Museu de Bremen encena episódios históricos - Por Janine Albrecht
Há diversos museus na Alemanha
dedicados às localidades onde se encontram. A Casa da História de Bremen, no
entanto, é especial, ao oferecer ao visitante encenações de fatos dos últimos
três séculos.
Na peculiar Casa da História de
Bremen, a história da cidade, localizada no norte alemão, se torna literalmente
visível para os visitantes.
Entre os fatos revisitados está, por exemplo, o
incêndio que se alastrou pela catedral no ano de 1656, provocado por um raio.
Um homem esguio narra, sentado numa poltrona, a história do fogo. E relata
sobre os suecos, que naquela época estavam em Bremen, uma presença não
necessariamente aprazível naquele momento.
O narrador mantém-se sentado em
frente a uma janela de ferro; a seu lado, sobre uma mesa de madeira, há
cinzeiros de zinco. Seu nome é Olafson e ele é sueco. As crianças, que visitam
o museu, permanecem sentadas à sua frente, num banco longo de madeira, e ouvem
atentas as histórias. Sem qualquer bocejo ou cochicho, como é de praxe em
excursões de escolares a museus.
Toque especial a fatos históricos
Pois esse museu é especial: em
nenhum lugar há peças de tempos passados expostas em vitrines. E tampouco
visitas guiadas com longos monólogos que resgatam datas e fatos do passado.
Ali, o visitante inicia uma verdadeira viagem no tempo, que começa em 1646 e
vai até o fim do sécuo 19. Os acontecimentos deste período são encenados. Há,
no total, 12 estações distintas. E a reconstrução viva do passado atrai ao
museu, situado numa edificação medieval no centro histórico de Bremen, um total
de mais de 40 mil visitantes por ano.
Os papéis são desempenhados por
atores leigos, que originalmente não têm ligação alguma com as artes cênicas. O
museu faz parte de um projeto da "associação bras e.V. – arbeiten für
bremen", voltada para oferecer trabalho a pessoas que se encontram
desempregadas por muito tempo. Elas são incumbidas de fazer o museu funcionar,
seja por trás dos bastidores ou "no palco", variando de acordo com a
vontade e talento de cada um.
"Quem quer trabalhar como
ator escolhe seu próprio papel", explica Sara Fruchtmann, que dirige o
museu ao lado de Ulrich Mickan. Para cada papel, há um aparato histórico, diz
Mickan. Durante os ensaios, os "atores" recebem uma série de
informações históricas, completa o diretor. Além disso, os envolvidos podem procurar,
eles próprios, mais material no arquivo e na biblioteca do museu. E cada um dá
a seu personagem um toque pessoal. "Presencio os ensaios, a fim de
corrigir eventualmente algum detalhe histórico", salienta Mickan.
Em média, demora por volta de
três meses até que os intérpretes estejam de fato preparados para seus papéis e
possam se apresentar, com figurinos costurados por eles próprios e um cenário
adequado. Os cenários puderam ser, em parte, "herdados" de outra
exposição. Mas de maneira geral tudo no museu é fruto de um trabalho pessoal,
tanto no planejamento quanto na construção.
Ao visitar o lugar, os escolares
de Bremen embarcam num navio comercial de 1700. O capitão da embarcação, com
três mastros e um amplo espaço à bordo, já está à espera deles. Geralmente,
quando ele pergunta às crianças quem quer ajudar, o número de candidatos é
grande. O capitão relata então sobre o comércio com os noruegueses, fala de
como eles comem peixe e por que compram tanto sal. Os alunos mergulham na
história, enquanto todos os objetos podem ser tocados e as "testemunhas"
questionadas.
Criando os próprios papéis
Os "atores" adaptam
suas histórias aos respectivos grupos de visitantes. Rabea Stein, por exemplo,
de 37 anos, passou muito tempo cuidando de seu pai enfermo. Depois de concluir
o ensino médio, mais tarde, ela trabalhou como vendedora em "feirinhas
medievais" até que, por fim, acabou desempregada.
No museu, Stein, que aprecia a
leitura de romances históricos, representa o papel de Klara, personagem que é
a filha requintada de um comerciante, tendo sido inspirada nas mulheres ricas
dos tempos de Luís 14. "Aqui me sinto protegida", diz Rabea Stein.
Depois dessa experiência, ela pretende frequentar um curso universitário, a fim
de se tornar professora do ensino fundamental.
A seu lado trabalha Tina
Goldsweer, que já representou alguns papéis na Casa da História. Ela está
desempregada e não pode, por razões de saúde, continuar trabalhando com
fotografia, como anteriormente No museu ela se sente satisfeita e diz não
querer mais deixar o lugar. No entanto, o trabalho ali é temporário, pois o
projeto tem em vista apoiar os desempregados para que eles, em algum momento,
reencontrem um emprego.
Paralelamente ao trabalho no
museu, os funcionários frequentam cursos de especialização. "Através da
representação de papéis adquiri mais autoconfiança", conta Lucia (nome
modificado pela redação).
A mulher tímida, proveniente da Eritreia, chegou em
1987 à Alemanha, onde passou muitos anos apenas como dona de casa e mãe,
mantendo pouco contato com o mundo exterior. Entretanto, sua situação mudou e
ela encarna o papel mais "singelo" nas encenações do museu.
O segundo andar do museu
proporciona aos visitantes uma incursão pelo universo da era colonial. Através
de uma escada estreita, sai-se da Idade Média, chegando ao século 19. A maioria
dos visitantes do museu não sabe que aqueles que representam os papéis são
"apenas" leigos. Pois as personagens são altamente vivas, capazes de
narrar a história de uma maneira incrivelmente interessante.
Fonte: http://www.dw.de
Comentários