Candidatos a prefeito de Nova York prometem abertura às religiões - Por Javier C. Hernández

Muçulmanos querem acrescentar feriados religiosos ao calendário escolar. Cristãos fazem pressão para usar ginásios e auditórios escolares para cerimônias religiosas. 

Judeus ultra-ortodoxos querem que a prefeitura deixe de regulamentar um ritual tradicional de circuncisão. Depois de 12 anos com um prefeito que não fez concessões a grupos religiosos, Nova York está prestes a mudar.

Os dois candidatos mais cotados à prefeitura, Bill de Blasio, democrata, e Joseph J. Lhota, republicano, prometeram romper com a linha do prefeito Michael R. Bloomberg sobre uma série de questões na intersecção de governo e religião. Dizem que vão incluir no calendário dois dos mais importantes feriados religiosos muçulmanos, permitir a realização de serviços religiosos em imóveis escolares e trabalhar com lideranças judaicas para reduzir a supervisão da prefeitura sobre os rituais de circuncisão.

Michael Bloomberg é conhecido por suas medidas inovadoras que transformaram o cotidiano de Nova York: ciclovias, proibição de fumar em certos locais e boletins de escores de restaurantes. Mas é menos reconhecido por outro elemento que o caracterizou como prefeito: a separação rígida entre as questões religiosas e o Estado.

Durante sua prefeitura, Bloomberg se negou a incluir clérigos nas cerimônias que recordam o 11 de setembro, e em uma ocasião ele foi contra uma iniciativa de ampliar o serviço de ônibus para alunos de uma escola judaica.

Em 2009, citando a perda de tempo de ensino que resultaria, ele rejeitou uma resolução da Câmara de Nova York que incluiria dois feriados islâmicos ao ano letivo. Mas Bloomberg também defendeu a liberdade religiosa, tendo em 2010 apoiado vigorosamente uma proposta de construção de uma mesquita próxima do Ponto Zero.

Agora, com um novo prefeito chegando, grupos religiosos têm listas compridas de pedidos a fazer. Um deles é que os locais religiosos tenham direito a verbas federais de auxílio emergencial no caso de furacões (isso não acontece no momento) e que escolas religiosas tenham direito a seguranças pagas pelo poder público.

Os candidatos cortejaram os eleitores religiosos, participando de fóruns em centros comunitários judaicos, visitando mesquitas e discursando em igrejas.

"Há uma abertura aqui que não foi vista com Bloomberg", comentou James R. Kelly, professor de sociologia na Universidade Fordham. "Eles estão indicando uma disposição de aproximação, de inclusão." Tanto Di Blasio quanto Lhota nasceram em famílias ligadas à Igreja Católica.

De Blasio, que não frequenta a igreja, foi criado sem referências religiosas. Seu pai era cético em relação à religião organizada, e sua mãe, filha de imigrantes italianos, deixou a Igreja Católica quando era jovem.

Solicitado a descrever sua posição religiosa, De Blasio consultou sua mulher, Chirlane McCray, e então respondeu com uma frase: "Em risco". "Tenho uma filosofia de vida muito forte e que não é religiosa", disse De Blasio. "Tenho minha própria espiritualidade, mas ela não assume a forma de nenhuma religião em particular."

Mas ele disse que, mesmo assim, se sente atraído por alguns aspectos do cristianismo e que admira o modo como grupos religiosos combatem problemas como a pobreza e a fome. Quando jovem, ele se interessou por um movimento da Igreja Católica conhecido como teologia da libertação, que enfatiza a ajuda aos pobres por meio da ação social. Depois de concluir a universidade, trabalhou para um grupo católico de justiça social que dava ajuda humanitária à Nicarágua.

Lhota cresceu como católico e estudou em colégios católicos, embora sua avó materna fosse judia. Sua família frequentava a igreja regularmente, mesmo nas férias. Ele se casou com uma protestante evangélica, Tamra Roberts, e hoje os dois frequentam a igreja episcopal All Angels', em Manhattan.

Lhota, que já foi ouvido citando versículos do livro de Levítico durante a campanha, é um dos maiores doadores de sua igreja. "Minha religião faz parte de minha vida", disse.

Lhota diz que sua fé se fortaleceu após os ataques de 11 de setembro, época na qual o prefeito de Nova York era Rudolph Giuliani e ele era vice. "As pessoas são intrinsecamente religiosas", ele declarou em entrevista de 2002 publicada pela Sociedade Bíblica Americana. "É lamentável que seja preciso algo como isto para evocar a presença de Deus."

Como vice-prefeito, Lhota se envolveu numa controvérsia religiosa quando Giuliani ameaçou cortar as verbas do Museu do Brooklyn porque o museu expôs um retrato da Virgem Maria feito em parte com estrume de elefante. Lhota se disse ofendido pelo quadro, que considerou um sacrilégio.





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