Egoísmo poderia ter extinto seres humanos, diz pesquisa – Por Melissa Hogenboom
A evolução não favorece às
pessoas egoístas, segundo uma nova pesquisa realizada por cientistas
americanos.
O resultado contraria uma teoria anterior que sugeria ser melhor
tomar decisões favorecendo a si mesmo. Ao contrário disso, o novo estudo afirma
que ser cooperativo traz vantagens sobre o egoísmo.
Divulgado pela publicação
científica Nature Communications, o estudo concluiu que se todos
preferissem exercer ações egoístas os seres humanos poderiam ter sido extintos.
Para conduzir a pesquisa, os
cientistas usaram uma teoria que envolve a simulação de situações de conflito
ou de cooperação. Ela também permite desvendar estratégias de tomadas de
decisão complexas e estabelecer porque certos tipos de comportamento surgem
entre os indivíduos.
Dilema do prisioneiro
O estudo, realizado por uma
equipe da Michigan State University, nos Estados Unidos, usou como modelo
o chamado "jogo do dilema do prisioneiro", onde dois suspeitos são
interrogados em celas separadas e devem decidir se delatam um ao outro ou se
preferem se calar.
Nesse modelo, um acordo de
liberdade é oferecido a cada prisioneiro se eles decidirem denunciar o outro. A
liberdade só é alcançada por aquele que denuncia, desde que o outro oponente
decida ficar calado, o que leva este último a ser punido com seis meses de
prisão.
Se ambos os prisioneiros
denunciam um ao outro, os dois pegam três meses de prisão, delação. No caso dos
dois decidirem ficar em silêncio juntos, cooperação, eles ficariam apenas um
mês na prisão. O importante teórico matemático John Nash demonstrou, nesse
modelo, que a tendência mais observada era a de não cooperar.
"Pode-se pensar que a
seleção natural poderia favorecer indivíduos que são exploradores e egoístas,
mas, na verdade, nós sabemos agora, depois de décadas de pesquisa, que essa é
uma visão simplista das coisas"
"Por muitos anos, as pessoas
se questionaram se Nash estava certo. Por exemplo: por que vemos cooperação no
reino animal, no mundo dos micróbios e até mesmo dos humanos?", diz o
autor da pesquisa, Christoph Adami, da Michigan State University, que começou a
questionar o conceito de Nash.
A resposta
A resposta, afirma Adami, é de
que a comunicação entre os indivíduos do "jogo do dilema do
prisioneiro" nunca havia sido levada em consideração.
"A teoria parte do pressuposto
de que os dois prisioneiros interrogados não podem falar entre si. Caso isso
acontecesse, eles fariam um pacto e ganhariam a liberdade em um mês. Mas,
proibidos de conversar, a tentação é de que haja uma delação, de um ou de
outro", diz o cientista.
"Agir de má fé pode dar uma
vantagem competitiva a curto prazo mas certamente não a longo prazo. E,
inevitavelmente, levaria à extinção da nossa espécie".
Essas últimas descobertas
contradizem um estudo realizado em 2012. A pesquisa revelou que os egoístas
apresentariam uma vantagem frente aos que prezassem pela cooperação.
O resultado foi batizado como a
estratégia "egoísta e de má fé" e dependeria de que o participante
soubesse da decisão prévia de seu adversário, ao que adaptaria sua estratégia
de acordo com esse conhecimento.
Crucialmente, em um ambiente
evolucionário, conhecer a decisão de seu adversário poderia não se tornar uma
vantagem a longo prazo, porque o oponente poderia desenvolver o mesmo mecanismo
de reconhecimento que o seu, explicou Adami.
Essa foi exatamente a conclusão a
que a equipe chegou. Para obter tal resultado, eles usaram um poderoso modelo
de computador para realizar centenas de milhares de combinações, simulando um
simples intercâmbio de ações que, no entanto, levou em conta uma comunicação
prévia entre os "usuários".
"Nós criamos um modelo no
computador para coisas muito generalistas, notadamente decisões entre dois
tipos de comportamentos. Nós as chamamos de cooperação e deserção. Mas no mundo
animal há todos os tipos de comportamentos que são binários (com apenas duas
opções), por exemplo, fugir ou combater", afirmou Adami à BBC News.
"É como se tivéssemos uma
corrida armamentista durante a Guerra Fria, mas essas corridas armamentistas
ocorrem todo o tempo na biologia evolutiva".
Darwin
O professor Andrew Coleman da
Universidade de Leicester, no Reino Unido, disse que o novo trabalho
"freia interpretações com excesso de zelo" da estratégia prévia, que
propôs o avanço de padrões egoístas e manipuladores.
"Darwin ficou intrigado com
o que observou na natureza. Ele se atinha particularmente aos insetos e seu
modelo de cooperação", explicou.
"Pode-se pensar que a
seleção natural poderia favorecer indivíduos que são exploradores e egoístas,
mas, na verdade, nós sabemos agora, depois de décadas de pesquisa, que essa é
uma visão simplista das coisas, especialmente se o "gene egoísta" da
evolução for levado em consideração".
"Explico-me: não são os
indivíduos que têm de sobreviver, mas sim seus genes. Os genes só usam os
organismos, de animais ou de humanos, como veículos de propagação." "Os genes egoístas" se
beneficiam, portanto, de organismos que cooperam entre si", conclui.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
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