Morreu Alfredo Dinis, o filósofo das pontes entre ciência e religião – Por José Paulo Silva

Alfredo Dinis, padre jesuíta, ex-director da Faculdade de Filosofia de Braga, faleceu anteontem à noite, vítima de leucemia. 

O funeral deste filósofo atento ao desenvolvimento das neurociências e da inteligência artificial realiza-se hoje, precedido de duas missas, uma às 10 horas, na Igreja de São Vicente, em Braga, e outra às 17 horas, na Igreja Paroquial do Tramagal, Abrantes, terra onde nasceu.

“O grande desafio que se coloca ao Cristianismo é ter um discurso que prescinda de distinguir entre o material e o sobrenatural, o emanente e o transcendente. A ciência actual prescinde destes dualismos e se o Cristianismo não consegue um discurso intelegível para os homens de hoje, que estão muito dominados pelas ciências, cada vez mais as pessoas percebem cada vez menos o senhor padre que está a fazer uma homilia sobre o sobrenatural e o transcedente”, confessava Alfredo Dinis, em 2005, numa entrevista ao Correio do Minho, no início do seu segundo mandato como director da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa.

Intelectual de méritos reconhecidos, Alfredo Dinis destacou-se no debate sobre a relação entre a fé e a ciência. O sacerdote participava assiduamente em conferências e em discussões em blogues especializados sobre esta matéria. José Frasão, superior da comunidade jesuíta Pedro Arrupe, à qual Alfredo Dinis esteve ligado, revelou a dignidade como o sacerdote lidou com a doença fatal.

“O modo confiado como viveu a sua doença, desde Novembro do ano passado, marcou-nos a todos os que pudemos acompanhá-lo neste percurso. Há dias, depois de se ter confessado e de ter comungado, assegurou-me que estava em paz, preparado para que o Senhor o chamasse”, declarou José Frasão à Rádio Renascença.

Alfredo Dinis morre aos 61 anos e estava prestes a completar 40 com a comunidade jesuíta. 
Antes de se licenciar em Filosofia e Humanidades na Faculdade de Filosofia de Braga, estudou Economia. 

Talvez por influência desse seu início de percurso académico, constatava que “a religião vê-se muitas vezes como uma coisa desligada da vida, uma coisa que se limita às procissões, às promessas, às velas, aos santos…”. Defendia, por isso, que “a religião tem que ver com a vida das pessoas, com justiça, com a verdade, com a transparência, com honestidade”.




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