Crescimento de evangélicos impulsiona despertar da Igreja Católica, diz Damasceno – Por Larissa Leiros Baroni
Em entrevista exclusiva ao UOL,
a poucos dias da chegada do papa Francisco ao Brasil, dom Raymundo Damasceno
Assis, arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), disse que o crescimento de evangélicos no Brasil e no
mundo impulsionou um "despertar" da Igreja Católica, que, na opinião
dele, estava "acomodada".
"Talvez nós tenhamos nos
acomodado e pode ser que o crescimento do movimento neopentecostal tenha nos
feito acordar, nos despertar para a nossa verdadeira missão", disse ele,
que ressaltou, no entanto, o aumento da qualidade dos católicos. "Os
praticantes são muito mais coerentes com suas práticas e praticam sua fé de
modo mais convencido. Isso é muito positivo."
No Brasil, ao mesmo tempo em que
o número de evangélicos aumentou 61,45% em 10 anos, a comunidade católica
sofreu uma queda de 1,3% no índice de fieis no mesmo período. É o que aponta o
último Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Em 2000, cerca de 26,2 milhões se disseram evangélicos. Em 2010,
eles passaram a ser 42,3 milhões. Ainda assim o país ainda segue com maioria
católica. O número de católicos foi de 123,3 milhões em 2010, cerca de 64,6% da
população. No levantamento feito em 2000, eles eram 124,9 milhões, ou 73,6% dos
brasileiros.
Ainda assim Damasceno diz que a
eleição do papa Francisco trouxe uma esperança para a comunidade brasileira e
mundial.
"Gerou muita esperança na Igreja Católica, uma expectativa muito
positiva. Mas é muito difícil quantificar essa mudança no aumento do número de
fiéis. O que a gente percebe ouvindo e vendo é que há uma expectativa positiva,
alegre e esperançosa para o seu pontificado", complementou o presidente da
CNBB, que ressalta o acolhido do pontífice, principalmente pela capacidade de
atração que o argentino naturalmente tem.
"E isso tem sido comprovado
com o aumento de romeiros e visitantes em Roma. O número de peregrinos está
aumentando cada vez mais, sobretudo nas audiências públicas de quarta-feira e
no Angelus, no domingo. Estão falando em cerca de 200 mil pessoas por
semana". Esse poder de atração é justificado por Damasceno, principalmente
por causa de sua simplicidade e a sua informalidade que o aproximam do
povo.
Mas o arcebispo brasileiro
relaciona a eleição do papa Francisco à reaproximação da Igreja Católica ao sua
missão. "A igreja existe para evangelizar. O que significa que a igreja
deve cuidar daqueles que a frequentam, que participam da vida das nossas
comunidades, mas que também precisa sair ao encontro dos que estão
distantes."
Ele, no entanto, afirma que a mudança da postura da comunidade
católica nada tem a ver com o crescimento da Igreja Evangélica.
"Não é uma resposta aos
evangélicos. Fazemos isso por questão de missão, de objetivo, de finalidade.
Muitas vezes nós nos acomodamos e precisamos sair desse comodismo. Isso está
muito claro na visão do papa Francisco", completou dom Damasceno, que
garantiu que a Igreja Católica não pretende discriminar ninguém, apesar de não
concordar com certos comportamentos da atualidade, tais como o casamento gay, a
eutanásia e o divórcio.
A igreja, como ele apontou, não
discrimina pessoas, "mas não pode concordar com certas posições que se
opõe ao seu ensinamento ético". "Não podemos equiparar um casamento
com duas pessoas do mesmo sexo com outro entre um homem e uma mulher. Não é
mesma coisa. Com todo respeito aos que optam por esse caminho. A igreja também
não pode aprovar a eutanásia, porque a vida é um dom de Deus. A igreja não pode
aprovar o divorcio e não pode dizer que o divorcio é um caminho normal, embora
respeite quem fez essa opção", exemplifica.
Mesmo assim quase metade dos
casais homossexuais brasileiros (47,4%) se autodeclaram católicos, segundo
dados do Censo Demográfico 2010 divulgados pelo IBGE.
Fonte: http://noticias.uol.com.br
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