A Angola proibiu o islamismo? – Por Guilherme Dearo
Uma polêmica tem dominado a pauta
angolana e do mundo islâmico nos últimos dias: teria sido o país africano o
primeiro do mundo a banir a religião islâmica?
Após diversos veículos de
imprensa africanos noticiarem o fato, o governo angolano negou a informação,
mas também não explicou muita coisa.
O site Ango Notícias já
noticiara, em setembro, que a comunidade islâmica no país reclamava de
perseguição religiosa. Contudo, a polêmica só ganhou força em
novembro.
Tudo começou no dia 22, quando o jornal marroquino La Nouvelle
Tribune, em francês, trouxe uma fala da ministra da Cultura de Angola,
Rosa Cruz e Silva. Segundo ela, “o processo de legalização do islamismo não foi
aprovado pelo Ministério da Justiça e Direitos Humanos. As mesquitas poderão
ser fechadas”.
Pouco antes, em outubro, o
governo angolano indeferira os pedidos de 194 organizações religiosas para
serem reconhecidas, entre eles o da Comunidade Islâmica de Angola (COIA). No
país, a legislação determina que cada organização se registre junto ao
Ministério da Justiça. Para isso, precisa provar a existência de 10 mil fiéis.
Logo em seguida, diversos sites
internacionais reproduziram a notícia, chegando aos ouvidos de nações
islâmicas. O líder religioso do Egito, o mufti Shawqi Allam, disse que o fato
“seria uma provocação não somente aos muçulmanos angolanos, mas a todos os 1,5
bilhão de muçulmanos espalhados pelo mundo”, conforme noticiou a AFP.
O jornal angolano O País denunciou
que 60 mesquitas já tinham sido fechadas e que só restavam os templos de
Benguela e Luanda. A fonte do jornal relatou que todas foram fechadas sem aviso
prévio.
Ao site RTP, David Já,
presidente da Comunidade Islâmica de Angola, disse que desde 2006 as mesquitas
estão sendo destruídas. Em 2011 e 2012, os casos diminuíram, mas voltaram em
2013.
Por fim, a notícia ganhou ainda
mais força quando, no domingo (24), o jornal nigeriano Osun Defender trouxe
uma fala do presidente angolano, José Eduardo Dos Santos. “Esse é o fim da
influência islâmica em nosso país”, teria dito. A maioria da população angolana
é católica, mas cerca de 80 mil são muçulmanos.
O governo desmente tudo
À Agência AFP, o diretor do
Instituto Nacional para Assuntos Religiosos, Manuel Fernando, negou as
informações. “Não há em Angola guerra alguma contra o islã ou outra religião. E
não temos posição oficial sobre o fechamento e destruição de mesquitas”, disse
à AFP.
O Ministério da Cultura afirmou
ao site que as mesquitas fechadas não tinham os registros de terra adequados,
licenças de construção ou outros documentos oficiais.
O Internacional Business
Times também relatou que a embaixada angolana em Washington DC, Estados
Unidos, negou as informações.
“A República de Angola é um país que não
interfere na religião. Temos muitas religiões e há liberdade de escolha”, disse
a embaixada ao site. “Estamos lendo tudo isso só na
Internet, como vocês. Não temos nenhuma prova de que essas notícias sejam
verdadeiras”, completaram.
O Internacional Business Times
levantou a suspeita de que as informações dos jornais angolanos e africanos e
de muitos sites de notícias voltados para o mundo islâmico, podem não ser tão
confiáveis assim.
Uma foto de uma mesquita sendo
destruída está sendo usada repetidamente por vários sites africanos. A foto é
descrita como a destruição de um templo angolano em outubro de 2012.
Contudo, uma pesquisa no Google
Images revela que a foto é usada na Internet desde 23 de janeiro de 2008, pelo
menos, e que seria de uma mesquita em Israel. A notícia teria se espalhado
rapidamente no mundo árabe graças ao site On Islam.
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