Precisa-se de padres no país dos católicos – Por Gustavo Werneck
CNBB calcula serem necessários 10
mil novos sacerdotes para atender à demanda no país e trabalha para estimular
vocação. Em BH, número teria de dobrar.
Faltam padres no Brasil, a maior
nação católica do mundo. Há cerca de 20 mil deles atuando nas paróquias, mas
para suprir a demanda dos fiéis são necessários mais 50% desse total, o ideal,
na avaliação da Igreja, é um sacerdote para cada 10 mil pessoas em todas as
regiões do país.
“Mas acredito que cinco mil religiosos já ajudariam a resolver
a questão”, diz o padre Domingos Barbosa Filho, presidente nacional da
Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (Osib), entidade vinculada à
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“O problema não é só a falta
de padres, mas a má distribuição do clero no país. A maior parte está
concentrada nas regiões Sul (25%) e Sudeste (45%), enquanto o Norte (3%) sofre
com a falta”, completa ele, também diretor do Instituto Católico de Ensino
Superior do Piauí.
Duas cidades mineiras se destacam
na formação de bispos e padres
Ex-presidente da Osib, padre
Paulo Batista Borges, titular da Paróquia de São Sebastião, em Uruaçu,
município do Norte de Goiás, reconhece que houve grande queda nas vocações, nas
décadas de 1960 e 1970, depois da realização do Concílio Vaticano II
(1962-1965), que trouxe uma série de mudanças na Igreja e, na avaliação dele,
má compreensão de uma nova teologia.
“Muitos deixaram o ministério, mas, nos
anos 1990, houve uma retomada e crescimento no número de candidatos”, afirma.
Uma das alternativas para aumentar os candidatos está na pastoral das vocações
e no trabalho missionário.
No Brasil, há 700 casas de formação de padres
(seminários diocesanos, regionais e estaduais). Na capital mineira, o pioneiro
é o Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, da Arquidiocese de
Belo Horizonte, que comemora 90 anos e conta com 42 alunos. Há também outros
pertencentes a ordens, congregações e dioceses do interior.
“A região amazônica é carente em
padres, havendo localidades sem celebração de missas nos fins de semana. Mas
mesmo em áreas rurais da Arquidiocese de BH temos problemas, pois as pessoas
têm dificuldades para fretar um ônibus e viajar 40 quilômetros até a igreja
mais próxima”, conta o padre Marcelo do Carmo Ferreira, responsável pela
secretaria do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus e
coordenador do processo de admissão de candidatos.
Além da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), os futuros sacerdotes contam
com a estrutura da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje).
“Em outras
localidades, as missas dominicais ocorrem nas quartas ou quintas-feiras, devido
à indisponibilidade do celebrante no fim de semana”, completa o padre Marcelo.
A situação leva os sacerdotes a uma sobrecarga: chegam a rezar até cinco
missas, quando o aceitável são três a cada domingo.
Ciente do problema, padre Marcelo
vai além das estatísticas. “Em Belo Horizonte, precisamos do dobro de padres e,
no país, o triplo.” No Brasil, a Igreja tem estimulado as vocações e um dos
atrativos é oferecer gratuitamente o curso de teologia, situação bem diferente
da Espanha, que chegou ao extremo de lançar uma campanha na mídia destacando
que o padre é um profissional que tem salário e nunca fica desempregado.
Nas
celebrações, o arcebispo dom Walmor Oliveira de Azevedo sempre diz, numa
referência às vocações: “A messe é grande, mas são poucos os operários”, lembra
o padre. Conforme a arquidiocese, BH tem 675 padres e diáconos.
Vida Religiosa
O seminário da Arquidiocese de BH
acompanha a média nacional de ordenação de seis padres por ano. O número foi
maior em 2010. São necessários oito anos de estudos, um
preparatório, três de filosofia e quatro de teologia. Para ingressar, é preciso
ter acima de 17 anos e ensino médio completo e quem já tem curso superior fica
apenas cinco anos. As estatísticas em BH mostram que não basta querer para
chegar ao altar da igreja.
No ano passado, de 52 pessoas que pediram informações,
apenas 10 ingressaram no seminário. A entrada na vida da comunidade requer
frequência nas missas, experiência na catequese, presença em grupo de jovens e
círculos bíblicos, conhecimento da Igreja por dentro e compromisso com o
celibato.
Eduardo Pereira de Araújo, de 31
anos, se interessou pelo seminário. Com porte de atleta, serviu o exército,
ficou noivo e hoje está no primeiro período de teologia. De mãe protestante, só
na adolescência ele foi estudar numa escola católica e sentiu o despertar da
vocação. Há quatro anos e três meses, Eduardo resolveu ser padre.
“Me atraem o
trabalho pastoral, o convívio com o povo e a vida em comunidade”, diz Eduardo.
Na capela do seminário, Ronaldo Brito, de 42, primeiro ano de teologia, diz que
começou a falar em ser padre por volta dos sete, oito anos. Já adulto e de
casamento marcado, Ronaldo foi à Igreja de São Judas Tadeu para fazer a crisma
e mudou o pensamento.
“Foi nesse período, em 2003, que
o desejo renasceu e eu terminei o noivado. Para ser padre, é preciso esvaziar
tudo de si para doar ao outro”, conta Ronaldo. Filho único e de pai kardecista,
Eduardo Parreiras Silva, de 32, teve trajetória diferente. Em 2000, ele entrou
para o seminário e ficou três anos e meio. Decidiu sair e só retornou ao
seminário 10 anos depois, período em que namorou por seis anos.
“O chamado de
Deus foi mais forte”, afirma. O padre Marcelo Ferreira ressalta que a
coordenação do seminário verifica se o candidato está apto. “Não é que ele pode
ou não ser padre. A questão é se está pronto. Tudo deve ser do jeito certo”,
diz.
Fonte: http://www.em.com.br
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