1ª ialorixá 'imortal', Mãe Stella assume cadeira que foi de Castro Alves na BA – Por Egi Santana
Mãe Stella de Oxóssi recebeu o
título de "imortal" pela Academia de Letras da Bahia (ALB) na noite
desta quinta-feira (12), em Salvador.
Stella de Azevedo dos Santos é a primeira
mulher negra e mãe-de-santo a assumir o posto no Brasil. Enfermeira de formação,
ela assume a cadeira 33, que tem como patrono o poeta, escritor e abolicionista
Castro Alves.
Durante seu longo discurso, lido
pelo acadêmico Carlos Capinam, em decorrência dos 88 anos da iaolorixá, Mãe
Stella fez uma passagem por livros, poesias e frases famosas de seus
antecessores na cadeira, como Castro Alves.
"Muitas pessoas lutaram para
que eu pudesse ocupar esta cadeira. Entre elas. o patrono, que em vozes da
África, clamou por nós. Se minha bisavó chegou ao Brasil presa a muitos outros
negros africanos, hoje aqui me encontro acorrentada por um adorno que me une a
todos os baianos, brasileiros e humanos. Letrados ou não letrados. O poeta dos
escravos desejava ver todos os homens tratados com igualdade de condições. Por
isso escreveu um dos mais conhecidos poemas da literautra brasileira, 'O Navio
Negreiro'", pontuou em parte de seu discurso de pouco mais de uma hora de
duração.
Afinal, a sabedoria não tem cor e
não pertence a nenhuma raça específica"
Mãe Stella de Oxossi
Em um segundo momento, levou a
plateia que lotava o plenário da ALB à comoção quando, após agradecer, garantiu
sua permanência na luta pela igualdade de direitos:
"Sigo esforçando-me
para que a religião trazida pelo povo africano ao Brasil seja devidamente
respeitada. Sobre o fato de uma mãe-de-santo "marrom", como se
auto-intitulou após falar da herança portuguesa e africana de seus ancestrais, assumir a vaga, ela acrescentou: "Afinal, sabedoria não tem cor e não
pertence a nenhuma raça específica".
Formada na Universidade Federal
da Bahia (UFBA), mãe Stella é a ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó
Afonjá, fundado em 1910 em São Gonçalo do Retiro, no Cabula, na capital
baiana.
No currículo de seus 88 anos, ela traz seis livros publicados,
todos sobre a temática da religião africana, e dois títulos de Doutor Honoris
Causa, oferecidos pela UFBA e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Participaram da cerimônia devotos
do Candomblé, membros da Academia, representantes da sociedade e autoridades
como o governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto.
"Creio que é uma homenagem mais do que justificada pelo que ela representa do ponto de vista de sua espiritualidade, mas também pelo que ela representa pela sua produção, seus artigos e livros. Está de parabéns a Academia, e Mãe Stella. É um passo importante para a quebra de qualquer tipo de preconceito que ainda aconteça", disse o governador.
"Creio que é uma homenagem mais do que justificada pelo que ela representa do ponto de vista de sua espiritualidade, mas também pelo que ela representa pela sua produção, seus artigos e livros. Está de parabéns a Academia, e Mãe Stella. É um passo importante para a quebra de qualquer tipo de preconceito que ainda aconteça", disse o governador.
"Mãe Stella representa a
cultura, a história, as tradições de nossa terra. Acho que é o exemplo da
mulher baiana, com sua riqueza e grandeza, e sobretudo com seus exemplos
sociais. Hoje, com imensa justiça, acaba sendo agraciada como imortal da Academia
de Letras", pontuou o prefeito de Salvador, antes da cerimônia. A Ministra
da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Barrios,
também esteve no evento.
Mais nova de quatro irmãos, Mãe
Stella é considerada a sucessora de Mãe Menininha do Gantois (Maria Escolástica
da Conceição Nazaré), um dos maiores nomes da religião africana no Brasil.
Nascida em maio de 1925, na capital baiana, exerceu a profissão de enfermeira
sanitarista por 35 anos. Hoje, em seu terreiro, funciona também a Escola
Municipal Eugênia Anna dos Santos, que atende a cerca de 350 crianças do ensino
fundamental. Ao todo, cerca de 100 famílias vivem na área do Ilê Axé Opó
Afonjá.
Antes de se tornar imortal, Mãe
Stella também recebeu a comenda Maria Quitéria, honraria da prefeitura de
Salvador, a Ordem do Cavaleiro, do governo do estado, e a comenda do
Ministério da Cultura, pelos seus serviços prestados à cultura nacional.
Imortal
A mãe-de-santo recebeu 22 votos dos acadêmicos em sessão realizada no dia 25 de abril, que tinha como objetivo de escolher o novo nome para vaga deixada pelo historiador Ubiratan Castro, que morreu em janeiro.
Mãe Stella foi comunicada pelo
presidente da Academia, Aramis Ribeiro Costa, quando aceitou o convite.
"Acredito que é a primeira vez que uma mãe-de-santo entra em uma Academia
de Letras. Isso é absolutamente pioneiro, não tenho conhecimento disso em
nenhuma outra do Brasil ou do mundo. Representa o reconhecimento de uma
cultura, de uma raça e da história de um povo. É uma figura notável",
comemorou na ocasião.
Além do poeta Castro Alves,
patrono da cadeira 33, o posto já foi ocupado por nomes como Francisco Xavier
Ferreira Marques, Heitor Praguer Frois, Waldemar Magalhães Mattos, além de
Ubiratan, que era presidente da Fundação Pedro Calmon. A Academia de Letras tem
96 anos e 40 membros, entre eles João Ubaldo Ribeiro, José Carlos Capinan,
Myrian Fraga, Cid Teixeira, Ruy Espinheira Filho, Consuelo Pondé, Hélio
Pólvora, Florisvaldo Matttos e Edivaldo Boaventura.
Fonte: http://g1.globo.com
Comentários