Museu da Liturgia em Tiradentes (MG) apresenta acervo tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Único museu dedicado ao tema na
América Latina, foi construído com apoio direto do BNDES, que investiu R$ 8,8
milhões no restauro da edificação, antiga Casa Paroquial, na concepção de um
projeto museográfico contemporâneo e na recuperação de mais de 430 peças dos
séculos XVIII a XX, todas à disposição da comunidade tiradentina para uso nos
festejos religiosos da cidade.
Mais do que um espaço de
exposição de arte sacra, o museu foi criado para proporcionar ao visitante uma
experiência de imersão cultural e transcendência, independente de crença ou
religião.
Inaugurado em abril de 2012 na
cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, o Museu da Liturgia é o primeiro do
gênero na América Latina. Desejo antigo do historiador Olinto Rodrigues, do
Padre Ademir Longatti e de toda a comunidade tiradentina, que ansiava por um
local adequado e seguro para o armazenamento e exposição do rico acervo
pertencente à Paróquia de Santo Antônio, a construção do espaço se tornou
possível por meio do apoio direto e não incentivado de R$ 8,8 milhões do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Banco investirá,
ainda, R$ 1,7 milhão para a manutenção da instituição em seus quinze primeiros
meses de funcionamento, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Concebido, coordenado e
implantado pelo Santa Rosa Bureau Cultural, o projeto contemplou a recuperação
de mais de 430 peças dos séculos XVIII a XX, entre pinturas, prataria,
ex-votos, esculturas, imagens, objetos em metal e madeira, paramentos, missais
e outros artigos religiosos de diversas tipologias. Tombado pelo Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, o conjunto permaneceu guardado em sacristias
durante longo período, estando em acentuado estado de deterioração.
Para abrigar o Museu da Liturgia,
seu histórico prédio também foi restaurado. A edificação, construída para uso
residencial no começo do século XVIII, foi doada para a Paróquia de Santo
Antônio em 1893, se tornando Casa Paroquial.
Para a instalação do museu, todos
os elementos característicos da construção (que sofreu três acréscimos durante
o século XX, totalizando 553 m2) foram mantidos ou recuperados, incluindo suas
cores originais. Um novo anexo, com 185 m2, foi levantado ao fundo para abrigar
a reserva técnica e o espaço educativo.
O projeto museográfico criou um
espaço de linguagem e ambiência contemporâneas, com belas e sensíveis
instalações audiovisuais que dialogam com os objetos expostos.
“O anseio do
museu é proporcionar um outro tipo de experiência frente a um acervo estático.
É criar uma atmosfera para que o visitante seja transportado para um outro
universo e viva um momento de imersão cultural e transcendência, independente
de sua crença ou religião”, afirma Eleonora Santa Rosa, diretora do Santa Rosa
Bureau Cultural e ex- Secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais
(2005-2008), responsável pela concepção da iniciativa.
Diretora geral do projeto de
implantação, Eleonora convidou para equipe técnica de conceituação do museu o
designer Ronaldo Barbosa (responsável pelo projeto museográfico, visual e
concepção arquitetônica), o filósofo Carlos Antonio Leite Brandão (responsável
pelo conteúdo e textos de base), o Padre Lauro Palú e o Padre Marco Antonio
Morais Lima (assessores litúrgicos) e reuniu uma equipe multidisciplinar que
gerou 380 empregos diretos e indiretos. Desde sua abertura, a direção do museu
está a cargo de Maria Cristina Seabra de Miranda, arquiteta e especialista em
preservação do patrimônio histórico.
O pátio externo, uma área de
cerca de 260 m2 aberta ao público, é um espaço de acolhimento e reflexão, uma
ruptura com o mundo cotidiano. O muro de pedra teve sua extensão original
recuperada e ganhou um painel com símbolos que são reconhecidos durante a
visita ao museu. Sete totens, inspirados em antigos confessionários, reproduzem
salmos, provérbios, trechos do Genesis, Eclesiastes e a trilha sonora do museu
composta com exclusividade por Marco Antonio Guimarães, fundador e diretor do
grupo de música instrumental Uakti, reconhecido internacionalmente.
O piso de cimento liso tem
intervenções em mármore e granito, compondo tapetes em pedra que lembram estruturas
encontradas no Vaticano e estão posicionadas aos pés dos bancos, instalados sob
as copas das árvores. Uma mesa com treze assentos dispostos de um único lado
faz referência à Santa Ceia, mas é usada como suporte para a linha do tempo,
que traz informações sobre a cidade e o museu. Ao fundo, uma espiral de pedras
sobre o chão cimentado, inspirada no labirinto da Catedral de Chartres, convida
o visitante a uma pequena caminhada de meditação e busca interior.
O hall de entrada estabelece uma
relação entre a liturgia, a cultura e a comunidade civil, prestando uma
homenagem à população tiradentina. O mosaico no chão representa os tradicionais
tapetes de serragem confeccionados para festejos culturais e religiosos da
cidade e a “tela trilho”, conjunto de monitores dispostos verticalmente na
parede, exibe imagens de celebrações filmadas durante o ano passado em igrejas
e nas ruas de Tiradentes e região.
De pé direito alto, o hall é o
único espaço que liga a parte térrea (o antigo porão da Casa Paroquial), onde
estão as salas ‘Liturgia da Palavra’ e ‘Eucaristia e Páscoa’, ao piso superior
do museu, com as salas ‘Sacramentos e Sacramentais’, ‘Devoção Popular’ e
‘Gestos Litúrgicos’.
A sala ‘Liturgia da Palavra’ é
dedicada aos ensinamentos e aos que difundiram a palavra divina. Reúne
elementos diretamente ligados à leitura e ao conhecimento, como os missais
(livro de orações e textos utilizados nas missas durante o período de um ano) e
suas estantes de apoio, e artigos que compõe o ambiente adequado para a
transmissão da palavra, como os paramentos (vestes oficiais do clero nas
funções do culto divino). Destaque para a ‘Estola de veludo com galões e
franjas’ (séc. XIX), produzida com fios de ouro, e o ‘Missal romano’ (1721,
Bélgica), uma das peças mais antigas do acervo e a que demandou maior esforço
de recuperação.
Seguindo o percurso, o visitante
chega à sala ‘Eucaristia e Páscoa’ (o principal sacramento e o mais importante
ciclo litúrgico), que exibe as paredes de pedra originais da casa e teve o
cimento liso do piso também empregado nas bases e suporte das peças, dando
amplitude ao espaço e foco nos objetos expostos. Duas grandes bancadas
envidraçadas ocupam a maior parte da sala. Uma reúne 30 castiçais e dois pares
de candelabros em prata e a outra, 18 castiçais de estanho e 18 castiçais mais
três tocheiros em madeira, todos dos séculos XVIII e XIX.
Entre cálices, turíbulos (ou
incensórios), galheteiros e navetas (para guardar incenso), há uma trabalhada
‘Urna do Santíssimo ou dos pré-santificados’ (séc. XVIII), em madeira recortada
e entalhada, que tem fechadura à chave para o armazenamento das hóstias da
missa de Sexta-feira da Paixão, e um raríssimo conjunto de três ‘Palmas de
altar’ (séc. XVIII e XIX), de papel, madeira e malacacheta, que são as únicas
restantes em Minas Gerais.
No pavimento superior, a sala
‘Sacramentos e Sacramentais’ abre espaço para o dia-a-dia da fé. Apresenta
peças usadas nos ritos dos sete sacramentos, como uma concha de batismo, um
confessionário e os frascos dos Santos Óleos, e nas práticas cotidianas de
comunhão com o divino, como a pia de água benta, crucifixos e imagens de
Cristo, como a escultura ‘Senhor da Coluna’ (séc. XVIII), de João Ferreira
Sampaio, que representa a flagelação de Cristo, despido de suas vestes e atado
à coluna do palácio.
A sala ‘Devoção Popular’
representa as muitas celebrações religiosas de Tiradentes. Todos os itens
expostos no Museu da Liturgia podem ser solicitados para o uso da comunidade
nestes festejos, como as lanternas e cruzes processionais ou as imagens de
santos cultuados na cidade, como Santana Maestra, padroeira dos mineradores,
carpinteiros, marceneiros e dos lares.
Entre as imagens, há diferentes
exemplares de roca, produzidas em estruturas de madeira e vestidas com trajes
de tecidos, que transmitem realismo e são usadas em procissões. Destaque para a
escultura de ‘São Jorge’ com escudo de centurião (séc. XVIII), de Antônio da
Costa Santeiro, que, esculpida em escala humana e com articulações nas pernas,
saía na procissão de Corpus Christi montada em cavalos.
Este espaço apresenta ainda três
pinturas do artista tiradentino Manoel Victor de Jesus, como ‘Nossa Senhora do
Desterro’ (1788), uma extensa vitrine com 43 resplendores e seis diademas, que
adornam as cabeças de santos e santas, respectivamente, e um conjunto de nove
pinturas de ex-votos, acompanhadas por uma bancada com 26 mãos de imagens de
roca.
A última sala do museu foi
destinada aos ‘Gestos Litúrgicos’. O ambiente, especialmente iluminado e com a
trilha sonora mais presente, é um convite para que o visitante, no final do
percurso, se sente e assista ao vídeo, e se integre às belíssimas imagens
exibidas em um mosaico com onze monitores, que retrata sinais simples, mas
cheios de significados, como juntar as mãos, erguê-las aos céus, ajoelhar-se ou
simplesmente inclinar a cabeça. “Queríamos proporcionar uma culminância no
percurso museográfico possibilitando um sentimento de paz e tranquilidade ao
término da visita e optamos por este impacto silencioso”, explica Eleonora
Santa Rosa.
PROJETO EDUCATIVO E MULTIMÍDIA:
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
Com a proposta de explorar as
relações entre o passado e o presente e entre o patrimônio material e imaterial
a partir de peças do acervo, o projeto educativo do Museu da Liturgia foi
especialmente concebido de maneira a atender aos diferentes interesses de
grupos, sejam eles moradores de Tiradentes ou turistas, jovens ou adultos,
religiosos ou não religiosos. Para as crianças, marionetes e jogos lúdicos
possibilitam trabalhar e ampliar os conteúdos de forma divertida. Um livreto
informativo e monitores treinados presentes nas salas expositivas auxiliam o
visitante independente.
O Museu da Liturgia conta com
dois terminais multimídia (um na sala ‘Sacramentos e Sacramentais’ e outra na
sala do educativo) com tecnologia touchscreen e um grande volume de imagens,
vídeos, textos explicativos, documentos históricos, mapeamento da edificação e
fotos referentes ao acervo. Também disponível em versão resumida no site
www.museudaliturgia.com.br, esse conteúdo permite a análise dos eixos temáticos
abordados no museu e o aprofundamento no universo litúrgico.
Para entender mais sobre o
projeto de restauro do acervo e a construção do Museu da Liturgia, acesse o
link http://vimeo.com/44340154 e assista ao vídeo.
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MUSEU DA LITURGIA
Endereço: R. Jogo de Bola, 15,
Centro – Tiradentes (MG)
Tel.: 55 (32) 3355-1552
Site: www.museudaliturgia.com.br
E-mail:
contato@museudaliturgia.com.br
Horários: terça a domingo e
feriados, das 10h às 17h (encerramento da bilheteria às 16h).
Visitas orientadas para grupos:
terça a sexta, às 10h e às 14h (de 10 a 35 pessoas, com idade mínima de 6
anos).
Agendamento:
educativo@museudaliturgia.com.br ou pelo telefone do museu.
Acesso a pessoas com mobilidade
reduzida.
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