Ouro e religião contam a história do Brasil nas igrejas de Salvador – Por Renata Gama
Antiga capital da colônia,
Salvador narra em suas igrejas duas histórias próprias dos tempos de domínio
português:
o ciclo do ouro e o sincretismo religioso. Enquanto alguns
santuários são raros exemplares ricos em altares dourados do estilo barroco,
outros são amostras máximas da mistura de credos e raças.
O luxo, a extravagância e a
riqueza de detalhes em talhas douradas é o que fazem da Igreja e Convento de
São Francisco um dos conjuntos arquitetônicos de beleza mais marcante do
Pelourinho. É muito ouro.
Por todos os lados. Todas as paredes, colunas,
altares, capelas e tetos são revestidos de intrincados entalhes, com florões,
frisos e arcos dourados. Estima-se que foi usada uma tonelada de ouro na
ornamentação do santuário, datado do século 17.
Detalhe importante para o
turista: enquanto ele se deslumbra com tamanha beleza e riqueza, é permitido
fotografar, algo não muito comum em igrejas históricas desse porte. A única
restrição é em relação ao uso do flash, mas nada que o impeça de fazer
belíssimas imagens para registrar a exuberância do lugar.
Além disso, é possível circular
por vários ambientes do santuário para apreciar suas belezas mais ocultas. Isso
só é permitido, no entanto, quando a visita é feita fora do horário de missa. É
possível conhecer a sacristia, que também é ricamente decorada, o corredor que
a interliga à igreja (onde o teto e os azulejos portugueses foram pintados com
cenas bíblicas) e o pátio do convento.
Também no Pelourinho, a Igreja da
Ordem Terceira de São Francisco é outro exemplar rico em ouro, de estilo
barroco e de influência jesuíta. As talhas douradas aqui são menos exuberantes
e estão nos contornos dos arcos, dos altares, dos relevos no teto e nas
colunas. Mas não deixam de ser de rara beleza.
Aqui também é permitido
fotografar e mais: como a estrutura da igreja abriga um museu de arte sacra, a
circulação é quase irrestrita. É possível andar pela sacristia e por outras
salas, subir as escadas até os púlpitos para apreciar as belezas de vários
ângulos, ou descer até a cripta. Nos corredores superiores, destacam-se na
coleção de objetos sacros um relógio solar, vestes dos cardeais, entre outras
raridades.
Capital do sincretismo
Ela não está no topo da colina.
Está no meio de uma ladeira, no Largo de Teresa Batista, no Pelourinho. É de
arquitetura simples, se comparada às vizinhas levantadas pelos portugueses. Mas
dentre todas é uma das mais belas e relevantes do centro histórico de Salvador.
A riqueza da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, o santuário
dos escravos, não está no ouro, mas sim na herança cultural que representa para
a Bahia e para o Brasil.
O pré-requisito para ter uma
experiência inesquecível ao entrar na Igreja do Rosário dos Pretos é fazer a
visita em horário de missa. Toda a cerimônia é musicada, ao som de batuques e
cantorias, puxados por baianas, que remetem aos cultos dos terreiros de
candomblé. Difícil não se emocionar com a manifestação viva da raiz da cultura
brasileira. Quando acaba a missa, é possível visitar nos fundos o antigo
cemitério dos escravos.
Outra representante do sincretismo
religioso em Salvador é a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. O centro de
devoção, onde adeptos do candomblé e do catolicismo se unem na festa da
lavagem das escadarias em janeiro, é outro ponto turístico clássico da
capital baiana.
O atrativo aqui são os milagres e
a devoção. Todos os dias a igreja recebe peregrinos pagadores de promessas de
todos os cantos da Bahia. Turistas também deixam suas intenções no lugar, que
ficou conhecido por suas fitinhas coloridas, que representam as graças pedidas.
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