'Les terrasses' encerra competição no festival de cinema de Veneza
'Les terrasses', do cineasta
franco-argelino Merzak Allouache, um retrato das esperanças e contradições da
sociedade argelina a partir dos telhados de Argel, encerra nesta
sexta-feira(6/9) a disputa oficial da
70ª edição do Festival de Cinema de
Veneza.
O autor de 'Xuxu' (2003), de 67
anos, que vive na França, voltou à sua cidade natal para filmar em cinco
bairros de Argel as diferentes faces do país, com sua violência cotidiana.
Allouache, entre os diretores mais produtivos do cinema árabe, com várias participações
no Festival de Cinema de Cannes, aborda histórias sombrias, ao ritmo da canção
do muezzin, o encarregado de anunciar em alta voz a hora das cinco preces
diárias do Islã, tendo como pano de fundo a mítica cidade branca, com seu mar
azul e seu horizonte sugestivo.
O diretor descreve cinco personagens principais: a mãe rejeitada pela família, que vive sozinha com seus filhos, um viciado em drogas, jovens músicos que se preparam para tocar, um pregador religioso e um homem que tortura seu irmão.
O diretor descreve cinco personagens principais: a mãe rejeitada pela família, que vive sozinha com seus filhos, um viciado em drogas, jovens músicos que se preparam para tocar, um pregador religioso e um homem que tortura seu irmão.
As
cinco histórias se cruzam em cinco terraços durante um único dia: o homem
torturado se recusa a assinar um documento misterioso, uma menina tenta manter
um relacionamento com seu tio, trancado em uma jaula no telhado por motivos
secretos, o dono do prédio desaparece após tentar jogar uma idosa que vive
ilegalmente no telhado, o grupo de jovens presencia a tragédia de uma mulher no
terraço ao lado...
"Argel é construída sobre
colinas. Os terraços da cidade sempre tiveram um papel importante, são facilmente
vistos. Queria trabalhar a partir dessa perspectiva", explicou o cineasta,
durante uma conversa com a AFP.
"As coisas estão piorando, apesar de ainda
não termos chegado à situação do Egito, com pessoas que vivem em
cemitérios", diz ele.
"Por algum tempo tenho
trabalhado sobre esta sociedade, doente por anos de terrorismo e violência
absoluta. Desde 1999, a amnésia reina, não se fala sobre o que aconteceu, a
questão é rejeitada", diz o diretor.
No filme, a religião é onipresente e,
ao mesmo tempo, destoa com os problemas diários das pessoas: o pregador é um
símbolo dos desvios de caráter e do abuso da ignorância, especialmente com as
mulheres.
"As chamadas para a oração
parecem ser inúteis, fazem parte do barulho da cidade", diz Allouache,
preocupado com o elevado número de jovens desempregados que veem a vida passar
em um país que, apesar de ser muito rico, graças ao petróleo, é marcado por
enormes desigualdades. "Os jovens têm cada vez mais reivindicações São
revoltas causadas por problemas sociais, pela falta de água, de moradia",
diz o diretor de "Harragas" (2009), se referindo ao êxodo de centenas
de argelinos para a Europa.
"A Argélia sofreu violência
tão brutal que ficou isolada. Hoje em dia os argelinos observam a olho nu o que
acontece no mundo árabe porque têm a impressão de que já passaram por
isso", explica.
"A sociedade argelina precisa evoluir, precisa de
mudanças democráticas, que só podem ser realizadas através de um debate",
argumenta o diretor, que deseja, acima de tudo, contar a realidade de seu país
de nascimento.
Fonte: http://divirta-se.uai.com.br
Comentários