Religião e secularização – Por Maria Clara Lucchetti Bingemer
Até ser eleito o novo Papa, os olhos do mundo inteiro voltaram-se para Roma, à
espera da fumaça branca que finalmente anunciou a todo o orbe quem é o sucessor
de Bento XVI, que renunciou ao Papado, em plena lucidez e uso de suas
faculdades mentais no último dia 11 de fevereiro.
Desde então, todos os
dias os jornais do mundo inteiro, assim como as emissoras de rádio e televisão
e também a internet e as redes sociais não cessaram de expressar seu pasmo
diante do gesto do Pontífice, assim como de refletir, discutir e especular
sobre as razões que o levaram a tal extremo. Uma vez que os cardeais eleitores
foram convocados a Roma, começou outro tipo de debate sobre as chances de
alguns que seriam potenciais candidatos ao Papado.
Em meio a toda essa
agitação o que gostaríamos de ressaltar aqui é que esse evento nos obriga a
repensar nossa reflexão e, sobretudo nossas certezas sobre o processo de
secularização que avança na cultura ocidental contemporânea e o papel da
religião em meio a este processo. É certo que a secularização moveu o terreno
sob os pés da religião institucionalizada. Fê-la "mudar de lugar”,
"deslocar-se” para um espaço outro, não mais central, mas presente na
pluralidade fragmentada que compõe o cenário pós-moderno. Quando isto sucedeu
muitos se apressaram a profetizar seu ocaso irremissível, seu breve
desaparecimento.
Ora, os recentes
acontecimentos no Vaticano parecem colocar seriamente em questão estas
afirmações. E nos obrigam a admitir que a religião enquanto instituição pode
estar sendo provocada a reconfigurar-se para manter-se em comunicação com a
sociedade atravessada pelo processo secularizante. Mas a mesma religião como
relação com a transcendência, no entanto, não foi banida do horizonte humano
como os "mestres da suspeita” (Freud, Marx e Nietzsche) profetizaram. E os
mesmos pensadores modernos, que tanto criticaram os elementos supersticiosos e
mágicos do Cristianismo, são agora chamados a reconhecer a força da transcendência
como elemento constitutivo da humanidade.
Senão como explicar
que as atenções da mídia estivessem constantemente voltadas para o Vaticano,
esperando a fumaça branca como sinal de que o trono de Pedro não se encontrava
vazio? Como entender que a renúncia e a despedida do tímido intelectual Bento
XVI para uma vida de retiro, estudo e oração tenha sido cercada de tanta
presença de fiéis, manifestações de afeto, participação de todos os níveis e
formas? Por que, já que a religião não importa nada ou quase nada no mundo de
hoje, essa comoção que tomou conta da sociedade diante do pontífice vestido de
branco que se retirava para dar lugar a outro que deveria ser escolhido pelo
colégio de cardeais?
Pode-se, é certo,
argumentar que o que atrai a mídia são os recentes escândalos em que esteve
envolvida a Cúria Romana: a pedofilia, o Vatileaks e os problemas financeiros
com o Banco do Vaticano. Sabemos que certa mídia não resiste ao
sensacionalismo, sobretudo quando este se dá em torno da Igreja Católica. Sabemos
igualmente que é parte intrínseca da missão do comunicador buscar e apurar a
verdade dos fatos e informá-la aos leitores e espectadores.
Mas convenhamos que
reduzir o que estamos assistindo nos últimos dias a isto é certo reducionismo
de visão e de fôlego. O fenômeno é grande demais, surpreendente demais para não
reconhecer honestamente que provoca um giro copernicano em nossos estereótipos
e nosso foco estereotipado para ver as coisas. Se for verdade que a
secularização é real e não há caminho de volta a uma pré-modernidade que
pertence ao passado histórico, é igualmente verdade que a força do símbolo
ainda é grande no imaginário das pessoas.
O Papa vestido de
branco que exerce uma atração irresistível sobre tantas pessoas no mundo
inteiro, que podem ou não estar de acordo com sua linha de pensamento e seu
jeito de dirigir-se às massas está aí para lembrar-nos que o Transcendente
ainda se encontra muito presente na realidade e na vida humana. Senão como
convicção de fé, ao menos como desejo. Ou saudade.
Em um mundo cansado
de receber notícias sobre guerras, tragédias, violência e corrupção, a eleição
de um Papa desperta enorme interesse e polariza os olhares do mundo inteiro.
Continuemos contemplando a chaminé da Capela Sistina, esperando a fumaça branca
que nos dirá que temos Papa. Certamente isto, se não confirmar uma fé que às
vezes fraqueja, certamente nos fará mais humanos.
Quando este artigo
for publicado muito provavelmente já teremos novo Papa. Mas agora o momento é
de espera atenta e vigilante. Enquanto os olhos do mundo inteiro convergem para
Roma, espera-se a fumaça branca que finalmente anunciará a todo o orbe quem é o
sucessor de Bento XVI, que renunciou ao Papado em plena lucidez e uso de suas
faculdades mentais, no último dia 11 de fevereiro.
A partir daí, todos
os dias os jornais do mundo inteiro, assim como as emissoras de rádio e
televisão e também a internet e as redes sociais não cessam de expressar seu
pasmo diante do gesto do Pontífice, assim como de refletir, discutir e
especular sobre as razões que o levaram a tal extremo. Uma vez que os cardeais
eleitores foram convocados a Roma, começou outro tipo de debate: sobre as
chances de alguns que seriam potenciais candidatos ao Papado. Há listas por
aqui e por ali, perguntas sobre se será um europeu ou se atravessará o
Atlântico e aterrissará no continente americano, se será aberto ou conservador
etc.
[A
teóloga é autora de "Crônicas de cá e de lá” (editora Subiaco), que pode
ser encomendado diretamente à escritora pelo e-mail – agape@puc-rio.br].
Fonte: http://www.adital.com.br
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