Eventos debatem religiosidade afro-brasileira – Por Cleidiana Ramos
Membros das religiões
afro-brasileiras vão realizar, a partir da próxima terça-feira, 24,
mais uma edição de um evento marcante:
III Encontro de Nações de Candomblé
Realizada pela primeira vez em
1981, a reunião este ano tem a novidade de contar com a representação das
tradições de outra regiões da Bahia, como o jarê e o pegi, originários da
Chapada Diamantina e Jacobina, respectivamente.
De forma simultânea vai acontecer
o I Simpósio de Estudos da Religião Afro-Brasileira. Os eventos serão na
Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Terreiro de
Jesus.
O simpósio
apresentará estudos do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e
Africanos da Ufba, sediado no Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao),
instituição promotora das duas iniciativas.
"O encontro ganhou uma
dimensão que está nos surpreendendo", diz Márcia Santos que, ao lado
de Lindinalva Barbosa e dos doutores em antropologia Cláudio Pereira e Jeferson
Bacelar, forma a comissão organizadora.
"Será um espaço onde os
religiosos de matriz africana vão atualizar as discussões de interesse e ter
notícias da diversidade que caracteriza a prática religiosa", aponta
Lindinalva Barbosa. Ela também destaca a presença de jovens pesquisadores no
simpósio.
"O interessante é que muitos
deles também são de candomblé", completa. Para Jeferson Bacelar, será
a oportunidade de perceber como o candomblé está lidando com questões atuais.
"O candomblé tem uma dinâmica muito interessante, tanto interna como
externa. Mesmo mantendo tradições, ele precisa dialogar com o
moderno", diz.
Homenagem
Escolhido para ser homenageado, o doutor em antropologia e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Júlio Braga, vai realizar uma palestra intitulada: O Antropólogo na Encruzilhada, tema de um dos livros dele.
Escolhido para ser homenageado, o doutor em antropologia e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Júlio Braga, vai realizar uma palestra intitulada: O Antropólogo na Encruzilhada, tema de um dos livros dele.
"É uma reflexão a partir de
uma pergunta que sempre me faziam. As pessoas consideram contradição pesquisar
a religião que se professa. Cada vez que me perguntavam sobre isso tinha
vontade de xingar. Para não fazê-lo, preferir escrever", conta Braga, em
meio a gargalhadas. Ele tem extensa produção sobre o candomblé, inclusive
livros que se tornaram clássicos, como O Jogo de Búzios .
A saudação inicial aos dois
eventos será feita pela ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi. Já a conferência de abertura do
simpósio terá Vagner Gonçalves como palestrante. Para participar é necessário
fazer inscrição no Ceao, que fica no Largo 2 de Julho. Para ver a programação
acesse: www.ceao.ufba.br
Povo de santo não foge à
discussão
O I Encontro de Nações de
Candomblé, realizado em 1981, nasceu da ideia de um curso de extensão sobre as
religiões afro-brasileiras. Na primeira edição, já foi comemorada a
participação de representantes da nação angola que foi pouco mencionada nos
estudos clássicos.
A palestra de abertura do encontro foi feita pelo antropólogo Vivaldo da Costa Lima, autor do texto clássico sobre o uso do conceito de nação para definir as tradições do candomblé.
Os demais palestrantes foram escolhidos a partir de sugestões do povo de santo. O patrono foi o orixá Ogum. O segundo encontro foi realizado em 1995 e teve como patrono o orixá Oxóssi. Esse ano, Xangô foi escolhido como o regente do evento.
A reunião para discutir as
tradições é uma prática antiga no candomblé baiano. Mesmo quando a organização
parte de pesquisadores, o povo de santo deixa uma marca muito forte.
Manifesto
Foi assim no II Congresso Afro-Brasileiro. Sediado em Salvador, o congresso foi organizado por Édison Carneiro, Aydamo Couto Ferraz e Reginaldo Guimarães, em 1937, mas não teria acontecido sem a colaboração do babalaô Martiniano do Bonfim, e contou com um texto de Mãe Aninha sobre culinária ritual.
De 17 a 23 de julho de 1983, foi realizada na capital baiana a II Conferência Mundial da Tradição Orixá e Cultura. O evento gerou um manifesto, liderado por Mãe Stella, defendendo a autoafirmação do candomblé como religião.
Fonte: http://atarde.uol.com.br
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