disse.
Assim, aconteceu nessa época uma
crescente profissionalização dos produtores de cultura no Brasil, com todas as
consequentes vantagens e desvantagens dessa situação típica de desenvolvimento
desigual e combinado que caracteriza fortemente a atividade intelectual
brasileira.
Ridenti mostrou à audiência
diversas tabelas sobre o crescimento rápido e intenso de aparelhos de TV no
Brasil, assim como do aumento extraordinário de admissões no ensino superior e
decréscimo do analfabetismo formal (mas não do funcional) ocorridos nos 46 anos
englobados em sua pesquisa.
Em especial durante o regime
militar, ressaltou Ridenti, as contradições eram frequentes: artistas premiados
pelo Estado tinham muitos de seus trabalhos censurados, acadêmicos com bolsas
de entidades estatais iam para o exterior estudar e lá desenvolviam atividades
de oposição política ao regime, por exemplo.
Fonte: http://agencia.fapesp.br
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