Escavação sugere início multicultural da civilização maia – Por Ricardo Bonalume Netode
Assim como toda redação escolar tem "começo, meio, e fim", as
civilizações também costumam se adaptar à regra. No caso dos maias da América Central, o começo e o fim são ainda
misteriosos.
Sete anos de escavações em Ceibal, na Guatemala, coordenadas pelo casal
de pesquisadores Takeshi Inomata e Daniela Triadan, ambos da Universidade de
Arizona, produziram uma nova versão para esse início.
Os resultados do estudo sugerem que múltiplos contatos sociais e
culturais entre vários povos da região deram a partida na civilização maia.
De acordo com Inomata, essa visão difere das duas principais correntes
na quais os arqueólogos se dividem quanto a essa questão. Segundo ele, um grupo argumenta que a civilização maia se desenvolveu
sob a influência da civilização olmeca, a partir do sítio arqueológico de La
Venta.
"O outro grupo alega que a civilização maia se desenvolveu de forma
independente", declarou ele em uma entrevista coletiva disponibilizada
pela revista científica americana "Science", em cuja edição de hoje a
pesquisa está descrita.
Ritual
Nos centros urbanos da América Central pré-colombiana, o lugar mais
importante é o chamado "complexo de ritual público".
A equipe demonstrou, por meio de análises do material encontrado e de
datações físico-químicas, que Ceibal tinha um desses complexos duzentos anos
antes de outros lugares, notadamente o sítio olmeca de La Venta.
O complexo incluía tradicionalmente praça pública, montes artificiais e
plataformas eventualmente transformadas em pirâmides. Ceibal já tinha algo assim em 1000 a.C., tornando o sítio o mais antigo
na região maia na planície; em 800 a.C. já havia ali uma pirâmide.
"O local foi ocupado por cerca de 2.000 anos, e os edifícios mais
antigos estão enterrados debaixo de 7 a 18 metros de construções posteriores.
Tivemos que desenvolver estratégias de escavação que abordavam esses
desafios", disse a pesquisadora Daniela Triadan.
Colapso
Os maias produziram a mais misteriosa e a mais importante das
civilizações da América pré-colombiana.
O mistério se deve ao fato de o seu período áureo ter acontecido bem
antes da chegada dos conquistadores espanhóis, terminando em colapso em torno
do ano 900, e também de sua escrita só recentemente ter sido decifrada. Pior, a
maior parte dos textos maias foi destruída.
Então como terminou a coisa? Um estudo publicado no ano passado na
revista científica "PNAS" sobre o sítio da mais importante cidade
maia, Tikal, dá pistas.
"O colapso envolveu diferentes fatores [climáticos, sociais e
militares] que convergiram como uma tempestade perfeita'. Nenhum fator isolado
poderia tê-los derrubado", disse Vernon Scarborough, da Universidade de
Cincinnati, à Folha então.
"Os maias não estão mortos. A população agrícola que permitiu à
civilização florescer ainda é viva na América Central. O que entrou em colapso
foi o seu nível de complexidade social."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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