Islão visto como elemento pernicioso aos costumes angolanos - Por Ireneu Mujoco
Antunes Huambo, que é líder da
Igreja Coligação Cristã em Angola (ICCA), plataforma que reúne mais de 900
Igrejas, em conversa com O PAÍS, afirmou que o Islão em Angola está a
introduzir um sistema doutrinário alheio à cultura angolana, cuja finalidade é
a de expandir a sua religião e implantá-la como sendo cristã.
De acordo com a fonte, o que o
Islão pretende fazer, ou está fazendo, é uma penetração silenciosa, fazendo-se
passar por intermédio de empresários e comerciantes que vêm a Angola sob o
pretexto de investir, mas “no fundo o seu objectivo é o de implantar a sua
religião e abafar a nossa matriz cristã”, afirmou. Reconheceu que as pessoas
são livres de professar a religião que acharem conveniente, mas alertou para
algumas cautelas.
Segundo a fonte, é necessário que
as pessoas façam um exame de consciência sobre a decisão de se filiarem-nesta
ou naquela religião, porque, avançou, “muitos vêm com a intenção meramente
mercantil, extorquindo ou fazendo comércio em nome da congregação que
representam, ignorando o seu principal propósito, que é o de pregar a
palavra de Deus”.
Para ele, o que preocupa mais a
sociedade não são as pessoas que professam o islão, mas as chamadas práticas
alheias à cultura angolana, em que para além da sharia e da jihad, estão também
a poligamia e a mutilação genital, costumes e tradições avessas ao
cristianismo. “Sem nenhum ataque contra os muçulmanos, mas eles não têm o
direito de nos impor as suas regras, porque somos um país soberano”,
atirou Antunes Huambo.
Antunes Huambo alertou as
autoridades competentes para um combate cerrado contra a imigração ilegal, já
que, na sua opinião, alguns imigrantes vêem com o propósito de fazer negócios,
mas depois apegam-se a outras práticas que podem colocar não só a nossa matriz
cristã em risco, mas “também a própria segurança do país, já que as nossas
riquezas são muito cobiçadas”.
Perigo iminente
O jornalista da Rádio Nacional de
Angola (RNA), Rodrigo Fontoura, emitiu também a sua opinião, dizendo que a
expansão do Islão não constitui só uma questão de aculturação, mas também de
segurança, na medida em que os actos terroristas praticados em alguns países
são atribuídos a fiéis que professam esta religião.
Segundo ele, a imprensa
internacional nos últimos tempo, ou seja, desde a guerra do Iraque aos
conflitos do Afeganistão, Paquistão, da Somália e outros, tem estado a
exibir imagens chocantes de actos terroristas que são protagonizados em nome
desta religião na América, Ásia, Europa e em África.
“Refiro-me concretamente à
destruição das Torres Gémeas em Nova Iorque, ataques suicidas na Espanha,
França, e mesmo cá no nosso continente, casos concretos que ocorrem na Somália,
Nigéria, Quénia, Sudão e ultimamente no Egipto”, apontou jornalista da Emissora
Provincial do Kuanza-Norte.
Admitiu que o islão poderá estar
intrinsecamente ligado ao terrorismo internacional por, segundo a fonte, haver
no seu seio crentes que se assumem como sendo radicais. “Se no meio desta
religião há quem diga ou mesmo assuma ser radical, então não há dúvidas de que
esta congregação esteja ligada a actos maléficos”, frisou, acrescentando que
“há quem depois da acção assume a autoria do crime”, concluiu.
Crente da congregação religiosa
“Testemunhas de Jeová”, Rodrigo Fontoura concluiu a sua opinião dizendo que o
fluxo migratório de estrangeiros legais e ilegais no país tem ajudado na
expansão desta crença. Referiu ainda que eles (muçulmanos) não permitem que nos
seus países se implante uma outra religião, senão a sua, e a tendência é a de
acabar com as demais, como está a acontecer no Norte da Nigéria, numa acção que
está sendo levada a cabo pela organização fundamentalista islâmica “Boko
Haram”.
Em resumo, das pessoas
entrevistadas pela nossa reportagem, de que a maioria falou sob anonimato,
temendo eventuais represálias, as suas opiniões divergem uma das outras. Das
onze pessoas com quem O PAÍS conversou, oito se opõem à presença do islão,
enquanto os restantes defendem a sua presença, alegando o que está estatuído na
nossa carta magna. “As pessoas são livres de professarem a religião que
quiserem”, disseram.
‘Estamos a ser incompreendidos’
Esta é a opinião do presidente da
Comunidade Islâmica de Angola (COIA), imamu (pastor), David Alberto Já, quando
abordado pela nossa reportagem, esta semana. Segundo o líder, a instituição que
dirige está a ser incompreendida por alguns estratos da sociedade que, segundo
ele, “não querem ver o islão em franco crescimento em Angola”.
Diz Já que já explicou inúmeras
vezes e publicamente sobre o papel da religião islâmica, mas ainda assim há
pessoas que tentam denegrir a imagem desta religião, que a fonte considerou
como sendo uma das mais antigas. “O islão é uma instituição de bem, de
paz, irmandade, espiritualidade, boa convivência entre pessoas de diferentes
estratos sociais”, afirmou.
Deplorou que nos últimos tempos a
religião que dirige, no nosso país, esteja a ser conotada como sendo uma crença
associada a actos pouco abonatórios e anti-sociais, colocando a vida da
sociedade em perigo. “Há pessoas que atiram impropérios contra o islão,
acusando-o de promover vários actos que podem colocar em perigo a
segurança nacional, mas sem provas”, refutou o líder religioso.
Denunciou que existem na
sociedade angolana alguns sectores e pessoas de má-fé, que pretendem manchar a
religião para fins inconfessos e favorecer outras congregações que se assumem
como próximas do poder político. “Angola não é um país maioritariamente
cristão, como fazem crer alguns clérigos de várias denominações religiosas”,
desabafou.
Segundo ele, “Angola é um país
multicultural. Cada um, sem coacção de ninguém, deve escolher a religião que
quiser, mas o que vemos é que parece haver sectores que pretendem definir as
pessoas para professar esta ou aquela religião, o que é contra a lei”, afirmou
o número um da COIA. Para ele, o mais importante é que se cumpra o que está
estabelecido por lei.
“Nós estamos a exercer o nosso
culto com base no que a lei diz, embora não sendo uma religião reconhecida pelo
Estado angolano, à semelhança de tantas outras também que estamos na mesma
condição”, defendeu o rosto visível desta comunidade que conta com mais de 800
mil fiéis (perto de um milhão dizem) e 57 mesquitas espalhadas por todo o país.
Deste número, 22 estão sedeadas em Luanda. A maioria dos que professam o islão
em Angola é sunita (tidos como os mais radicais), havendo pouquíssimos xiitas.
Durante a conversa, David Já
mostrou-se constrangido com o encerramento de algumas mesquitas nas províncias
do Zaire, Bié, Lundas Norte e Sul, em resposta a um despacho do ministro da
Justiça, Rui Mangueira, exarado em Junho do ano em curso, que proíbe o culto
das igrejas não reconhecidas. “Estamos indignados com esta situação, porque nós
somos uma religião milenar”, lamentou.
Fim do ramadão com apelo ao perdão
À semelhança do que ocorre todos
os anos no Monte de Arafat, na Arábia Saudita, no dia da peregrinação à Meca,
onde milhares de muçulmanos de todo o Mundo participam efusivamente, em Angola
a data não passou despercebida, e houve também cultos de acção de graças a Alah
(Deus), nesta Quinta-feira, 8, em todas as mesquitas do país.
Em Luanda, onde estão situadas as
maiores mesquitas, O imamu (pastor) da Comunidade Islâmica de Angola (COIA),
Ibrahím Soumaré, exortou os seus fiéis a pautarem-se pelo perdão
mútuo entre cidadãos desavindos, para permitir uma sã convivência entre membros
da mesma sociedade, sem quaisquer paixões religiosas, rácicas e ideológicas.
O apelo foi feito durante a
homília do culto de acção de graças numa das mesquitas do bairro Hojy Ya Henda,
município do Cazenga, por ocasião da celebração da “Aîd al Adha” (peregrinação
à Meca, em português), o quinto pilar do islão.
“Este é um dia muito grande para
os crentes muçulmanos, porque nos leva a reflectir sobre a nossa existência, e
agradecer a Alah por nos ter criado como seres humanos”, disse, acrescentando
que a efeméride deve ser aproveitada para se “pedir perdão uns aos outros” sem
condicionalismos. “Quem tem inimizade com alguém deve aproximar-se a ele e
pedir perdão e renovar o convívio normal”, aconselhou.
Ibrahím Soumaré sublinhou que
“perdoar não é sinal de fraqueza, mas uma atitude pacificadora para
uma sã convivência entre as comunidades”. No culto, durante o qual destacou-se
a importância da efeméride, considerada como a segunda festa mais importante do
islão, que é assinalada anualmente no fim dos quarenta dias de jejum,
Soumaré disse ainda que o momento é também para a renovação da fé entre os
seguidores do profeta Maomé, considerado o “pai” do islão no mundo.
O imamu referiu que a
peregrinação à Meca, em obediência ao quinto e último pilar consagrado no
alcorão, o livro sagrado do islão, em consonância com o calendário islâmico, é
um dos momentos mais altos da exaltação da fé de um crente muçulmano. “É um dia
muito importante para os muçulmanos que se deslocam a este lugar santo”,
sublinhou.
A romaria à Meca, onde os fiéis
vestidos geralmente de túnicas brancas consideram que terá sido lá onde o
profeta Maomé fez o seu último discurso, há mais de catorze séculos, deve ser
feita pelo menos uma vez na vida de um muçulmano, desde que haja possibilidades
para se deslocar ao também conhecido Monte Piedade.
Os que não têm este
privilégio, segundo Ibrahím Soumare, devem contentar-se com a feitura
de orações e a imolação de um animal, cabrito, preferencialmente.
Imolação de um animal
É uma tradição secular, lembrando
o momento em que Abraão esteve disposto a sacrificar o seu próprio filho Isaac,
em cumprimento de uma ordem divina. Depois de imolado o animal, a carne é
distribuída aos vizinhos, amigos e também aos demais necessitados para todos
festejarem este dia que tem um significado ímpar para os muçulmanos, e que no
cristianismo tem a dimensão de páscoa.
É com base no bem que as pessoas
devem viver harmoniosamente, afastando o mal que as persegue impiedosamente,
por causa do pecado a que o homem está sujeito, enquanto ser vivente nesta
terra, afirmou Ibrahím Soumaré, durante o culto, reforçando que esse mesmo bem
deve prevalecer no seio de qualquer comunidade.
Suporte do Islão
O Islão como religião é
constituído por cinco principais pilares, ou mandamentos para os cristãos:
Profissão da fé, cinco orações ao dia, (que devem ser feitas às cinco, treze,
quinze e trinta, dezoito e dez e às dezanove horas de todos os dias
ininterruptos. Em caso de falha de alguma, deve ser recuperada. O jejum,
esmolas aos mais necessitados e a peregrinação, são outros pilares que formam
ainda a crença islâmica.
O culto festivo foi assistido por
mais de cinco mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças, maioritariamente
fiéis de origem oeste-africana, e alguns angolanos, sobretudo mulheres, estas
que se vão convertendo nesta “nova” religião por laços matrimoniais. Aliás, a
aderência de angolanos ao islão já não constitui novidade nenhuma, pois as
estatísticas são animadoras, segundo o líder da COIA, David Já.
Fonte: http://www.opais.net
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