A revolução alcança as universidades - Por Thomas Friedman
Deus sabe que há um monte de
notícias ruins no mundo atual capazes de nos colocar para baixo. Mas há uma
coisa extraordinária que me deixa incrivelmente esperançoso em relação ao
futuro: a revolução que está florescendo na área da educação superior online de
todo o mundo.
Nada tem mais potencial para tirar uma grade quantidade de
pessoas da pobreza, pois pode lhes proporcionar uma educação acessível para que
elas consigam obter um emprego ou subir de patamar no emprego que já têm. Nada
tem mais potencial para atiçar mais de um bilhão de cérebros para que eles
solucionem os maiores problemas do mundo.
E nada tem mais potencial para nos
permitir reinventar o ensino superior do que os cursos abertos online em massa,
ou MOOCs (Massive Open Online Courses), compostos por plataformas que estão
sendo desenvolvidas por organizações de ensino como Stanford e Massachusetts
Institute of Technology (MIT) e por empresas como a Coursera e a Udacity.
Em maio passado, eu escrevi sobre
a Coursera, fundada pelos cientistas da computação Daphne Koller e Andrew Ng,
de Stanford, logo após a sua entrada em operação. Duas semanas atrás, eu
retornei a Palo Alto para verificar como eles estão se saindo.
Quando eu os
visitei em maio passado, cerca de 300 mil pessoas estavam fazendo 38 cursos
ministrados por professores de Stanford e de algumas outras universidades de
elite. Hoje, eles contam com 2,4 milhões de alunos, que acompanham 214 cursos
de 33 universidades, incluindo oito internacionais.
Anant Agarwal, ex-diretor do
laboratório de inteligência artificial do MIT, é atualmente presidente da edX,
um MOOC sem fins lucrativos que o MIT e Harvard estão criando em conjunto.
Agarwal
me disse que, desde maio de 2012, aproximadamente 155 mil estudantes de todo o
mundo já concluíram o primeiro curso da edX: uma classe de introdução a
circuitos do MIT. “Essa cifra é maior do que o número total de alunos do MIT em
seus 150 anos de história”, disse ele.
Sim, apenas um pequeno percentual
dos alunos costuma concluir todas as etapas desses cursos e eles ainda costumam
pertencer às classes média e alta de suas sociedades. Mas estou convencido de
que, dentro de cinco anos, essas plataformas vão alcançar um público muito mais
amplo. Imagine como isso pode mudar os programas de auxílio externo dos Estados
Unidos.
Por quantias relativamente pequenas, os EUA poderiam alugar um espaço
em uma aldeia egípcia, instalar duas dezenas de computadores, fornecer acesso
via satélite à internet de alta velocidade, contratar um professor local como
facilitador e convidar em qualquer egípcio que queira fazer cursos online com
os melhores professores no mundo, com legendas em árabe.
Basta ouvir as histórias contadas
pelos pioneiros deste setor para apreciar seu potencial revolucionário. Uma das
histórias preferidas de Koller é sobre “Daniel”, um garoto autista de 17 anos
que se comunica principalmente por computador. Ele fez um curso online de
poesia moderna ministrado pela Universidade da Pensilvânia.
Ele e seus pais
escreveram dizendo que a combinação entre currículo acadêmico rigoroso, que
exigia que Daniel permanecesse concentrado nas tarefas, com um sistema de
aprendizado online que não exigia demais de suas habilidades sociais, de seus
déficits de atenção nem o obrigou a olhar outras pessoas nos olhos permitiram
que ele administrasse melhor seu autismo.
Koller compartilhou uma carta enviada
por Daniel na qual ele escreveu: “Por favor, conte a minha história à Coursera
e à Universidade da Pensilvânia. Eu sou um garoto de 17 anos que está emergindo
do autismo. Eu ainda não posso me sentar em uma sala de aula normal e, por
isso, o curso de vocês foi o meu primeiro curso de verdade. Durante as aulas,
eu tinha que acompanhar o ritmo da matéria, o que é algo inédito na área de
educação especial. Agora eu sei que posso me beneficiar com o trabalho duro
exigido e gosto de estar em sintonia com o mundo”.
Um membro da equipe da Coursera
que recentemente fez um curso sobre sustentabilidade fornecido pela empresa me
disse que as aulas foram muito mais interessantes do que as de um curso
semelhante que ele fez durante sua graduação.
O curso online reuniu estudantes
do mundo todo e que tinham diferentes níveis de renda e, como resultado, “as
discussões que aconteceram durante as aulas foram muito mais valiosas e
interessantes do que as que costumam acontecer entre alunos provenientes de
locais e níveis de renda semelhantes” dentro de um colégio norte-americano
típico.
Durante o outono passado, Mitch
Duneier, professor de sociologia de Princeton, escreveu um ensaio no The
Chronicle of Higher Education sobre a sua experiência ao ministrar um curso por
meio da plataforma da Coursera:
“Alguns meses atrás, após o campus da
Universidade de Princeton ficar quase que totalmente silencioso depois da
formatura, 40 mil estudantes de 113 países chegaram aqui através da internet
para fazer um curso livre de introdução à sociologia... Minha aula de abertura,
sobre o livro clássico de C. Wright Mills, de 1959, ‘A Imaginação Sociológica’,
foi uma leitura atenta do texto, em que eu analisei um capítulo fundamental
linha a linha. Eu pedi aos estudantes que acompanhassem a leitura em suas
próprias cópias, como eu costumo fazer em sala de aula. Quando eu dou essa aula
no campus de Princeton, eu costumo receber algumas perguntas penetrantes. Neste
caso, porém, poucas horas depois de postar a versão online do curso, os fóruns
começaram a fervilhar com centenas de comentários e perguntas. Vários dias
depois, havia milhares deles... Dentro de três semanas, eu tinha recebido mais
retorno sobre minhas ideias sociológicas do que eu em toda minha carreira no
ensino, o que influenciou significativamente todos os meus seminários e aulas
subsequentes”.
Agarwal, da edX, contou a
história de um estudante do Cairo que fez o curso de circuitos e estava
enfrentando dificuldades. No fórum online do curso, onde os alunos se ajudam
mutuamente com as lições de casa, ele postou que estava abandonando o curso. Em
resposta, os outros alunos do Cairo que estavam na mesma classe o convidaram a
se reunir com eles em uma casa de chá, onde eles se ofereceram para ajudá-lo a
permanecer no curso. Um estudante de 15 anos de idade da Mongólia, que
frequentou as mesmas aulas como parte de um curso misto e recebeu nota 10 no
exame final, acrescentou Agarwal, agora está pleiteando uma vaga no MIT e na
Universidade da Califórnia em Berkeley.
Ao olharmos para o futuro do
ensino superior, disse o presidente do MIT, L. Rafael Reif, algo que hoje
chamamos de “graduação” será um conceito “relacionado a tijolos e argamassa” e
as experiências tradicionais no campus cada vez mais alavancarão a tecnologia e
a internet para melhorar as salas de aula e os trabalhos de laboratório.
Ao
lado disso, porém, disse Reif, muitas universidades oferecerão cursos online
para os alunos em qualquer lugar do mundo, nos quais eles serão capazes de
obter “credenciais”, certificados que atestarão que esses estudantes fizeram as
tarefas e passaram em todos os exames.
O processo de desenvolvimento de
credenciais dignas de confiança, que atestarão que os alunos dominaram
adequadamente as matérias e não colaram nas provas, com as quais os
empregadores poderão contar, ainda está sendo aperfeiçoado por todos os MOOCs.
Mas, quando esse processo estiver concluído, o fenômeno dos cursos online vai
realmente ganhar escala.
Eu espero que, daqui a muito
pouco tempo, cada um de nós seja capaz de criar seu próprio diploma
universitário após acompanhar os melhores cursos online dos melhores
professores de todo o mundo, um pouco de computação em Stanford, um pouco de
empreendedorismo na Wharton, ética na Brandeis, literatura em Edimburgo,
pagando apenas uma taxa nominal pelos certificados de conclusão.
Isso vai mudar
o ensino, o processo de aprendizado e o caminho para a obtenção de um emprego.
“Há um mundo novo surgindo”, disse Reif, “e todos terão que se adaptar”.
Fonte: http://noticias.uol.com.br
Comentários