Evangélicos: mercado de R$ 12 bi que tem até cartão de crédito próprio - Por Luisa Medeiros
O senso comum traz à tona livros , CDs
e DVDs quando o assunto é mercado evangélico. Apesar de serem os mais
representativos em faturamento, estes itens não são as únicas opções focadas
neste público.
Atualmente as empresas gospel disponibilizam produtos que vão
desde agendas, materiais de papelaria, roupas personalizadas, brinquedos, DVDs
e desenhos animados até serviços como sites de relacionamento, pacotes de
viagens, eventos e cartão de crédito.
Toda essa variedade faz com que este
segmento tenha movimentado R$ 12 bilhões no ano passado, segundo um estudo da
ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). As novidades atendem a um
contingente de 42,3 milhões de pessoas, o que representa 22,2% da população
brasileira, de acordo com o Censo IBGE divulgado em 2012.
O crescimento foi de 61,45% na última
década e repercute na profissionalização do segmento atraindo cada vez mais
empresários de novos ramos. A maior fatia ainda pertence aos livros, que
representam R$ 479 milhões do faturamento, de acordo com a Câmara Brasileira do
Livro. Além dos leitores brasileiros, as editoras nacionais ainda exportam o
título para 105 países.
O setor fonográfico também é fortalecido por esses
consumidores e movimenta R$ 1,5 bilhão anualmente, de acordo com dados da
Associação Brasileira de Produtores de Discos. Completam o movimento serviços
como sonorização e mobiliário de templos, que se tornam cada vez mais espaços
aptos a receber eventos, produção de programas de televisão e rádio,
publicações de revistas e jornais, gráfica, feiras, premiações, shows e
congressos.
O alto faturamento somado a
representatividade de público atrai para o gospel inclusive gravadoras laicas
como a Som Livre e Sony Music, que criaram selos evangélicos e investiram na
contratação de nomes conhecidos pelo público. Com a entrada dos novos players,
a música gospel se especializou, saiu dos muros das igrejas e ganhou festivais
e premiações como o Grammy Latino.
“O mercado está muito mais exigente do que
há 10 anos. A mentalidade que imperava era: sou evangélico e vou fazer um
produto para evangélicos. Então não precisa ser tão profissional, porque de
irmão para irmão se aceita qualquer coisa. Nessa época, produto evangélico era
sinônimo de falta de qualidade. A música, por exemplo, não era aceita por quem
não era do meio”, analisa Carlos Vinícius Buzulin, fundador do site
Amoremcristo.com, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Moda, brinquedos e papelaria especializada
A profissionalização do setor contribuiu para a ampliação da oferta de produtos específicos e elevou a qualidade dos itens oferecidos.
“Os evangélicos deixaram
de ser a minoria da população e tornaram-se mais exigentes no que diz respeito
à exclusividade e especificidade de produtos. A qualidade não é mais tratada
como diferencial, mas como essencial. Essa busca por novos diferenciais obrigou
os produtores deste mercado a se profissionalizarem, encontrarem novas técnicas
e apresentarem soluções para que seus produtos sejam mais atrativos ao
público”, aponta Marcos Barboza, Gerente de Marketing da Central Gospel, em
entrevista ao Mundo do Marketing.
Com isso, as marcas evangélicas
pretendem conquistar cada vez mais território. Um exemplo disso é a pastora e
cantora Aline Barros que se empreendeu em um setor diferente da música e lançou
no ano passado a grife Minha Maria, especializada em moda infantil exclusiva
para meninas.
Outras marcas seguem a mesma tendência e oferecem roupas e
acessórios de diferentes estilos para atender a demanda das mulheres cristãs.
As empresas Ce Chic e Clara Rosa baseiam seu estilo nas tendências
internacionais de moda e contam com plataformas digitais, modelos fotográficas
e de passarela, desfiles e look books.
“As confecções sofreram uma mutação ao
longo do tempo. Antes as roupas evangélicas eram peças que as pessoas usariam
só mesmo para ir à igreja. Atualmente transmitem valores sem dever nada a
outras grifes”, afirma Carlos Vinícius Buzulin.
Além das roupas, a ampliação das ofertas para o segmento e o aumento da demanda estimulou a ampliação do mix de companhias que já atuam neste mercado há mais tempo.
É o caso da editora Luz e Vida que além de Bíblias e agendas expandiu
seu portifólio com um álbum de adesivos colecionáveis e comercializa atualmente
materiais escolares e brinquedos com as marcas infantis Turminha Querubim e
Smilinguido.
Selo gospel em serviços
O selo gospel se estendeu para os serviços e é possível contratar até cartões de crédito específicos para este público. Em duas versões, Assembléia de Deus MasterCard e CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil) Gold, os cartões que foram criados em comemoração ao centenário das Assembleias de Deus, em 2011, repassa 50% dos lucros para a igreja da qual o cliente é membro para investimento em obras sociais e missionárias.
Quem adere ao serviço tem limite
pré- aprovado de meio salário mínimo e conta ainda com uma plataforma que envia
mensagens de prevenção a compras impulsivas.
Entre os
serviços existem opções de lazer que incluem roteiros turísticos diferenciados
e filmes com temas evangélicos. A TKR Turismos é voltada para o turismo
cristão, os roteiros mais procurados na agência são os que envolvem os cenários
das histórias bíblicas, como Israel, Sinai e Egito.
Outra opção de lazer são os
filmes com temas bíblicos, distribuídos por produtoras evangélicas, como a
Graça Filmes conta com mais de 40 títulos com temas voltados para crianças,
jovens, casais e famílias. Uma de suas produções recentes, o filme “Três
Histórias Um Destino” ganhou as telas dos cinemas do país no final do ano
passado. A trama foi gravada nos Estados Unidos e baseada em um livro do
missionário RR Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus.
Na internet,
os sites Amoremcristo.com e Casandoemcristo.com oferecem serviços relacionados
a namoro e casamento. O primeiro é uma rede social voltada para solteiros que
desejam iniciar um relacionamento amoroso e conta com uma base de mais de 2,5
milhões de usuários.
O segundo tem como alvo os casais que vivem os
preparativos do casamento e disponibiliza uma plataforma para criar um site
personalizado, com lista de presentes e detalhes da festa.
“O Amor em Cristo
nasceu como site de relacionamentos, mas com o tempo criamos ramificações: uma
fanpage para reunir pessoas que querem orar por um propósito em comum chamada
“Gente que ora” está no ar e devemos estrear nos próximos meses um canal de
vídeo aula em full HD”, diz o fundador dos sites Amoremcristo.com e
Casandoemcristo.com, em entrevista ao portal.
Maioria dos cristãos pertence à
classe C e quer custo-benefício
Para ingressar nesse nicho, além de um produto competitivo, as empresas precisam compreender o que leva este público a escolher um produto.
“O sucesso
está em conciliar a parte profissional e compreender as necessidades
espirituais. Estas empresas têm que ter esses dois pilares. Se só um deles
estiver bem estruturado, o projeto estará fadado ao fracasso. Hoje temos
empresas de diversos segmentos criando ramificações evangélicas, dando uma cara
gospel para conquistar essa fatia da população. Quando o negócio não dá certo,
geralmente a falha está em não conhecer como este público pensa e se comporta.
São empresários que entram simplesmente para capitalizar”, comenta Carlos
Vinícius Buzulin.
O perfil de consumo da comunidade
evangélica acompanha o fenômeno das ascensões da classe média e grande parte
destes consumidores integra a emergente classe C. Consequentemente, este
público expressa um comportamento de compra baseado em custo-benefício e almeja
adquirir bens que antes não faziam parte do seu leque de consumo.
“A maior
parcela da comunidade evangélica estava justamente nas classes D e E. Eram
consumidores com menor potencial financeiro e que, consequentemente, gastavam
menos com produtos fora da linha de primeira necessidade. Hoje, essa realidade
econômica mudou. A maioria pertence à nova Classe C e, devido a sua condição
financeira, prioriza a compra de produtos em quantidade, sem abrir mão da
qualidade”, diz Marcos Barboza, Gerente de Marketing da Central Gospel.
Abastecidos por este maior potencial de compra, os clientes da nova classe média constroem sua confiança nos televendas e e-commerces de marcas evangélicas, alavancando o alcance desses canais. Para aumentar a taxa de conversão, a Central Gospel investe em pontos de venda em shoppings e hipermercados, além de televendas e loja vitual.
Abastecidos por este maior potencial de compra, os clientes da nova classe média constroem sua confiança nos televendas e e-commerces de marcas evangélicas, alavancando o alcance desses canais. Para aumentar a taxa de conversão, a Central Gospel investe em pontos de venda em shoppings e hipermercados, além de televendas e loja vitual.
“Os consumidores das classes
sociais mais favorecidas buscam produtos de acabamento refinado e com maior
valor agregado. Os das classes mais baixas e da classe média estão mais
críticos nas suas buscas e são atraídos principalmente pela forma de pagamento.
Visam, com isso, adquirir mais produtos de uma só vez para pagar em mais tempo,
em detrimento ao hábito de consumo ponderado e contínuo”, complementa o Gerente
de Marketing da Central Gospel.
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