Pioneiros na educação religiosa, jesuítas influenciaram o sistema atual

Ainda levantando muitas polêmicas, a educação religiosa no Brasil começou pouco depois da chegada dos portugueses ao novo mundo, ainda no Século 16. Os pioneiros na educação religiosa no país foram os jesuítas, que chegaram à colônia em 1549.

 “As primeiras escolas jesuítas foram criadas a partir de 1550, e os objetivos eram o do ensino da cultura portuguesa e dos princípios da fé católica”, diz Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho, doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). 

Ainda sobre as intenções dos jesuítas, Guilherme Motta, doutorando em História Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do curso de História da Universidade Veiga de Almeida (UVA), explica: 

“O movimento de contrarreforma dominava a Europa, havia forte tendência de expansão das religiões protestantes. A perspectiva de novos povos em outros lugares era uma oportunidade de aumentar a base de fiéis da Igreja Católica. Isso sem falar, é claro, na estratégia de interação com os colonizados”.

“Não havia um compromisso com a história, era mais importante passar os valores católicos do que qualquer outra coisa. Uma sociedade difusa, diversa se formava e, para os colonizadores, seus valores tinham que prevalecer. Valores esses católicos” afirma Motta.

O professor acredita que o modelo de ensino jesuítico tenha influenciado o atual. “O sistema educacional ainda é muito parecido com o dos jesuítas. Professores são emissores de verdade, os alunos só absorvem. Mas, há uma tendência de mudança. O professor está, ainda que lentamente, não mais só ensinando, mas sim estimulando, instigando o aluno a aprender. O senso crítico dos alunos está cada vez mais sendo estimulado”, completa.

Com a expulsão dos jesuítas de Portugal e das colônias portuguesas, em 1759, outras ordens religiosas passaram a ser responsáveis pelo ensino religioso no Brasil. Após a proclamação da República, na Constituição de 1891, o estado passa a ser laico, ou seja, fica decretada a liberdade plena de culto e a laicidade nos estabelecimentos públicos de ensino.

Durante o Século 20, foram promulgadas quatro constituições, que deram diferentes tratamentos à questão. Em 1931, Francisco Campos, ministro da Educação e Saúde Pública, decretou a reintrodução do ensino religioso facultativo nas escolas públicas. 

Meinberg acredita que a medida não tenha contribuído para o estímulo da pluralidade religiosa. “Em um país encharcado de cultura católica até então, a diversidade de religiões não era muito contemplada”, afirma.

De acordo com ele, a Constituição de 1937 determinou que o ensino religioso poderia ser ou não ministrado nas escolas públicas, mas sem necessidade de frequência obrigatória de alunos ou de obrigação docente. 

“A Constituição de 1946 assegura o ensino religioso como disciplina obrigatória para os estabelecimentos públicos, ressaltando que o mesmo seja ministrado de acordo com a confissão religiosa dos alunos e através de matrícula facultativa. Este tipo de matrícula permanece nas Constituições posteriores, de 1967 e 1988”, diz.

Atualmente, diversas religiões possuem escolas onde suas ideias e doutrinas são ensinadas. “Existem, por exemplo, escolas em comunidades que cultuam o Santo Daime. Hoje em dia, além das faculdades ligadas a católicos, luteranos, presbiterianos e metodistas, dentre outras, temos uma faculdade de teologia umbandista localizada em São Paulo, o que demonstra uma abertura, ainda que lenta, à formação de outros níveis e tipos de ensino religioso no Brasil”, completa.






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